Ao contrário do que muitos dizem, mulher não é sinônimo de fragilidade, medo e fraqueza: mulher é força, vontade e combate no quesito pessoal e profissional. E este oito de março, é marcado por diversas figuras que demonstram não apenas coragem, mas amor ao próximo na luta contra a pandemia da Covid-19, que assola o mundo e deixa cada dia mais vítimas no Brasil. Já são mais de 265 mil óbitos desde o início da pandemia e contando…
Guardar no bolso o medo da contaminação, da morte ou de contagiar um familiar, para cuidar do bem geral, não é uma tarefa fácil. Poderíamos dizer, em outros tempos, se tratar de atividade para homens. No entanto, há atualmente guerreiras, goianas, que apesar de não verem a hora desse pesadelo acabar, colocam vezes sim, vezes não, um batom por debaixo da máscara e vão, com foco e determinação, atuar na linha de frente do combate ao maior inimigo do momento.
Rosimar Gomes, enfermeira no Hospital Anis Rassi, foi procurada pela reportagem do Diário de Goiás no exato momento em que estava encaminhando um paciente com Covid para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI). O contato foi retomado momentos depois e assim que pôde, parou para explicar sua luta, que é diária e ainda não tem um dia certo para acabar. “Sinto muito quando estou atendendo na triagem da emergência. Vejo cada paciente mais grave que outro, todos precisando de atendimento rápido, não temos leito para colocar, somos agredidos verbalmente, como se culpados fôssemos nós, profissionais da saúde”, disse.
Questionada sobre como se sente ao contribuir para salvar vidas, a profissional afirmou se sentir “um ser humano abençoado por Deus”, por poder cuidar de pessoas neste momento. “Isto é ser guerreira ou ser anjo?”, ponderou Rosimar, que atua na linha de frente do combate à doença, desde a sua chegada em Goiânia. “Pandemia no início para mim era algo incerto. Como seria o atendimento aos pacientes, como se proteger para não contaminar e não contaminar nossos familiares. Tivemos que estudar passo a passo, para colocar em prática em tão pouco tempo”, declarou.
Após ver vários pacientes chegarem à unidade com a doença e observar colegas contaminados, Rosimar também contraiu o vírus da Covid-19 e enxergou a doença também com o olhar de paciente. “Quando você não sabe o que pode acontecer com passar dos dias, é tranquilo. Quando você sabe da realidade, que no nono dia e décimo terceiro dia você pode agravar, o medo é constante”, relatou a profissional que, apesar de temer pela vida, se afastou dos familiares, aguardou o tempo prescrito em isolamento, e retornou ao trabalho assim que pôde, depois de curada.
Hoje, com praticamente um ano de pandemia em Goiânia, Rosimar afirma que, em geral, todos profissionais estão exaltados e não aguentam mais ver vidas sendo perdidas para a doença. “É triste a realidade. Estamos lutando com todas nossas forças e com fé em Deus, vamos vencer. Cada vida que salvamos é gratificante, cada vida que perdemos, a sensação é de impotência. O Brasil ainda não chegou ao fim desta doença, porque as pessoas não acreditam, acham que é exagero da saúde, da política, do jornalismo”, lamentou.
Do outro lado do combate à doença, porém não tão distante, está Bruna Sales. A agente prisional, do Complexo de Aparecida de Goiânia não parou, desde que começou a pandemia. Com vários presos contaminados pela Covid-19, a profissional que faz, inclusive, a escolta de infectados a hospitais, afirmou que apesar do medo, segue com garra, na tentativa de vencer o vírus, tomando os devidos cuidados e orientando os presidiários a fazerem o mesmo.
“Lá têm muitos presos contaminados e vivemos essa realidade diariamente, tentando lutar contra essa doença terrível. Muitos agentes pegaram a doença. A situação que me coloco neste momento não é necessariamente de medo, mas de coragem e força por estar entre as pessoas que lutam na linha de frente a essa pandemia. Os presos são devidamente orientados com os EPI ‘s (Equipamentos de Proteção Individual) e os cuidados são de acordo com a necessidade de cada um. Todos os meios necessários para evitar a propagação do vírus são tomados diariamente, tanto pelos servidores, quanto pelos presos”, relata.
