SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A médica reumatologista Gabriela Munhoz, 31, vai entrar com uma ação na Justiça para tentar reverter a destituição do cargo. Ela foi demitida do Hospital Sírio-Libanês após compartilhar dados sigilosos sobre o estado de saúde da ex-primeira dama Marisa Letícia Lula da Silva, em um grupo de WhatsApp.
“Nenhum dado que ela confirmou no WhatsApp foi oriundo do hospital. A única besteira foi dizer que ela estava lá. Ela não teve acesso a nada. O Sírio é muito criterioso com o acesso aos prontuários -tem senha e tudo. Ela sequer teve contato visual com Marisa”, afirmou o médico Mário Munhoz, pai de Gabriela, ao site da “Veja”.
Gabriela enviou mensagens no grupo MED IX”, formado por colegas da faculdade de medicina da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, onde se formou em 2009. Nas mensagens, iniciadas logo após dona Marisa ser internada no Sírio, no último dia 24, Gabriela conta aos colegas que ex-primeira dama estava internada no hospital após sofrer um AVC (Acidente Vascular Cerebral) hemorrágico de grau de nível 4 na escala Fisher (um dos mais graves) e que ela seria levada para a UTI.
As mensagens de Gabriela se espalharam em outros grupos de WhatsApp. O boletim médico divulgado horas depois pelo hospital faz referência à hemorragia cerebral por ruptura de um aneurisma, mas não deu detalhes técnicos a respeito da gravidade do diagnóstico.
Gabriela argumenta que não teve acesso ao prontuário da mulher do ex-presidente Lula, mas “apenas” se pronunciou sobre dados que já haviam sido divulgados na imprensa. Ela admite que cometeu um “equívoco” ao confirmá-los no WhatsApp, mas que isso não pode ser interpretado como quebra de sigilo médico.
De acordo com o Código de Ética Médica, é vedado ao médico “permitir o manuseio e o conhecimento dos prontuários por pessoas não obrigadas ao sigilo profissional quando sob sua responsabilidade”.
Também não é permitido “liberar cópias do prontuário sob sua guarda, salvo quando autorizado, por escrito, pelo paciente, para atender ordem judicial ou para a sua própria defesa.” No cenário de doentes “notáveis”, a informação para o público deve ocorrer por meio de boletim médico autorizado pelo paciente ou responsável.
“NÃO FIZ PIADAS”
A família de Gabriela tenta comprovar a inocência dela na Justiça para anular a demissão que consideram “sumária e inadequada. “Nós vamos de uma maneira ou de outra tentar reparar o dano que ela está sofrendo. Nós queremos primeiro comprovar que ela não quebrou nenhum sigilo nem o juramento de Hipócrates. Precisam ir atrás de quem passou a tomografia. Aí sim está a quebra da ética. Agora, confirmar num chat de médicos que aquela tomografia era um Fisher 4. Isso é uma leitura de um exame radiológico. Não é nem dado clínico nem radiológico. Qualquer médico com um mínimo de conhecimento sabe disso”, completou Munhoz.
Se conseguirem reverter a demissão, a família estuda entrar com uma ação por danos morais contra o Hospital Sírio-Libanês. Em nota enviado ao site da “Veja”, Gabriela afirma que não fez piadas ou ironias com o estado de saúde da ex-primeira dama e que não desejou seu mal.
“Minhas palavras foram descontextualizadas e distorcidas, não fiz piadas ou ironias com o estado de saúde da ex-primeira dama, não desejei seu mal, nem deixei que qualquer ideologia político-partidária interferisse na minha conduta médica. Infelizmente, acabei sendo usada em uma discussão política que jamais foi minha intenção. Até imagem de outra pessoa segurando um cartaz em manifestação atribuíram a mim”, disse a médica.