O Ministério Público Federal na Amazônia, em conjunto com a Polícia Federal, investiga um suposto massacre de uma tribo indígena isolada na Terra Indígena Vale do Javari, no Amazonas, ocorrido no mês passado.
O órgão confirmou a investigação, instaurada na última terça (29), a pedido da Funai (Fundação Nacional do Índio). A suspeita é que um grupo de garimpeiros ilegais tenha executado pelo menos dez pessoas -a Procuradoria não confirma o número nem a etnia dos índios assassinados.
A área sob investigação fica nas proximidades dos rios Jandiatuba e Jutaí, próximo à fronteira com o Peru, a cerca de 1.000 km de Manaus.
Dois garimpeiros foram presos em flagrante por porte ilegal de armas, durante a investigação. Eles e outras pessoas estão sendo ouvidas sobre a suspeita do crime.
A denúncia surgiu depois que garimpeiros foram vistos no município de São Paulo de Olivença, no oeste do Amazonas, exibindo “troféus” das mortes, segundo a ONG Survival International -ou seja, objetos que teriam sido recolhidos das vítimas, como flechas e um remo.
Mulheres e crianças estariam entre os mortos, segundo comunicado da ONG divulgado nesta sexta (8).
Uma foto de satélite que mostra ocas queimadas na região, datada de dezembro de 2016, também foi divulgada pela organização. Sobre a imagem, o Ministério Público Federal informou que não tem informações a respeito e que o local exato do massacre ainda está sendo apurado.
CONTEXTO
No início do ano, pressionada por cortes orçamentários, a Funai suspendeu as atividades de cinco bases de proteção a índios isolados na Amazônia.
“O corte no orçamento da Funai deixou dezenas de tribos isoladas sem defesa contra milhares de invasores, garimpeiros, fazendeiros e madeireiros, que estão desesperados para roubar e pilhar suas terras”, declarou o diretor da Survival, Stephen Corry, em comunicado.
Autoridades têm tentado coibir o garimpo e outras atividades ilegais na região. Na semana passada, o MPF deflagrou uma operação na mesma área do suposto massacre indígena. Em ação conjunta com o Ibama e o Exército, 16 dragas de mineração foram identificadas ao longo do rio Jandiatuba, e cinco foram destruídas.
Cada draga custa cerca de R$ 1 milhão. “Nenhuma delas possuía documentação que justificasse a atividade garimpeira nas margens, igarapés ou calha do rio Jandiatuba”, informou a Procuradoria.
“Nenhuma [draga] possuía documentação que justificasse a atividade garimpeira nas margens, igarapés ou calha do rio Jandiatuba”, informou a Procuradoria.
Segundo o procurador da República Alexandre Aparizi, além dos danos ambientais, o garimpo ilegal na região está fortemente associado à prostituição, ao tráfico de drogas, a crimes violentos e a condições precárias de trabalho.