Quando se formou em fisioterapia, no ano de 2019, Fernanda Lugma não imaginava que precisaria enfrentar tamanho desafio. Pelo menos, não em tão pouco tempo. No entanto, se viu enfrentando, em poucos meses de formação, por amor à profissão e à vida do próximo, um dos seus maiores desafios, quando foi chamada para atuar no Hospital Municipal de Aparecida de Goiânia (Hmap), principalmente na parte cardiorrespiratória dos pacientes que, de acordo com a profissional, é a mais comprometida pela Covid-19.
“Eu jamais imaginei estar trabalhando na minha área em um momento tão importante como esse, principalmente por ter iniciado o serviço recém-formada. Completei um ano em agosto do ano passado e iniciei no Hmap no dia 09 de maio de 2020. Quando foi decretado pandemia e os profissionais de saúde estavam sendo recrutados para o serviço no início de março, eu já comentava com minha mãe da vontade de também atuar na linha de frente, até que surgiu a chance dois meses depois. Aceitei o desafio por querer a experiência, apesar do receio e o risco de contaminar eu e minha família, encarei esse medo e o amor à profissão e a vontade de ajudar o próximo falou mais alto, com certeza”, declarou.
O Hospital em que Fernanda trabalha recebeu, no início deste ano, pacientes da cidade de Manaus, quando o sistema de saúde do Estado do Amazonas enfrentava o seu pior momento na pandemia, com falta de leitos e de oxigênio. Este, sem dúvidas, foi outro momento de grande desafio. “Quando soubemos da informação, ficamos surpresos, pois os casos aqui no hospital estavam reduzindo bastante, quando eles vieram praticamente lotou nossa ala”, relatou a fisioterapeuta.
“O desafio se tornou maior por conta da cobrança e expectativa que foi gerada pelas famílias, direção do hospital, administração da cidade, enfim… tínhamos que apresentar resultado positivo de alguma forma e muitos chegaram em um estado preocupante. As mortes sempre nos marcam muito, independente se o paciente é de outro estado ou não, então o que nos motiva é aquele paciente que aos poucos começa a ter melhora até chegar na alta hospitalar, poder ver o paciente retornando para sua família após um árduo trabalho, é gratificante”, completou.
Rayane Félix, colega de profissão de Fernanda, trabalha no pós-Covid, na Clínica Espaço Bem-Estar, em Senador Canedo. O atendimento a estes pacientes também é voltado ao sistema respiratório, com métodos de reabilitação. ”São pacientes que chegam em estados diversos. Desde aqueles que passaram por um curto período de reabilitação aos que ficaram um longo tempo na UTI e permanecem por meses na reabilitação”, pontua.
A profissional de fisioterapia deseja, neste momento, atuar também na linha de frente do combate à doença e se encontra na tentativa de inserção na rede de saúde pública de Goiânia e da região metropolitana. De acordo com ela, não somente o amor à profissão, mas o amor ao próximo, na contribuição de salvar vidas, pulsa neste momento. “São dois pesos: à profissão que a gente escolheu, mas tem a outra metade que é amor. A gente quer estar ali por amor à vida do outro. Não apenas ao juramento, da profissão que escolheu”, explicou.
A primeira morte confirmada pelo coronavírus em Goiás foi de uma mulher, de 66 anos, que residia no município de Luziânia. Ela era hipertensa, tinha diabetes, doença pulmonar obstrutiva crônica, teve dengue antes de contrair a Covid-19 e faleceu no dia 26 do mês da mulher do ano de 2020, no Hospital de Doenças Tropicais (HDT), em Goiânia.
Dos 413.077 casos registrados da doença, até o momento, no Estado, 221.054 são de pessoas do sexo feminino. Destas, 3.741 perderam a vida para a Covid-19, o que equivale a 41,90% do número de 8.928 óbitos confirmados, de acordo com o boletim epidemiológico divulgado pela Secretaria de Estado da Saúde de Goiás.