O presidente Michel Temer decidiu se defender publicamente das acusações de que comandou uma reunião, em 2010, para acertar o pagamento de US$ 40 milhões de propina para o PMDB, conforme relataram executivos da Odebrecht.
O presidente gravou um vídeo na tarde desta quinta-feira (13) em que contesta as delações. Na gravação, ele diz que não negociou pagamento de valores a seu partido e que condena e não participa de práticas escusas de financiamento de campanha.
O vídeo deve ser divulgado nas redes sociais pelo Palácio do Planalto.
Ainda na gravação, o presidente diz que esteve no encontro citado pelo delator, porém não tratou de repasses financeiros ao PMDB.
Temer também avalia preparar uma campanha publicitária mais ampla, específica para proteger sua imagem diante da crise gerada pelas delações. O presidente deve se reunir com auxiliares na próxima semana para tomar uma decisão sobre o tema.
Inicialmente, a ideia era que Temer não se pronunciasse sobre as delações tornadas públicas esta semana pelo STF (Supremo Tribunal Federal), para evitar que a crise se instalasse em seu gabinete.
Auxiliares, entretanto, reconheceram que o relato que envolve diretamente o presidente é grave, especialmente por se tratar de um valor substancial, de US$ 40 milhões, com potencial para desgastar ainda mais a imagem do peemedebista.
Eles avaliaram que Temer precisaria fazer uma defesa enfática para demonstrar confiança, apontar incoerências na narrativa do delator e evitar que as acusações contra ele se cristalizem.
O ex-executivo Márcio Faria afirmou em sua delação premiada que Temer comandou, em 2010, quando era candidato a vice-presidente, uma reunião em São Paulo em que se acertou o pagamento de US$ 40 milhões de propina relativos a 5% de um contrato da empreiteira com a Petrobras.
Ele diz que o encontro aconteceu no escritório político de Temer em São Paulo, em Alto de Pinheiros, no dia 15 de julho de 2010, às 11h30.
O ex-executivo, então presidente da Odebrecht Engenharia Industrial, braço da empreiteira responsável por obras industriais no Brasil e no exterior, conta ter ficado impressionado com a naturalidade com que a propina foi cobrada.
Ele relata que além de Temer, que se sentou à “cabeceira da mesa”, participaram da reunião Rogério Araújo, outro executivo da Odebrecht, e os então deputados federais Eduardo Cunha (RJ) e Henrique Eduardo Alves (RN), todos do PMDB, além do lobista João Augusto Henriques.
“Foi a única vez em que estive com Michel Temer e Henrique Eduardo Alves e fiquei impressionado pela informalidade com que se tratou na reunião do tema ‘contribuição partidária’, que na realidade era pura propina”, escreveu Márcio Faria no termo que entregou aos investigadores.
Sobre a delação, o Palácio do Planalto afirmou em nota que “o presidente Michel Temer jamais tratou de valores com o senhor Márcio Faria” e que “o presidente contesta de forma categórica qualquer envolvimento de seu nome em negócios escusos”.
“[Temer] Nunca atuou em defesa de interesses particulares na Petrobras, nem defendeu pagamento de valores indevidos a terceiros”, diz a resposta, afirmando que a narrativa do ex-executivo “não corresponde aos fatos e está baseada em uma mentira absoluta”.
“Nunca aconteceu encontro em que estivesse presente o ex-presidente da Câmara, Henrique Alves, com tais participantes. O que realmente ocorreu foi que, em 2010 na cidade de São Paulo, Faria foi levado ao presidente pelo então deputado Eduardo Cunha. A conversa, rápida e superficial, não versou sobre valores ou contratos na Petrobras. Isso já foi esclarecido anteriormente, quando da divulgação dessa suposta reunião”, diz a nota. (Folhapress)