Duas vezes medalhista olímpico de prata com a seleção brasileira masculina de vôlei, Murilo, 36, disse ter a “consciência tranquila” diante do flagrante em exame antidoping feito no último dia 10 de abril e cujo resultado positivo foi revelado pelo jornal “O Globo” na semana passada. Ele, no entanto, reconheceu que a ocorrência “mancha a imagem do atleta”.
Análise feita a pedido da FIVB (Federação Internacional de Vôlei) constatou a presença do diurético furosemida em amostra do ponta, que também foi duas vezes campeão mundial com a equipe brasileira (2006 e 2010).
A substância serve para ajudar na perda de peso, mas também pode mascarar agentes mais potentes como esteroides e hormônios.
Agora, Murilo aguarda a abertura da contraprova do exame, o que deve ocorrer nas próximas duas semanas no Canadá.
“Eu sinceramente estou com a consciência tranquila. Minha preocupação é como isso deu positivo. Sempre prezei bastante pela transparência. Seria fácil enviar uma nota oficial, pedir paciência e esperar a amostra B. Mas achei bom vir, falar no olho”, disse o jogador gaúcho em entrevista coletiva na sede de seu clube, o Sesi-SP.
“Não estou tentando me esconder, não quero fugir. O fato de estar aqui é que quero resolver isso.”
Murilo, que não disputou os Jogos do Rio, disse que o teste que resultou em seu flagrante foi feito em sua casa, o que jamais havia ocorrido antes em sua carreira.
“Eu fiquei muito surpreso. Recebi a notificação no dia 4 de maio, um depois do meu aniversário. Acordei, abri o e-mail e estava lá que havia dado positivo para furosemida. Já passei por inúmeros testes nos últimos 15 anos e sempre fiz muito tranquilo.”
Caso a contraprova confirme o resultado preliminar, ele pode ser suspenso por até dois anos.
“Um caso de doping sempre é difícil para o atleta. O doping sempre vem à cabeça das pessoas como esteroide, anabolizante. Que leve vantagem sobre o adversário. Acaba, sim, manchando a imagem de qualquer atleta”, prosseguiu.
Murilo terá como advogado Marcelo Franklin, que já atuou nas defesas dos nadadores Cesar Cielo, Nicholas Santos, Vinícius Waked -também flagrados com furosemida- e Henrique Barbosa e da velocista Ana Cláudia Lemos. Todos tiveram penas reduzidas ou levaram advertências.
Franklin disse ter se surpreendido com a divulgação da primeira amostra antes da abertura da contraprova, o que seria divergente com os preceitos antidoping.
“O caso do Murilo é de excepcionalidade porque o resultado da mostra A foi divulgado antes da B, e a imagem do atleta deveria ter sido preservada até a amostra B”, disse o advogado, que não quis adiantar a estratégia de defesa.
Embora não tenham afirmado o que poderia ter causado o resultado positivo, ambos indicaram que ele pode ter a ver com consumo de suplementos. Murilo disse fazer uso de substâncias para recuperação.
“Todo atleta usa suplementos. Nunca me preocupei quanto a isso. Sempre foi mais para estar apto a treinar. Eu consumo, 100% dos atletas necessitam dessa suplementação”, comentou o atleta, que renovou o contrato com o Sesi por mais uma temporada e vai atuar como líbero.
Eleito melhor do Mundial de 2010, ele disse ter recebido apoio da mulher, a também jogadora Jaqueline, que também teve um caso de doping na carreira. Ela foi flagrada com a substância sibutramina às vésperas dos Jogos Pan-Americanos do Rio-2007 e ficou dois meses suspensa.
“O caso da Jaque, na época, foi muito difícil. O choque foi grande para ela. Mas tudo se resolveu e o tempo acaba ajudando bastante. Ela continuou defendendo a seleção, clubes na Itália e aqui [no Brasil]. Está me dando todo apoio porque passou por isso”, concluiu.