Nas duas primeiras horas da sabatina para que assuma vaga de ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), o ministro licenciado Alexandre de Moraes (Justiça) procurou rebater polêmicas envolvendo seu nome.
As perguntas foram feitas por internautas e encaminhadas pelo relator do processo de escolha do ministro, Eduardo Braga (PMDB-AM).
O primeiro tema polêmico enfrentado por Moraes foi a acusação de que havia advogado para a façcão criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital), o que ele negou e explicou.
“Não tenho absolutamente nada contra aqueles que são, que exercem a advocacia dentro das normas éticas e legais em relação a qualquer cliente, inclusive o PCC. Jamais fui advogado do PCC e de ninguém ligado ao PCC”, afirmou Moraes.
Nas demais questões, procurou ser breve nas explicações.
Quanto à denúncia de ter plagiado trechos da obra do jurista espanhol Francisco Rubio Llorente (1930-2016), como mostrou a Folha de S.Paulo, ele disse que a história foi inventada por um candidato reprovado de concurso público, qualificou a reportagem que trouxe a história à tona como “maldosa” e disse que a viúva do autor foi “induzida pelo repórter” a se manifestar sobre a cópia.
“O próprio tribunal constitucional espanhol diz que o conteúdo citado é de decisões públicas”, afirmou.
Moraes também minimizou o fato de ter declarado ao Senado não ter parentes que exerçam ou que tenham exercido atividades vinculadas à atividade profissional dele.
O escritório da família Moraes tem pelo menos seis ações em andamento no STF. A mulher de Alexandre de Moraes, Viviane Barci de Moraes, é uma das advogadas responsáveis pelos processos.
“Minha espoa é advogada? É. Conheço ela há 30 anos. É advogada há mais de 20 anos. Eu pergunto: qual é o problema?”, ponderou.
“Obviamente, em assumindo o cargo de minsitro do STF, todos os casos em que minha esposa tenha atuado, em que o escritório tenha atuado, todos eles eu me darei por impedido”, afirmou Moraes.
Na busca de se tornar ministro do STF, Moraes também afirmou “não haver nada de ilícito” sobre investigação da PF e do Ministério Público Federal sobre ele no âmbito da Operação Acrônimo.
Em outubro de 2016, documentos apreendidos na empresa JHSF Participações indicavam pagamento de R$ 4 milhões à firma de Moraes. A documentação está sob sigilo.
“Não havia nenhum indício de atividade ilícita”, afirmou o ministro. “Não houve investigação porque não há absolutamente nada”.
Em 7 de outubro passado, a Folha de S.Paulo revelou a existência da petição sobre Moraes. Ela passou a tramitar no tribunal em 14 de setembro. Em agosto, a PF havia apreendido planilhas na sede da JHSF que mostravam pagamentos de R$ 4 milhões ao escritório do ministro de 2010 a 2014, em período em que não exerceu cargo público.
Antes de ingressar em temas polêmicos, a principal argumentação de Alexandre de Moraes foi a audiência de custódia para crimes de menor gravidade, com o objetivo de dar celeridade e reduzir o número de processos no país.
Segundo Moraes, esse tipo de resolução é uma espécie de “habeas corpus social” e resultaria em uma “Justiça rápida”.
Moraes evitou entrar no mérito da descriminalização das drogas. Limitou-se a defender foco no combate ao crime organizado e aos grandes traficantes.
Desde que teve início a sessão, às 10h14, a oposição adotou a estratégia de desgaste de Moraes.
Senadores da Rede, do PSOL e do PT apresentaram questões de ordem, tentando inclusive adiar a sabatina por não ter informado da atuação de sua mulher.
“Se esposa não for parente, ninguém mais é. Houve clara omissão”, diz o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP).
Todas as questões de ordem foram indeferidas pelo presidente da CCJ, Edison Lobão (PMDB-MA).
A oposição tentou então constranger os senadores que são alvo da Operação Lava Jato. Ré no âmbito da investigação, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) se declarou impedida de votar na sabatina de Alexandre de Moraes. Outros oito alvos da Lava Jato integram a CCJ. (Folhapress)