O MST (Movimento dos Trabalhadores sem Terra) invadiu, nesta terça (25), uma série de fazendas ligadas a políticos e empresários investigados sob suspeita de corrupção. Entre elas, estão as propriedades do ministro da Agricultura, Blairo Maggi (PP-MT), de Ricardo Teixeira, ex-presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), e do coronel João Baptista Lima, amigo do presidente Michel Temer (PMDB).
A ação, segundo o movimento, é parte da Jornada Nacional de Lutas, em razão do Dia dos Trabalhadores Rurais nesta terça e não tem previsão para acabar. O lema é “Corruptos, devolvam nossas terras!”.
O MST afirma que invadiu também a base militar de Alcântara, no Maranhão, a sede do Incra (Instituto Nacional da Reforma Agrária) em Sergipe e uma fazenda no Paraná.
João Pedro Stedile, líder nacional da organização, gravou um vídeo em que convoca o movimento a agir neste 25 de julho e diz que não há mais política pública para a questão agrária no país.
Ele menciona a medida provisória que permite a venda de assentamentos e o projeto de lei que autoriza a venda de terras a estrangeiros.
“Não podemos nos acovardar diante de um governo corrupto, golpista e com data de validade já vencida”, afirma Stedile na gravação. “Vamos dar uma demonstração à sociedade brasileira de que estamos firmes e não temos medo.”
Cerca de 500 integrantes do MST estão na sede fazenda de Blairo Maggi, em Rondonópolis. A propriedade é parte do grupo Amaggi, da família do ministro.
Idalícia Nunes, líder dos sem terra no Estado, afirma que o local foi escolhido “por tudo o que ele [Maggi] representa hoje no país”.
“É ministro, é senador da República. Quando convém é do Senado, quando convém é ministro. Queremos denunciar mesmo, mostrar como os direitos estão sendo arrancados dos trabalhadores. Vivemos uma situação em que o campo é dominado pelo agronegócio, em Mato Grosso é um absurdo, o agronegócio não paga imposto, o trabalhador rural é refém dos grandes”, diz Nunes.
Os militantes chegaram à fazenda por volta das 6h e trancaram a entrada da sede. Funcionários que estavam no local foram obrigados a permanecerem nas casas, e ninguém mais pode entrar. Eles prometem ficar na fazenda por tempo indeterminado.
Uma nota publicada no site do MST afirma que Maggi apoia “as contrarreformas trabalhistas e previdenciária, provocando um retrocesso histórico nas condições de trabalho e previdenciária da classe trabalhadora”.
Segundo o movimento, em Mato Grosso cerca de 1.500 famílias do MST esperam pela reforma agrária, enquanto em toda a região Centro-oeste esse número ultrapassada 10 mil famílias.
Em nota, o grupo Amaggi disse que a companhia “está preocupada com a integridade física dos 17 colaboradores e familiares que residem na fazenda” e que “está tomando as providências necessárias para garantir a segurança dos mesmos”.
Ainda segundo a nota, o grupo busca “os meios legais para restabelecer a ordem em sua unidade produtiva”. A fazenda invadida, segundo a Amaggi, é uma das mais antigas unidades produtivas da companhia.
É a segunda vez que o MST invade a fazenda de Lima, que fica no município de Duartina (370 quilômetros de São Paulo). Em maio de 2016, eles foram à fazenda para “denunciar as conspirações golpistas de Temer”. Afirmam que, naquela ocasião, encontraram cartas endereçadas a Temer e materiais de sua campanha a deputado federal de 2006.
Oficialmente, a propriedade, batizada de fazenda Esmeralda, está registrada parte no nome de Lima (749,1 hectares) e parte (1.245,84 hectares) no nome da Argeplan, escritório de arquitetura e engenharia de que o coronel é sócio.
O movimento afirma que há 800 militantes no local.
A porta-voz do grupo que invadiu a fazenda, Mercedes Queiróz, disse que a invasão será mantida até a votação da denúncia contra o presidente Temer na Câmara, marcada para o dia 2 de agosto.
“Aqui tem relação com reforma agrária, mas também tem uma pauta política contra Temer, fora, Temer, estamos em jornada de lutas que acompanha o processo nacional, dia 2 de agosto vai ter votação e vamos continuar resistindo e fazendo o enfrentamento necessário. Não vamos sair”, declarou.
O MST diz que Lima é um laranja de Temer e que a fazenda na realidade pertence ao presidente. “Essa fazenda é simbólica porque é de um testa de ferro do presidente golpista Temer, já foi ocupada outras vezes. Queremos reforma agrária da terra dos corruptos.”
Além de integrantes do movimento, há também policiais militares e civis na região. Eles dizem estar no local para investigar uma denúncia de que os membros do MST teriam abatido quatro gados da fazenda.
