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Notícias do Estado
| Em 1 ano atrás

Na luta contra um câncer agressivo, estudante goiano busca ajuda para conseguir visto para tratamento experimental nos EUA

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São duas as principais lutas de Oséias Dourado, estudante de Agronomia do Instituto Federal de Urutaí (IF): contra um câncer agressivo e o tempo. O acadêmico possui uma doença rara conhecida como Tumor de Frantz. O jovem se encheu de esperança quando foi aceito em um tratamento experimental inovador nos Estados Unidos, mas a demora para conseguir entrevista para concessão do visto está atrasando o processo e prolongando o sofrimento. A família pede ajuda.

Oséias possui um tipo de câncer originário no pâncreas, cuja característica é o crescimento rápido, e o tratamento experimental seria a última alternativa de remissão ou estagnação dos tumores. Aos 21 anos, ele já passou por uma cirurgia de retirada do primeiro tumor, que media 28 centímetros. Agora, luta contra a metástase de outros três tumores que apareceram no fígado, sem possibilidade de cirurgia. 

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História de vida

Vindo de uma cidade pequena do interior de Minas Gerais, chamada Manga, Oséias foi acolhido por colegas de faculdade e familiares de amigos, desde que chegou em Urutaí, para fazer o Ensino Médio no IF, aos 15 anos. Em maio de 2022, ele começou a sentir os primeiros sintomas.

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Os amigos, em especial a família do amigo Dante Cardoso, com quem Oséias morava, perceberam os primeiros sinais. A mãe de Dante, a  pedagoga Kelem Mesquista, conta que viu que algo não estava certo quando o jovem começou a sentir sintomas de gastrite e perder muito peso. As suspeitas se confirmaram com uma tomografia, solicitada por um médico amigo da família. Um tumor de 28 centímetros no pâncreas, caso cirúrgico e de urgência. 

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“Fizemos encaminhamento para o médico do Araújo Jorge, o cirurgião olhou e disse que precisava fazer a cirurgia para saber se era benigno ou maligno, porque até então, só sabíamos que era muito grande a massa. O abdômen dele já estava crescendo, ele já havia emagrecido uns 20 quilos, em dois meses”, conta Kelem. 

Com uma extensa fila de espera no atendimento cirúrgico do Hospital de Câncer Araújo Jorge (HAJ), Oséias precisou recorrer ao atendimento em hospital particular. “O Oséias era tão querido, que no final, várias pessoas foram ajudando e conseguimos pagar todos os custos do hospital e da cirurgia”, detalha a amiga.

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Oséias sentado ao lado dos avós, de pé os amigos, Kelen e Guilherme. Foto: Acervo pessoal

Tudo correu bem no procedimento, até Oséias começar a passar mal novamente. “Depois da ressonância, para ver se tinha ficado tudo bem da cirurgia, vimos que ficou tudo bem mesmo, só que, infelizmente, identificaram três metástases no fígado”, lembra a pedagoga. A partir daí, começou a luta para tentar um tratamento que surtisse efeito contra os tumores. “Em novembro ele começou com o tratamento no HAJ, com as quimios, fez seis químios consecutivas, seis semanas consecutivas de quimioterapia. Após as seis semanas a médica pediu exames de imagem para ver como estava a resposta das quimio, e os tumores dele haviam triplicado de tamanho, aumentado a quantidade”, relembra Kelem. 

Tratamento experimental

Mesmo fazendo todos os processos do tratamento quimioterápico, trocando protocolos e tentando outras alternativas, não houve evolução do caso e os tumores continuaram a crescer. “A gente tentou de tudo. Fui atrás de outros cirurgiões, outros oncologistas, todos os cirurgiões falaram que em termos cirúrgicos não tem o que fazer. Se não encontrar um medicamento ou um tratamento que vai reduzir ou estagnar o crescimento e a proliferação dos tumores, por que tem tumores e metástases que são em lugares que não são cirúrgicos, não adiantaria”, explica Kelem, que acompanhou todo o processo com Oséias. 

A nova esperança surgiu quando a pedagoga ficou sabendo, por meio de uma reportagem feita pela CNN em abril deste ano, de um tratamento experimental nos EUA que conseguiu a remissão completa de um câncer de próstata em estágio terminal. O médico brasileiro, Dr. Marc Abreu, membro do corpo docente da escola de medicina da Faculdade de Yale e especialista em termodinâmica cerebral e frequências termorregulatórias, juntamente de sua equipe, criou um tratamento chamado de Brain Thermal Tunnel (BTT), túnel térmico cerebral, em tradução para português. 

