Em entrevista, nesta segunda-feira (25) à GloboNews, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, comemorou a determinação de produtores brasileiros de não venderem suas carnes à rede de hipermercados Carrefour no Brasil. Para Fávaro, o caso é de “protecionismo desproporcional”. O boicote é uma reação a uma carta divulgada abertamente pelo CEO da varejista, na França, Alexandre Bompard na qual ele sugere que o produto brasileiro está fora das exigências e padrões franceses.
Na verdade, o executivo do grupo francês é contrário à proposta de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul. Dessa forma, para defender os interesses dos produtores franceses, Bompard se comprometeu no documento a não vender carnes do bloco sul-americano nos mercados da rede na França, indicando que o fornecimento poderia continuar em praças de outros países onde a rede está presente. O problema se agravou quando ele desqualificou o produto brasileiro. “Se não serve ao francês, não vai servir aos brasileiros”, vem dizendo o ministro desde que a crise teve início.
A reação negativa ao texto entre os produtores e autoridades brasileiras foi imediata. Como mostrou o Diário de Goiás na sexta-feira (22), o governador do Mato Grosso, Mauro Mendes (UB) convocou o boicote ao hipermercado. Diversas organizações também manifestaram repúdio e apoio ao boicote.
Carlos Fávaro aponta a abertura da carta como o trecho mais problemático porque Alexandre Bompard afirma que há um “risco de a produção de carne transbordar para o mercado francês, deixando de atender às suas exigências e padrões”.
Fávaro viu a afirmação como uma crítica “inadmissível” à qualidade sanitária das carnes produzidas no Brasil. “O problema é a forma como que o CEO do Carrefour tratou. O primeiro parágrafo da carta, da manifestação dele, fala com relação à qualidade sanitária das carnes brasileiras, o que é inadmissível falar. O Brasil tem uma das melhores sanidades de produtos alimentícios do mundo”, disse.
Ele seguiu citando que a gripe aviária, por exemplo, não entrou em nenhum plantel comercial no Brasil. “São só dois países do mundo que não têm gripe aviária em seu plantel comercial. E ele falar da qualidade sanitária…? A França compra carne do Brasil há 40 anos, só agora ele foi detectar isso? Então é um absurdo”, declarou na entrevista.
Na sequência o ministro se disse feliz com a atitude dos fornecedores brasileiros e finalizou: “Se para o povo francês o Carrefour não serve comprar carne brasileira, o Carrefour também não compre carne brasileira para colocar nas suas gôndolas aqui no Brasil”.
O Carrefour Brasil emitiu nota nesta segunda em que lamenta o boicote dos fornecedores, sugere que o impacto será para os consumidores, mas, por outro lado, nega que haja falta de carne nas suas unidades no Brasil.
“Infelizmente, a decisão pela suspensão do fornecimento de carne impacta nossos clientes, especialmente aqueles que confiam em nós para abastecer suas casas com produtos de qualidade e responsabilidade”, afirma a nota.
A assessoria do grupo, porém, ressalta que o boicote de produtores brasileiros ainda não gerou falta de carne nas lojas.
“Há 50 anos temos construído e mantido uma excelente relação com nossos parceiros e fornecedores, pautada pela confiança mútua. Por isso, estamos em diálogo constante na busca de soluções que viabilizem a retomada do abastecimento de carne nas nossas lojas o mais rápido possível, respeitando os compromissos que temos com nossos mais de 130 mil colaboradores e com milhões de clientes em todo o Brasil”.
O Carrefour Brasil finaliza ao dizer que está “trabalhando para resolver essa situação da melhor forma possível, sempre com o objetivo de atender com qualidade e excelência aos nossos clientes.”