Segundo Antonio Carlos Crostóvão, que se apresentou como arrendatário do local, ele negociou o uso da área diretamente com a empresa e nunca falou com Lima ou Temer.
“Precisava de pasto e gostei daqui. Peguei da Argeplan, mas quando comecei a frequentar a cidade, surgiu essa conversa, do coronel Lima, do Temer”, afirmou.
Em 2016, o MST deixou a fazenda cinco dias após a invasão, em 9 de maio. No dia 13, uma liminar do Tribunal de Justiça determinou que, caso houvesse nova ação na fazenda, o movimento teria de pagar multa diária de R$ 5.000.
Sylvio Carloni, advogado do coronel, afirma que a defesa já entrou com novo pedido de reintegração de posse, acatado nesta tarde pela Justiça. Diz esperar que a intimação para que se cumpra a decisão saia ainda nesta terça.
João Baptista Lima coordenou todas as campanhas de Temer ao Congresso, desde 1986. Foi assessor de Temer na Secretaria da Segurança Pública nos governos Franco Montoro (1983-1987) e Luiz Antônio Fleury Filho (1991-1995).
Hoje, o militar é um dos principais investigados pela Polícia Federal nos inquéritos envolvendo o presidente.
Executivos da JBS afirmaram, em acordo de delação, que a empresa deu R$ 1 milhão nas mãos de Lima, em 2014, como parte de um suposto acordo feito entre Temer e Joesley Batista.
Em maio, durante a Operação Patmos, a PF encontrou no escritório da Argeplan documentos que reforçavam o elo do coronel com o peemedebista.
Havia registros de reforma de imóveis de familiares de Temer, envelopes com movimentações bancárias, programação de pagamento do escritório político de Temer e recortes de reportagens, publicadas em jornais e revistas, sobre corrupção e propina ligadas ao presidente.
A reportagem não conseguiu localizar o coronel nesta terça (25).
Após a primeira ação do MST, no ano passado, a assessoria de imprensa de Temer afirmou, em nota, que ele “não tem propriedades rurais. Não é dono de fazenda em Duartina”.
Nessa mesma ocasião, o coronel João Batista Lima Filho disse, também em nota, que a fazenda está no nome dele e de sua empresa, a Argeplan, que opera há 40 anos.
No Rio, mais de 300 famílias ocuparam a fazenda de Ricardo Teixeira em Piraí, região do sul fluminense.
Teixeira é acusado na Espanha e nos EUA de participar de um esquema de corrupção na venda de direitos dos jogos da seleção e de torneios internacionais.
Desde então, ele nunca mais deixou o Brasil temendo ser preso.
De acordo com o MST, a máfia no futebol brasileiro é produto de exportação. Na nota, o movimento diz que Ricardo Teixeira não só desencadeou todo um sistema de estelionato sobre o futebol e lavagem de dinheiro no Brasil, segundo estimam procuradores do Ministério Público Federal, como sua expertise em corrupção no futebol é pauta do FBI e da polícia espanhola.
Nesta segunda (24), a Procuradoria-Geral da República pediu a transferência para o Brasil do procedimento penal instaurado na Espanha contra o dirigente, que comandou a CBF por mais de duas décadas.
O objetivo do órgão é ter acesso aos detalhes e provas da investigação espanhola para viabilizar uma investigação do cartola no Brasil.
A fazenda Santa Rosa, de Teixeira, foi o elo entre o ex-presidente da CBF e a Ailanto Marketing, investigada por superfaturar amistoso da seleção com Portugal, em novembro de 2008.
A Ailanto pertence a Sandro Rosell, ex-presidente do Barcelona, preso desde maio na Espanha. O cartola espanhol é acusado de lavar dinheiro, entre outros crimes, em negociações envolvendo os direitos da seleção.
A Ailanto foi dona dona de uma empresa que tinha como endereço a fazenda de Teixeira.
A VSV Agropecuária Empreendimentos Ltda arrendou a fazenda do cartola em 2008 e pagaria R$ 600 mil ao longo de cinco anos. O jogo foi bancado por R$ 8,5 milhões em dinheiro público.
Segundo funcionários da fazenda, a VSV nunca trabalhou lá.
Na época, Teixeira informou que a ligação da VSV Agropecuária Empreendimentos Ltda com a sua fazenda “é legal”.
De acordo com o dirigente, a relação dele com a empresa, que tem a Ailanto como sócia, foi declarada em seu Imposto de Renda.
Mas a assessoria não explicou qual o tipo de relação comercial desenvolvida entre a fazenda do dirigente e a firma subsidiária da empresa investigada por suspeitas de irregularidades no amistoso da seleção em 2008. (Folhapress)