O museu que leva o nome de Pelé, localizado no centro histórico de Santos, no litoral paulista, fechou parceria com empresa argentina para se reinventar e assim conseguir atrair mais público. Com 640 itens pessoais do antigo camisa 10 em seu acervo, o equipamento que jamais justificou os altos valores para abrir as portas, há pouco mais de três anos, agora recorre a um socorro curioso para não fechar.
“A rivalidade é estritamente esportiva. Em projetos desta natureza o que realmente importa são as qualidades de cada artista”, explicou Daniel Gazzo, presidente e CEO da Museos Desportivos.
O projeto acertado com a empresa sediada em Buenos Aires, reconhecida por trabalhos na área de museologia, foi feito pela prefeitura da cidade, responsável pela administração do local desde março do último ano, mas costurada pelo próprio Pelé.
Eles contam na equipe com arquitetos, historiadores, cenógrafos e já montam, desde o último mês, o projeto de renovação total na exposição do Museu.
“Vimos que o Museu perde muito para outros equipamentos públicos da cidade, então fomos buscar quem mais entende do assunto. Estávamos em um momento complicado e os convencemos a iniciar um projeto”, contou o secretário de cultura de Santos, Rafael Leal.
Criada em 1998, a Mude, como é conhecida, teve como primeiro trabalho a criação do Museo de la Pasión Boquense, o reduto do Boca Juniors, inaugurado em 2001. O local virou um sucesso recebendo mais de 5 milhões de visitas no período, 365 mil só no último ano.
O Boca credenciou a empresa a trabalhar, justamente, com o River Plate, maior rival. Depois, houve um salto internacional com o histórico estádio de Wembley, na Inglaterra, além de poderosos europeus como Benfica (POR) e Juventus (ITA).
“O desejo é transformar o Museu Pelé em um dos lugares mais atraentes e modernos do mundo. Ele está localizado em uma construção maravilhosa, mas hoje não é atraente, não conta nenhuma das milhares e emocionantes histórias únicas de um ícone do futebol brasileiro. Não emociona”, disse Gazzo.
Um dos novos espaços divulgados explora, justamente, a emoção. Um rádio que foi do pai de Pelé, e que hoje passa batido entre as peças, vai virar protagonista. A ideia é criar um ambiente contando a sua história.
O ex-jogador relaciona o objeto ao pai chorando após a derrota do Brasil para o Uruguai na final da Copa de 1950.
O cenário deve ser construído em uma sala toda escura, apenas com o rádio iluminado. Em meio aos relatos da época da derrota, em som ambiente entrará gravação da frase do então garoto de dez anos, Edson Arantes do Nascimento: “não chore, pai, vou vencer uma Copa para você”. A partir disso, serão iluminados os momentos marcantes de cada uma das três Copas vencidas pelo ex-atleta.
O modelo segue o padrão de outros espaços confeccionados pelos argentinos. No do Boca, o grande chamariz é a sala chamada “um espetáculo em 360 graus”, em que é transmitido um filme que faz o torcedor viver o sonho de jogar em La Bombonera lotada.
No Benfica, há “a viagem à paixão benfiquista”, um elevador que descreve toda a história do clube.
Atualmente, o Museu é somente o sexto equipamento público mais visitado na cidade de Santos. Recebeu no último ano pouco mais de 50 mil pessoas ficando atrás do Aquário Municipal, do Museu do Café, do Orquidário Municipal, do Bonde Turístico e até do Memorial das Conquistas, do Santos Futebol Clube.
O prazo da empresa para entregar as novas ideias é entre julho e agosto. Se aprovadas, as construções serão iniciadas em setembro, com estimativa de conclusão para março de 2018. Tudo sem fechar as portas.
O preço de tudo isso ainda é uma incógnita. A prefeitura diz que não utilizará verba pública. A ideia é recorrer a parceiros e a recursos restantes como o do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), do qual tem cerca de R$ 800 mil em caixa.
“Não podemos dar um passo maior que a perna, estamos entendendo o tamanho do projeto”, assegurou Leal.
Até o momento, o projeto inicial foi custeado pelo argentino Pepe Altstut, empresário do ramo funerário de Santos e amigo pessoal de Pelé.
De acordo com a própria empresa argentina, as partes definirão, posteriormente, como será feito o pagamento. Em boa parte dos acordos, a Mude fica com um percentual da bilheteria por um período não inferior a dez anos. (Folhapress)