O ministro da Justiça, Torquato Jardim, disse durante palestra em Washington nesta quarta-feira (19) que a operação Lava Jato é “imparável” e que seu trabalho será “feito até o fim”.
“A Lava Jato é um ganho para a nossa sociedade, é imparável. O que tiver que ser feito, de acordo com a Constituição e as leis, será feito. Seja pelo Ministério Público, pela Polícia Federal, pelo Ministério da Justiça”, disse o ministro, que é crítico dos métodos da operação.
Em outro momento, Torquato disse especificamente que o escritório do procurador-geral “continuará investigando”. “Tem que ser assim, não há como não ser, sob a Constituição.”
Torquato falou em evento promovido pelo Brazil Institute, do think tank Wilson Center, mesmo lugar onde, há dois dias, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, disse não ter pressa para apresentar uma nova denúncia contra o presidente Michel Temer.
O ministro, contudo, negou que sua viagem tenha sido planejada como uma “resposta” do governo ao périplo de Janot pelos Estados Unidos nesta semana. “Foi tudo coincidência, não foi planejado”, disse, rechaçando haver qualquer animosidade com o procurador-geral, o qual conhece “há muitos anos” e com o qual “tem amigos em comum”.
Os dois tinham na agenda desta semana reuniões separadas no Departamento de Estado americano. Janot também se encontrou com representantes do Departamento de Justiça na segunda-feira.
Questionado sobre a possível apresentação de uma nova denúncia de Janot contra Temer, Torquato disse que agora a “bola está na quadra deles, não na nossa”. “Vamos fazer o que tivermos de fazer. Vamos ver o que acontece antes.”
O ministro aproveitou para defender a estabilidade política do Brasil para possíveis investidores presentes. “Lembrem-se: a Constituição prevalece, nós passamos por dois impeachments, uma série de crises de todas as formas, e os militares não foram para as ruas. A constituição criou os próprios canais para resolver isso”, disse.
Ele ainda destacou a capacidade de Temer, que passou “mais de 20 anos no Congresso” e “presidiu [a Câmara] três vezes” de “formar consenso com o Congresso”. “Apesar de muitos brasileiros acharem que o Executivo é fraco, a formação de consenso é muito rara na nossa vida política”, disse. “Temos 28 partidos políticos, é um grande desafio.”
Questionado sobre as dificuldades orçamentárias da Polícia Federal, o ministro disse que o problema não é algo “peculiar” à agência e que o órgão “está sendo mais objetivo e criativo no gerenciamento”. Ele destacou que a PF está implementando, no momento, 473 operações especiais sob ordens de juízes federais.
“A polícia federal e todas as agências administrativas no Brasil estão em restrição orçamentária. O mesmo ocorre com todos os ministérios. O Ministério das Relações Exteriores está sob forte restrição, serviços de diplomacias estão sendo adiados ou não entregues totalmente por causa disso. As Forças Armadas não estão fazendo todos os exercícios que precisam”, disse.
Sobre a suspensão de emissão dos passaportes, o ministro disse esperar que o problema seja resolvido “em breve”.
Torquato evitou falar sobre a reportagem publicada pelo “Valor”, de que autoridades de investigação brasileiras teriam planejado com sua contraparte americana gravar o presidente Michel Temer durante viagem aos Estados Unidos em maio, que não ocorreu.
Ele disse não ter informações sobre o caso e disse não saber se o governo brasileiro pedirá explicações às autoridades americanas.
As negociações entre os agentes dos dois países estariam em estágio “avançado” segundo o jornal, mas a ação não foi levada adiante porque Temer desistiu da viagem a Nova York. (Folhapress)