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Morre José Porfírio de Carvalho, um dos principais indigenistas do país

Nascido em Granja (CE) na véspera do Natal de 1946, José Porfírio Fontenele de Carvalho passou toda sua vida adulta dedicado ao trabalho indigenista. Ele ingressou nos quadros da Funai (Fundação Nacional do Índio) logo após a criação do órgão, em 1967, o que o levou a quase meio século de intensa atividade, firmando-o como um dos principais nomes da história do indigenismo no país.

O antropólogo e ex-presidente da Funai Mércio Gomes escreveu em rede social neste domingo (14) que Carvalho “foi, sem desmerecer outras grandes figuras, o maior indigenista rondoniano de sua geração”, em referência ao marechal Cândido Rondon (1865-1958).

Carvalho trabalhou com índios em Roraima, Maranhão, Acre e Amazonas, entre outros Estados. No início dos anos 70, durante a ditadura, estava ao lado do amigo sertanista Gilberto Pinto Figueiredo para o contato com os índios waimiri-atroari. Os militares queriam que os índios permitissem a obra de construção da rodovia BR-174, que ligou Manaus (AM) a Boa Vista (RR) e resultou em centenas de índios mortos, conforme a Comissão Nacional da Verdade apontou em 2014.

Figueiredo e outros funcionários da Funai foram mortos pelos índios, que reagiram fortemente à abertura da estrada, e Carvalho chegou a ser punido pelos militares com a transferência compulsória para outro Estado, uma espécie de exílio no próprio país. Nada disso fez Carvalho abandonar a etnia, da qual nunca mais se dissociou.

Em 1980 respondeu a um processo aberto pela ditadura com base na Lei de Segurança Nacional porque escreveu um livro de circulação restrita, bancado de seu próprio bolso, no qual revelou documentos sigilosos dos militares que indicavam uso de armas de fogo e bombas para “assustar” os waimiris-atroaris durante a obra.

Por fim foi demitido da Funai no começo dos anos 1980, junto com diversos outros colegas no órgão, por ter ajudado a criar a SBI (Sociedade Brasileira de Indigenistas), que fazia denúncias de abandono e morte dos índios brasileiros.

Depois que a ditadura acabou, Carvalho formulou e assumiu a condução do Programa Waimiri-Atroari, custeado pela Eletronorte como compensação pelos danos infligidos aos índios pela construção da usina hidrelétrica de Balbina, que alagou parte da terra indígena. Foram mais de 30 anos de trabalho em contato direto com os waimiris-atroaris em ações de saúde, educação e preservação da língua e dos costumes tradicionais da etnia.

Mandou instalar câmeras de vídeo e controlava com mão de ferro o acesso de estranhos à terra waimiri-atroari, vetando incursões que julgasse desnecessárias e de pouca utilidade para os índios, que confiavam nele como seu maior aliado. Aos críticos, que viam nesse controle algum exagero, ele apresentava os dados inequívocos da saúde e do aumento populacional dos waimiris-atroaris, que saíram de pouco mais de 300, logo após a ditadura, para mais de 1.900 atualmente.

Era um dos maiores opositores à passagem de uma linha de alta tensão pela terra indígena waimiri-atroari, obra projetada pelo governo federal ao custo estimado de R$ 2 bilhões e foco de intenso lobby do poder político de Roraima. Os índios repetidas vezes recusaram o traçado da linha, sugerindo que ela faça um desvio.

Morreu aos 70 anos neste sábado (13), de câncer, em um hospital de Brasília. Deixou viúva, Maria José, duas filhas, dois filhos e admiradores entre indígenas, sertanistas, indigenistas e antropólogos. (Folhapress)

Thais Dutra

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