O ministro da Saúde, Ricardo Barros, disse nesta quinta-feira (30) que a pasta já avalia a possibilidade de fracionar as doses da vacina contra febre amarela para atender um aumento na demanda da população fora das áreas de maior risco pelo surto.
“Se há um fluxo muito grande [e se adotar o fracionamento], a ampola que hoje tem dez doses vai ser adicionada a um diluente e as doses serão aumentadas”, afirma.
Outra possibilidade em análise, segundo o ministro, seria importar novas doses de produtores internacionais. O objetivo é ampliar os estoques da chamada “vacinação de rotina”, indicada para quem mora ou pretende viajar a regiões onde a imunização contra febre amarela é recomendada.
Segundo Barros, a medida já passou por análise dos conselhos municipais e estaduais de saúde e deve ser apresentada nesta quinta-feira ao presidente Michel Temer.
A decisão sobre a importação de novas doses ou fracionamento, no entanto, deve ser tomada após avaliação de qual a quantidade necessária de vacinas para atender a demanda atual.
“Vamos aguardar a informação dos Estados para atender ao quantitativo de áreas que não estão em risco, e, dependendo do quantitativo, vamos adotar a importação ou o fracionamento de vacina”, afirmou.
Questionado, o ministro nega que haja falta de vacinas para as regiões com maior risco de surto -desde o início do ano, a vacinação tem sido intensificada em Minas Gerais, Espírito Santo e em algumas áreas de São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia, locais onde foram registrados casos humanos ou morte de macacos com suspeita da doença.
O problema, segundo Barros, ocorre devido ao aumento da demanda fora dessas áreas de maior risco. Hoje, a vacinação contra a febre amarela é indicada como rotina em 3.529 municípios, de 19 Estados e Distrito Federal.
“Não há falta de vacina para as áreas de recomendação. Em toda a área de risco, onde há epizootia confirmada, a vacina está disponível. Mas o que existe, por conta da divulgação do problema [do surto de febre amarela em algumas regiões], são brasileiros que pedem voluntariamente para ser vacinados. Para esses casos é que estamos adotando essa nova estratégia”, afirmou. “Estamos tratando de uma demanda espontânea que não está programada.”
Ele cita o exemplo do Rio de Janeiro, onde os municípios, até então, não faziam parte da área de recomendação para vacina nos últimos anos e houve aumento na procura após a divulgação dos primeiros casos de febre amarela em Casimiro de Abreu, na baixada litorânea.
PROTEÇÃO MENOR
Apesar de ser uma possibilidade em estudo, a decisão por fracionar a vacina, no entanto, enfrenta resistências.
Um dos motivos é a duração da proteção -segundo o ministro, uma vez diluída, a dose protegeria por apenas um ano. Já no modelo atual, essa proteção é estendida- após a primeira dose, a segunda é recomendada após dez anos.
Já o ponto positivo é a possibilidade de corresponder ao aumento da demanda atual para a vacinação de rotina, afirma. “Saiu da emergência, ninguém mais vai falar da vacina”, disse.
Inicialmente direcionado para suprir o aumento da demanda, o fracionamento da vacina, se aprovado, deve ser aplicado para quem mora ou pretende viajar para regiões onde há recomendação de vacinação.
‘ALARDE DESNECESSÁRIO’
Para o ministro, existe um “alarde desnecessário” em relação ao surto de febre amarela, e que tem levado ao aumento da demanda.
“São pessoas que assistem na TV que está tendo febre amarela e vão à unidade de saúde. Isso não é previsível. Não há um planejamento possível para isso. Estamos buscando uma solução para ampliar o fornecimento de vacina para vacinação regular, para que os Estados possam atender essa demanda espontânea”, afirma.
Ele ressalta o alerta para o risco de efeitos adversos caso a vacina seja aplicada a pessoas a quem é contraindicada, como pessoas imunodeprimidas (como pacientes oncológicos) e idosos, por exemplo.
MUDANÇAS NA POLÍTICA
Além da possibilidade de fracionamento para suprir a demanda deste ano, o Ministério da Saúde avalia mudanças na política de vacinação contra a febre amarela para 2018.
Um dos pontos em estudo, conforme a Folha de S.Paulo divulgou, é a possibilidade de ofertar a vacina para as crianças a partir de 9 meses em todo o país, e não apenas para aquelas que hoje moram nas áreas onde a vacinação é recomendada.
Outra medida é a inclusão de novos Estados dentro dessas áreas de vacinação permanente -caso do Rio de Janeiro e Espírito Santo, por exemplo.