O experimento consiste na elevação da temperatura corporal do paciente, dentro de uma câmara, em um procedimento que funciona como uma espécie de indução de febre. A  tecnologia BTT  promove a elevação controlada da temperatura e estimula as chamadas proteínas de choque térmico, que ajudam a reparar proteínas danificadas nas células, incluindo as cancerígenas. 

Os amigos de Oséias entraram em contato com a equipe do pesquisador de Yale, enviaram os exames e fizeram todos os procedimentos clínicos exigidos, até que ele foi considerado apto para participar do estudo. Apesar dos custos elevados, essa é a última alternativa para o caso do jovem. “É um tratamento que pode custar de 39 mil dólares a 69 mil dólares, que é um tratamento experimental, que tem tido muitos bons resultados e, claro, não promete a cura, porque depende muito do organismo, da doença, de tudo. Mas, há a possibilidade”, afirma Kelem. 

Luta contra o tempo

Desde então, a grande dificuldade foi conseguir a documentação para que Oséias possa embarcar o quanto antes para os EUA.“O passaporte foi rápido, acho que não demorou nem cinco dias, sete no máximo. Aí nós demos entrada no visto. O visto só tinha vaga para entrevista em 2024, mas o médico mandou uma carta pedindo visto emergencial. Tentamos de tudo, mesmo com a carta pedindo visto emergencial do médico, só tinha vaga para o dia 27 de junho, agora”, afirma Kelem.

No quadro de saúde atual de Oséias, cada dia conta muito. “Cada semana que vem, fica mais difícil, porque ele já está ficando com dificuldade para respirar, os tumores vão crescendo, porque esses tumores dele crescem rápido, e tivemos que tomar uma decisão muito difícil de parar com a quimio, porque a quimio deixa ele muito debilitado para viajar, então a médica resolveu parar com a quimio para ele ficar mais forte para a viagem”, reitera Kelem. 

Conforme a amiga, eles já tentaram de tudo para acelerar o tempo de espera na fila do visto, mas sem sucesso. “Estamos parados agora nessa questão do tempo. Fomos atrás de tudo, atrás de políticos, deputados, pessoas influentes, já mandei os documentos que tem a data e horários, todos os dados necessários e ninguém conseguiu”, conta ela. “O maior problema agora é o fator tempo, é o visto”, acrescenta. 

Rede de apoio

Os colegas, professores e amigos do IF de Urutaí criaram uma campanha para arrecadar dinheiro e custear as despesas do tratamento e da viagem de Oséias. “Começamos com uma vakinha online e as pessoas foram procurando para doar. O pessoal do IF se mobilizou, um monte de empresas quiseram ajudar, fizeram bingo, rifas”, conta Kelem. 

Clique aqui para ajudar doando na vakinha online!

Aniversário de 21 anos de Oséias, ele ao centro cercado dos professores e amigos do IF. Foto: Acervo pessoal/ Gleina

A professora de fruticultura e nematologia, e coordenadora do curso técnico em agropecuária do IF, Gleina Costa, é uma das que se mobilizaram para ajudar o jovem. Oséias trabalhava com a professora antes do diagnóstico. De acordo com ela, ele é um menino especial. “O que mais chama atenção é que ele todo fraquinho, debilitado, ele sempre tenta com um sorriso no rosto. Sempre faz planos e não desiste”, destaca.

Para Gleina, o tratamento é um sopro de esperança. “Essa vontade que ele tem de viver é isso que faz a gente acreditar que esse tratamento vai dar certo e que a gente vai conseguir esse dinheiro, porque ele precisa conseguir esse dinheiro e precisa que esse visto seja conseguido em tempo hábil”, reitera. 

Amigos do IF fizeram homenagem raspando a cabeça. Foto: Acervo pessoal

Durante os primeiros anos de graduação, Oséias cortava o cabelo dos colegas para ganhar um dinheiro extra. Quando iniciou as quimioterapias e o cabelo começou a cair, os amigos, como forma de manifestar o apoio e carinho, rasparam a cabeça em homenagem a ele. 

“Nunca vimos o difícil como limitador. Até quando ele estava muito sensível. Tem muita gente que desiste no meio do tratamento, porque é tudo muito difícil, mas o impossível não existe para nós”, pontua Kelem. “Ele quer viver!”, acrescenta. 

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Luana Cardoso

Atualmente atua como repórter de cidades, política e cultura. Editora da coluna Crônicas do Diário. Jornalista formada pela FIC/UFG, Bióloga graduada pelo ICB/UFG, escritora, cronista e curiosa. Estagiou no Diário de Goiás de 2022 a 2024.