Genebra – Pela primeira vez, um membro do governo da África do Sul reconhece que o dinheiro enviado para o Caribe “pode ser propina” paga em troca de votos para sediar a Copa do Mundo de 2010. No centro do debate está a alegação do FBI de que os sul-africanos enviaram US$ 10 milhões para o então vice-presidente da Fifa, Jack Warner, em troca de seu voto.
Até agora, a Fifa insistia que, apesar de o dinheiro ter passado por ela, a entidade apenas cumpria ordens dos sul-africanos. Entre os doadores do dinheiro, a insistência era de que os recursos tinham como objetivo um programa social no Caribe. Agora, porém, o ministro Tokyo Sexwale admitiu que as alegações são “preocupantes”. Em entrevista à BBC, o ex-prisioneiro de Robben Island e um dos organizadores da Copa abertamente colocou em dúvida se o dinheiro enviado foi uma doação.
“Onde estão os documentos? Onde estão os recibos? Onde estão os orçamentos e onde estão os projetos em campo?”, questionou. Há duas semanas, a reportagem revelou que os US$ 10 milhões não apareciam em nenhum resultado financeiro dos sul-africanos. “Se não existe nada disso, vamos deixar intacta a interpretação do FBI”, disse o representante do governo e que se recusa a apontar culpados. Apesar de abrir espaço para dúvidas, o ministro se defende e alega que não tinha motivos para duvidar das intenções de Warner naquele momento. Ele também negou ser um dos citados no indiciamento do Departamento de Justiça dos Estados Unidos como um dos co-conspiradores.
Na África do Sul, a oposição tentou estabelecer uma CPI para investigar as alegações. Mas o governo conseguiu impedir que, legalmente, seus ministros comparecessem para depor. O governo também insiste que os US$ 10 milhões foram dados “sem qualquer condição”, o que também gerou a revolta da oposição. “É inacreditável que se possa dar um presente de US$ 10 milhões sem impor condições”, atacou Solly Malatsi, um dos líderes da oposição. Na Fifa, o secretário-geral Jérôme Valcke insiste que controla cada centavo que sai e entra na entidade. Mas diz que não verificou como os US$ 10 milhões foram gastos. A primeira versão da explicação era de que o sinal verde para fazer o pagamento havia sido dado por Julio Grondona, cartola argentino que morreu no ano passado.
(Estadão Conteúdo)