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Política
| Em 16 horas atrás

Militar preso pela PF roubou dados de acidente com engenheiro na BR 060 para golpe de Estado

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O militar Rafael Martins de Oliveira usou ilegalmente os dados de um engenheiro mecânico que tinha se envolvido em um acidente de trânsito com o veículo alugado que Oliveira conduzia. O acidente aconteceu em 24 de novembro de 2022 na BR-060, entre Goiânia e Brasília. O militar é um dos oficiais do Exército lotados em Goiânia que foram alvos da Operação Contragolpe deflagrada pela Polícia Federal (PF) na terça-feira (19),

O militar, um tenente-coronel com treinamento especializado, pegou os dados do engenheiro  Lafaiete Teixeira Caitano para o registro da ocorrência e usou com outros fins.

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Assustado com a fraude, Caitano declarou em entrevista à Agência Brasil, que cedeu as fotos de uma Carteira Nacional de Habilitação e dos documentos do carro para a ocorrência de trânsito visando acessarem o seguro por causa do acidente, sem jamais imaginar o uso que Oliveira faria dos seus dados, já que ambos não têm qualquer relação.

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Mas o tenente-coronel utilizou os dados para adquirir no nome dele uma linha de telefone celular para trocar mensagens com outros acusados de planejar um golpe de Estado, em 2022.

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Estratégia para evitar identificação do verdadeiro usuário

Para os investigadores, a fraude revela o emprego da anonimização, uma técnica militar ensinada na doutrina de Forças Especiais do Exército, “e cujo propósito é dificultar a identificação do verdadeiro usuário da linha telefônica”.

Foi a partir de informações extraídas do celular apreendido com Oliveira, em fevereiro deste ano, no âmbito da Operação Tempus Veritatis, que os investigadores da PF conseguiram avançar na apuração dos indícios de que, no fim de 2022, oficiais de alta patente do Exército monitoraram, ilicitamente, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e planejavam dar um golpe de Estado, impedindo a posse do presidente recém-eleito Luiz Inácio Lula da Silva e de seu vice, Geraldo Alckmin.

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A pedido da Polícia Federal (PF), o ministro Alexandre de Moraes, relator do caso na Corte, autorizou, na terça, a prisão preventiva de Oliveira e também do general da reserva Mário Fernandes, além dos tenentes-coronéis Hélio Ferreira Lima e Rodrigo Bezerra Azevedo. Azevedo é mais um dos militares envolvidos que é lotado em Goiânia. Também foi autorizada a prisão preventiva do policial federal Wladimir Matos Soares.

Em sua decisão, Moraes afirma que, ao longo da investigação, a PF reuniu indícios de que, após executá-lo, o grupo planejava matar o presidente Lula e vice-presidente Geraldo Alckmin para “impedir a posse do governo legitimamente eleito e restringir o livre exercício da democracia e do Poder judiciário brasileiro”.

Imagens dos documentos e dados do engenheiro usadas por militar

Entre os arquivos extraídos do aparelho apreendido, duas fotografias permitiram aos investigadores associar Oliveira ao codinome registrado (teixeiralafaiete230), com o qual o celular que ele usava para conversar com os outros militares em um aplicativo de troca de mensagens instantâneas. As imagens eram fotos da CNH e dos documentos do carro de Lafaiete Teixeira Caitano. A reportagem do Diário de Goiás não conseguiu localizar o engenheiro vítima da fraude.

Conforme a Agência Brasil, Caitano registrou um boletim de ocorrência na ocasião, assumindo ter colidido contra o carro que Rafael dirigia. O veículo tinha sido alugado pelo militar do Exército três dias antes, no Aeroporto Internacional de Goiânia, o que as investigações levam a crer visava que ele fizesse o monitoramento de Moraes de forma clandestina em Brasília, evitando o carro próprio ou viatura do Exército.

A Agência Brasil conversou com Caitano, que corroborou a conclusão da PF. O engenheiro mecânico confirmou que bateu no carro de Oliveira e que lhe forneceu cópia de seus documentos.

“Eu disponibilizei os documentos para fazermos todo o trâmite junto à seguradora”, disse Caitano, revelando surpresa ao saber dos desdobramentos que vieram a público somente esta semana.

“Credo! Eu não estava sabendo desta operação [da PF]. Não me fala um trem deste não! Estou no trabalho. Trabalhei o dia todo e não vi nada. Nunca soube nada sobre um outro telefone em meu nome além do meu. Nenhuma operadora jamais me comunicou isso e este número com o qual estamos conversando é o único que habilitei”

Engenheiro disse que está chocado e agrade a PF

“Tô em choque. A gente vê notícias deste tipo, mas nunca imagina que algo assim vai acontecer com a gente. Graças a eficiência da polícia, foi constatado que eu sou vítima”, comentou o engenheiro. “Ele agiu de má-fé mesmo”, conclui.

Mais telefones a base de fraudes

De acordo com a PF, o militar Rafael Martins de Oliveira já tinha habilitado, em junho de 2022, outra linha com dados de outra pessoa, identificada como Luis Henrique Silva do Nascimento, morador de Belo Horizonte.

Consultando a empresa de telefonia responsável pela linha, os investigadores obtiveram não só o número de identificação do aparelho celular (Imei), como a informação de que, só entre o fim de maio e meados de dezembro de 2022, este mesmo telefone recebeu 1.423 linhas telefônicas. “Destaque-se que o referido Imei pertence exatamente ao aparelho telefônico vinculado a Rafael de Oliveira, o qual foi apreendido no âmbito da Operação Tempus Veritatis.

Conforme o jornalista Lauro Jardim, colunista do jornal O Globo, além desses aparelhos, Rafael também comprou em Goiânia, pagando em dinheiro, um smartphone que registrou no nome da esposa, Renata Reis. O aparelho também era utilizado pelo tenente-coronel no grupo que planejava as tocaias e mortes das autoridades. Segundo o jornalista, a mulher nem chegou a usar o aparelho.

A reportagem não localizou o contato de Luis Henrique, vítima da fraude, e da defesa de Renata e dos militares citados.

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Marília Assunção

Jornalista formada pela Universidade Federal de Goiás. Também formada em História pela Universidade Católica de Goiás e pós-graduada em Regulação Econômica de Mercados pela Universidade de Brasília. Repórter de diferentes áreas para os jornais O Popular e Estadão (correspondente). Prêmios de jornalismo: duas edições do Crea/GO, Embratel e Esso em categoria nacional.