São Paulo – Em mais um sinal de que a crise da indústria automobilística deve se prolongar, a Mercedes-Benz anunciou nesta sexta-feira a demissão de 500 trabalhadores da fábrica de caminhões em São Bernardo do Campo, no ABC paulista. Eles fazem parte de um grupo de 750 funcionários que estava em lay-off (contratos suspensos) desde maio do ano passado.
A empresa alega ter ainda 1,2 mil excedentes e, em maio, dará férias coletivas a um grupo da área de produção, mas avalia número de pessoas e período. A fábrica emprega cerca de 10,5 mil pessoas e atualmente opera quatro dias por semana. A unidade também produz ônibus e componentes.
“Diante de um cenário de ociosidade produtiva superior a 40% na fábrica de São Bernardo do Campo, a Mercedes-Benz precisa adotar novas medidas e soluções mais definitivas para continuar a gerenciar o excedente de pessoas na fábrica“, informa a montadora em nota.
O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC encaminhou aviso de greve à empresa e realizará, na quarta-feira, assembleia na fábrica para votar a paralisação.
O diretor do sindicato, Moisés Selerge Junior, criticou a postura da empresa e também a falta de atitude do governo Dilma Rousseff em não colocar em prática o Plano Nacional de Proteção ao Emprego que vem sendo discutido há mais de dois anos e que ajudaria a manter vagas em épocas de crise.
Os cortes na Mercedes vão ser efetivados em 4 de maio e a empresa oferece aos demitidos o pacote de benefícios do Programa de Demissão Voluntária (PDV) que está aberto até o dia 27, e prevê pagamento de nove salários extras. Os outros 250 trabalhadores do lay-off têm estabilidade e vão voltar à fábrica.
“Somando todo o período que os trabalhadores estão em lay-off e mais esses nove meses de salário, significa que estamos bancando 20 meses de renda sem atividade de trabalho“, diz o diretor de Comunicação e Relações Institucionais da Mercedes, Luiz Carlos Gomes de Moraes. “Não sei de nenhuma outra empresa que faça isso“.
Só neste ano as montadoras demitiram 3,6 mil trabalhadores, boa parte por meio de PDVs. Em todo o ano de 2014 foram fechadas 12,5 mil vagas. A indústria de autopeças, por sua vez, dispensou 25 mil pessoas no ano passado. O Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças) prevê mais 17 mil cortes neste ano.
A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) não projeta números para empregos no ano. Já para o mercado de caminhões, a previsão é de queda de 32%, para 90 mil unidades. A Mercedes deve acompanhar essa queda, informa Moraes.
Para a produção, a Anfavea prevê queda de 22,5% para caminhões e ônibus e de 9,3% para automóveis e comerciais leves. No primeiro trimestre a queda acumulada é de 49,3% só na produção de caminhões.
Outras fabricantes de caminhões estão adotando medidas de corte de produção. A Volvo colocará em banco de horas 1,5 mil trabalhadores do setor de caminhões de 20 de abril a 4 de maio. A Scania emendou o feriado de Tiradentes e não vai operar na segunda-feira. A empresa avalia medidas para maio. A MAN Latin América opera com jornada e salários reduzidos em 10%. Na Ford, 420 trabalhadores da linha de caminhões e de carros do ABC estão em banco de horas por tempo indeterminado. Na área de automóveis, todas as grandes fabricantes têm medidas de corte. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
(Estadão Conteúdo)