Cor, densidade, sabor e rótulo característico não são suficientes para afirmar se trata-se de um mel verdadeiro e de qualidade, o que faz com que a venda de mel falso e adulterado seja algo comum no Brasil. No último dia 21 de fevereiro, por exemplo, a Operação Xarope II, da Polícia Federal de Minas Gerais, desarticulou uma quadrilha que vendia mel falso e chegou a faturar cerca de R$ 4 milhões com a comercialização do produto. O mel era misturado a açúcar invertido, uma espécie de xarope, que mantinha as características visíveis comuns do produto, mas reduzia imensamente a qualidade.

Diante da repercussão, uma dúvida: como descobrir se o mel adquirido é verdadeiro ou falsificado? A especialista em abelhas e mestranda em Trato na Qualidade do Mel, Gisana Cristina Bueno, afirma que é difícil distinguir, mas há critérios que podem ser observados na hora de comprar o produto nos mercados e feiras.

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Gisana Cristina Bueno é Técnica na Universidade Federal de Goiás (UFG) e especialista em abelhas com e sem ferrão e na qualidade de seus méis. Foto: Acervo pessoal/Gisana

Segundo a especialista, a dificuldade começa na ausência de algo que o consumidor possa atestar em casa. “É muito complicado porque não tem teste caseiro que indica se o mel é de fato produzido pelas abelhas de fontes naturais”, destaca Gisana. As adulterações mais comuns só são acusadas em testes feitos em laboratório. Conforme a mestranda em Qualidade do Mel, é necessário realizar uma série de análises físico-químicas e microbiológicas que atestam a pureza do produto natural.

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Principais adulterações

Gisana conta que, no Brasil, não há uma fiscalização ferrenha que atue no mercado de mel. No entanto, é uma área com muitas possibilidades. “São vários tipos de adulteração e de falsificação. A pessoa pode adicionar açúcar, xarope, pode adicionar amido, pode armazenar errado esse mel”, afirma. A especialista explica que é comum adicionarem amido para dar textura, corantes para dar uma coloração mais atrativa e até xaropes, para intensificar o sabor.

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Os riscos de consumir mel de origem duvidosa são muitos. “De ter uma reação alérgica, ter contaminações químicas, risco microbiológico. O pessoal que adultera assim, nem tem noção da quantidade, do que está sendo colocado e de como aqueles ingredientes vão reagir entre si”, explica. “A pessoa pode ter alergia, dependendo do que é adicionado. Há a contaminação química, o mel pode estar tóxico e pode ter também que é o mais sério, que é a deficiência nutricional”, acrescenta a mestranda em Qualidade do Mel.

Dicas para evitar mel falso

Com cinco anos de estudo de abelhas e cerca de um ano e meio se especializando em mel, Gisana destaca alguns critérios que o consumidor deve observar antes da compra para evitar ser enganado com um produto falso ou de procedência duvidosa. Prestar atenção no rótulo, no fabricante e dar preferência para méis de produtores locais, confiáveis, são as principais recomendações.

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Conforme a instrução normativa do Ministério da Agricultura e Abastecimento, existem critérios que regulamentam a qualidade do mel, como por exemplo, as características sensoriais: cor, sabor e aroma, consistência, padrão físico-químico e acidez. Além disso, os testes levam em consideração a forma de acondicionamento do produto, se há presença de aditivos e contaminantes e as especificações de higiene na produção e demais processos. Se o produto for aprovado nos testes, ele terá um selo que ateste a normalidade.

De modo a garantir a segurança e a procedência dos produtos de origem animal, a administração pública, em diferentes instâncias, confere as agroindústrias que manipulam produtos de origem animal e que atendem os critérios exigidos pela legislação selos de inspeção, são eles: o SIM (Selo de Inspeção Municipal); o SIE (Selo de Inspeção Estadual); e o SIF (Selo de Inspeção Federal).

Selos de inspeção municipal, estadual e federal. Foto: Reprodução

De acordo com a especialista, os selos de inspeção de alimentos de origem animal (SIF, SIE e SIM) – que são expedidos após testes de regulação do produto – e devem constar nos rótulos. Ademais, é fundamental prestar atenção na descrição dos ingredientes especificados na embalagem. “Na lista de ingredientes tem que ter só mel, porque muitas vezes, pode ter mel vendido que tenha com xarope também. Então, o principal é olhar no rótulo se o ingrediente é apenas mel, que já é o primeiro passo. O segundo passo é olhar se tem um SIF. Se for comprar o mel e tiver o SIF, quer dizer que ele já foi aprovado nessas análises”, destaca Gisana.

Além de prestar atenção nos rótulos é importante que o consumidor fique atento também na origem do produto. Algumas quadrilhas especializadas em adulteração de mel, infelizmente, já conseguem falsificar também os selos de inspeção. Nestes casos, vale desconfiar dos preços praticados.

Geralmente, os méis adulterados possuem um preço mais atrativo, visto que o produto principal, que é o mel, não é comercializado puro, mas com outras substâncias que promovem o rendimento do líquido. “Tem que desconfiar de mel barato, é o primeiro passo também. O mel, normalmente, sai na faixa de no mínimo R$55 o litro”. O preço é coerente com as demandas da cadeia produtora, do tipo de abelha e na forma como o animal é tratado, relacionado a alimentação, forma de coleta e no grau de pureza.

Gisana no manejo das abelhas, no Apiário da UFG. Foto: Acervo pessoal/Gisana

Gisana destaca, inclusive, que não há como usar de parâmetro critérios como densidade, textura e coloração só no olho, por exemplo, pois são variáveis que mudam conforme a espécie de abelha e da alimentação da colméia. Portanto, a dica principal é comprar sempre de uma marca que o consumidor saiba da procedência ou, melhor ainda, de um pequeno produtor que seja confiável.

Nesse sentido, a especialista defende que a produção em meliponários responsáveis é feita de uma forma que respeita o ecossistema e protege os animais. “As abelhas são extremamente importantes e, ao contrário do que muita gente pensa, quando você compra mel, você está ajudando o meio ambiente, porque você está sustentando a cadeia do apicultor, e nós somos preservadores das abelhas. De uma forma que estamos sempre visando o ecossistema, visando salvar o máximo de colônias possível. Então é um trabalho totalmente ambiental, não é um trabalho de exploração animal”, ressalta Gisana.

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