O presidente Michel Temer decidiu processar Joesley Batista, sócio do grupo J&F, após o empresário afirmar, em entrevista à revista “Época”, que o peemedebista lidera a “maior organização criminosa do país”.
Temer vai divulgar uma longa nota ainda neste sábado (17) para dizer que entrará com ação civil e penal contra o empresário.
Segundo a Folha de S.Paulo, o presidente acredita que o Ministério Público Federal vai utilizar as novas declarações de Joesley para “reconstruir” a base da denúncia que deve apresentar contra ele na próxima semana.
Na nota, Temer acusará Joesley de proteger determinado partido político, em referência ao PT, e criticará a impunidade, também em citação indireta, desta vez em relação à PGR (Procuradoria-Geral da República) e seu comandante, Rodrigo Janot.
Na entrevista, o empresário diz que o ex-presidente Lula “institucionalizou” a corrupção no país, mas que nunca teve uma conversa não republicana com o petista.
Integrantes do governo admitem, em caráter reservado, que o discurso do empresário cria um novo abalo político para o Planalto, que está mergulhado em uma grave crise há um mês, desde que vieram a público os detalhes da delação da JBS.
A ordem de Temer, portanto, é manter a ofensiva contra a JBS e contra a PGR que, segundo assessores do presidente, claramente investe em uma “escalada” contra o governo, cujo próximo passo, acreditam, deve ser a prisão do ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB-BA).
À “Época”, Joesley afirma que Geddel era o “mensageiro” responsável por informar Temer sobre pagamentos feitos pelo empresário ao ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), preso desde o ano passado em Curitiba.
Ainda de acordo com Joesley, Geddel o procurava quinzenalmente para se atualizar sobre a compra do silêncio de Cunha e repassar as notícias ao presidente. “Era uma agonia terrível”, diz o empresário.
Em suas novas declarações, o sócio da J&F confirma o que disse em seu depoimento à PGR sobre pagar Cunha e o operador Lúcio Bolonha Funaro, também preso, para que ambos não o delatassem.
Para Joesley, Temer é o chefe de uma organização criminosa que contava com Cunha, Geddel, o ex-ministro Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), preso há dez dias, e os ministros Moreira Franco (Secretaria-Geral) e Eliseu Padilha (Casa Civil).
“Quem não está preso está hoje no Planalto. Essa turma é muita perigosa. Não pode brigar com eles”, diz Joesley.
Um dos principais auxiliares de Temer, Moreira nega qualquer irregularidade e diz que as declarações do empresário são uma “suspeição afrontosa”.
“Politicamente, dentro do PMDB, eu militei no grupo liderado pelo presidente Michel Temer mas jamais participei ou vi práticas ilícitas. É uma suspeição afrontosa o que esse senhor levanta”, declarou Moreira à reportagem.
BASE ALIADA
Auxiliares de Temer avaliavam como “frágeis” os elementos que seriam utilizados para sustentar as acusações contra o presidente -baseadas na gravação de uma conversa entre Temer e Joesley- mas agora admitem, em caráter reservado, que o novo discurso do empresário pode corroborar as suspeitas por corrupção, obstrução de justiça e formação de organização criminosa e robustecer a denúncia.
No Congresso, o plano da coalizão governista é partir para o ataque contra Joesley e o Ministério Público por meio da CPI criada, mas ainda não instalada, para tratar da delação da JBS.
Um dos aliados de Temer, o deputado Beto Mansur (PRB-SP) diz que o presidente é o primeiro a defender que tudo seja investigado e esclarecido: “Esse sujeito [Joesley] é réu confesso e tem um acordo de delação que o livrou desse monte de sujeira. Do outro lado, tem pessoas que negam as acusações. Tem que se investigar tudo.”
(FOLHA PRESS)
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