No encerramento do ano em que quase perdeu o mandato e em que viu aliados irem para a cadeia na esteira da Lava Jato, o presidente Michel Temer fez na noite desde dia 24 um pronunciamento em que não mencionou o tema corrupção.
Em cadeia de rádio e TV, o peemedebista se limitou a dizer que “2017 foi um ano de grandes desafios para todos nós” -repetindo quase na íntegra expressão que usou também em pronunciamento na noite de Natal de 2016 (“o ano que está terminando trouxe imensos desafios”).
A tônica do discurso de Temer foi exaltar números da lenta recuperação econômica verificada em 2017, sem citar dados negativos, como a expansão da projeção do rombo nas contas públicas para R$ 159 bilhões neste e no próximo ano -R$ 30 bilhões a mais do que previsto inicialmente para 2018.
“Não adotamos modelos populistas, nem escondemos a realidade. Nada de esperar por milagres e contar com salvadores da pátria. (…) Em um curto espaço de tempo colocamos a economia em ordem, saímos da recessão e temos as taxas de juros mais baixas dos últimos anos”, disse Temer.
Em sua fala, o peemedebista listou genericamente, em tom otimista, uma série de resultados que estariam sendo obtidos graças à sua gestão: “O Risco Brasil diminuiu e os investimentos estão de volta, a Bolsa de Valores registra alta após alta, o Produto Interno Bruto também. A safra sgrícola quebra recordes, a inflação está abaixo do piso, a balança comercial atingiu um superávit histórico, a indústria e o comércio dão sinais claros de revitalização.”
O PIB do terceiro trimestre de 2017 cresceu 0,1%, ficando praticamente estável em relação ao período anterior. O Codace (Comitê de Datação de Ciclos), grupo que reúne economistas para estudar os ciclos econômicos no Brasil, avalia que embora a recessão tenha terminado em dezembro de 2016 a principal dúvida é sobre a capacidade de o país manter a trajetória de recuperação em meio a incertezas em relação às contas públicas, o que pode voltar a disparar os juros, o câmbio e a inflação.
Temer também falou que a reforma trabalhista aprovada irá aumentar a geração de empregos. “Nos últimos meses mais de 1 milhão de novos postos de trabalho foram criados. Sabemos que o desemprego ainda é grande, mas esses números demonstram que estamos no caminho certo.”
Dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) divulgados em novembro apontavam saldo de 302 mil novos postos com carteira assinada de janeiro a outubro.
Temer dedicou o espaço final de sua fala para defender mais uma vez a aprovação da reforma da Previdência. Atual prioridade de sua gestão, a medida empacou no Congresso em 2017 e corre alto risco de não ser aprovada em 2018.
Apesar disso, Temer tentou demonstrar otimismo e fez pressão sobre deputados e senadores, que, segundo ele, “não faltarão ao Brasil”.
“Não é uma questão ideológica ou partidária, é uma questão do futuro do país e para garantir que os aposentados de hoje e os de amanhã possam receber suas pensões. O nosso país vizinho, a Argentina, num gesto consciente e de união pelo país, deu exemplo e acaba de aprovar a sua reforma. Tenho plena convicção de que os nossos parlamentares darão o seu voto e o seu aval para que isso também aconteça aqui. Tenho certeza que eles não faltarão ao Brasil.”
Nova tentativa de votação está marcada para 19 de fevereiro, na Câmara
LAVA JATO
Em maio estourou o escândalo da JBS, cujo ápice foi a revelação do teor da gravação de uma conversa entre Temer e o empresário Joesley Batista no Palácio do Jaburu.
O peemedebista chegou a ser aconselhado a renunciar. Nos meses seguintes conseguiu, com enorme movimentação da máquina pública para agradar aliados no Congresso, barrar na Câmara a tramitação de duas denúncias feitas pela Procuradoria-Geral da República.
Sua base de apoio entre os deputados, porém, que era de mais de 350 deputados no início de sua gestão, desceu a menos da metade dos atuais 513 parlamentares.
Em termos de popularidade, o peemedebista continua com resultados bastante ruins, apesar do tom otimista de seu pronunciamento.
No início do mês o Datafolha mostrou que Temer é rejeitado por 71% dos eleitores. Os que o aprovam somam apenas 5%.
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