O Ministério Público Federal denunciou Wesley e Joesley Batista, controladores do grupo J&F, por uso indevido de informações privilegiadas para obter lucro no mercado financeiro. A denúncia foi feita à 6ª Vara Federal Criminal de São Paulo.
Wesley pode ser condenado a uma pena de 3 a 18 anos. Ele estaria à frente da operação de compra de dólares entre os dias 28 de abril e 17 de maio, dia do vazamento da delação. Só neste dia, o grupo faturou US$ 751,5 milhões.
Joesley não será responsabilizado pela operação de câmbio, mas, assim como Wesley, foi denunciado por manipulação de mercado na compra e venda de ações da empresa, e poderá pegar pena de 2 a 13 anos de prisão.
O inquérito da Polícia Federal apurou se os irmãos Batista se posicionaram no mercado sabendo que a divulgação do conteúdo de suas próprias delações premiadas e de executivos da holding J&F Investimentos, envolvendo o presidente Michel Temer, mexeriam com os mercados brasileiros. As informações vieram à tona em meados de maio, levando a um forte recuo dos preços de ativos brasileiros.
A reportagem ainda não conseguiu contato com a defesa dos Batista.
POLÍCIA FEDERAL
Joesley e Wesley Batista, que tiveram pedido de liberdade negado no final de setembro pelo ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal), negam terem cometido qualquer irregularidade no mercado financeiro.
Segundo a Polícia Federal, a empresa FB Participações, que é 100% dos irmãos Batista e detinha uma fatia de 42,5% da JBS, vendeu 42 milhões de ações da processadora de carne por aproximadamente R$ 372 milhões antes do vazamento da delação, enquanto a JBS posteriormente as recomprou no mercado. Essa movimentação permitiu aos executivos da FB Participações evitar um prejuízo potencial de R$ 138 milhões, de acordo com a PF.
A investigação também abrange a compra de cerca de US$ 2 bilhões em contratos futuros de dólar ao preço de R$ 3,11 pela JBS, segundo a PF. Apenas na véspera da divulgação do acordo de colaboração foram comprados US$ 473 milhões.
“Em atuação conjunta com a CVM (Comissão de Valores Mobiliários), a PF pôde trazer à investigação provas robustas de que a determinação das operações financeiras partiu dos irmãos Batista”, afirmou a PF.
A JBS afirmou em comunicado à imprensa que não teve acesso ao relatório da PF e reiterou que “as operações de recompra de ações e derivativos cambiais em questão foram realizadas de acordo com perfil e histórico da companhia que envolvem operações dessa natureza”.
A companhia, dona de marcas como Friboi, Swift e Seara, acrescentou que “tais movimentações estão alinhadas à política de gestão de riscos e proteção financeira e seguem as leis que regulamentam tais transações”.
A JBS citou ainda um estudo contratado pela companhia junto à Fipecafi (Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras) que afirma que “havia subsídios econômicos para a estratégia de derivativos cambiais adotados pela companhia e que recompras pela JBS este ano “são normais quando comparadas às do período imediatamente anterior”.