Considerado peça-chave em uma eventual mudança de comando no governo, Henrique Meirelles já discutiu, reservadamente, a possibilidade de permanecer no Ministério da Fazenda caso Michel Temer seja substituído por Rodrigo Maia.
Em conversas com aliados e investidores sobre a deterioração do cenário político, o ministro apontou que a equipe econômica só aceitaria permanecer sob um novo presidente caso haja garantias de autonomia ampliada –principalmente sobre a escolha da cúpula do BNDES.
Ao longo da semana, Meirelles se reuniu com representantes do setor financeiro que o questionaram sobre o futuro da política econômica caso Maia assuma a Presidência da República. Ouviu apelos para que fique no ministério nessa hipótese.
O mercado quer atualizar suas previsões sobre a continuidade da agenda de reformas proposta por Temer, travada com a crise política provocada pelas acusações de corrupção contra o presidente. Pondera se Maia, que tem relação direta com o plenário da Câmara, teria capacidade de retomar esses planos.
A principal preocupação é a realização da reforma da Previdência. Investidores e banqueiros acreditam que Temer perdeu capital político e não será capaz de conduzir mudanças nas regras de aposentadoria na dimensão que julgam necessária. Maia tenta convencer o setor financeiro de que pode ser um novo fiador dessa agenda.
Na avaliação da equipe de Meirelles, uma reorganização do núcleo do Planalto em uma mudança de presidente poderia gerar dúvidas sobre a manutenção dessa pauta.
Uma das incógnitas seria a permanência de Eliseu Padilha na Casa Civil.
O ministro foi o principal articulador da proposta de reforma da Previdência de Temer. Apesar de embates entre as equipes política e econômica, Meirelles considerou Padilha um ator importante no avanço do projeto.
Um possível deslocamento do atual chefe da Casa Civil para uma pasta fora do Planalto, num eventual governo Maia, enfraqueceria, na visão desses auxiliares de Meirelles, as negociações políticas da reforma.
Por enquanto, Meirelles só trata timidamente da possibilidade de permanecer em uma equipe de Maia. Lembra que, quando aceitou ser o ministro da Fazenda de Temer, em maio de 2016, negociou cláusulas que lhe dariam liberdade para escolher seu time e estabelecer os rumos da política econômica.
Sob Maia, dizem auxiliares, seria necessária uma renegociação dos termos, com uma ampliação de seu poder.
Meirelles já demonstrou incômodo com interferências da ala política do governo Temer sobre aspectos que impactam diretamente as contas públicas. Reclamou também da escolha de Paulo Rabello de Castro para presidir o BNDES, por considerar que o economista abriu os cofres do banco em um momento de aperto fiscal.
Aliados apontam que uma das principais condições para a permanência de Meirelles no Ministério da Fazenda seria a garantia de que ele poderia nomear uma nova cúpula para a instituição.
A disposição do ministro diante de uma mudança de governo é comedida porque a dificuldade de recuperação econômica criou obstáculos para seus planos políticos.
Meirelles projetava uma candidatura ao Planalto em 2018, ancorada no discurso de que ele teria sido o idealizador de medidas que tirariam o país da recessão.
A manutenção do comando da equipe econômica também é uma expectativa de parte da classe política que acena com apoio a Maia. Em uma conversa nesta semana, o presidente do PSDB, Tasso Jereissati, que defende o desembarque do partido do governo Temer, disse ao presidente da Câmara que Meirelles é essencial para garantir a estabilidade do país. (Folhapress)