A primeira-ministra britânica, Theresa May, pediu ao Parlamento mais duas semanas para tentar arrancar da União Europeia (UE) uma mudança no acordo sobre o brexit que o torne mais palatável ao Legislativo.
“As conversas [com a governança europeia] estão em um momento crucial. Temos todos que manter a calma”, afirmou a líder conservadora, em pronunciamento no plenário.
Segundo ela, “fazendo as alterações necessárias ao ‘backstop’ [contestado mecanismo para evitar a volta dos controles na fronteira irlandesa], protegendo e aumentando os direitos trabalhistas e leis ambientais, e expandindo o papel do Parlamento na próxima fase de negociações, acredito que conseguiremos chegar a um pacto que esta Casa apoiará.”
May se comprometeu a voltar ao plenário no próximo dia 26 para atualizar os parlamentares sobre o andamento das tratativas com a UE -se, é claro, uma versão repaginada do acordo não tiver sido submetida a eles até lá.
No dia seguinte, os legisladores poderão votar emendas ao plano de ação apresentado pela chefe de governo, incluindo projetos para adiar a data de saída do bloco europeu (hoje fixada para 29 de março) ou constranger o Executivo a tirar do “cardápio” de opções um brexit a seco, sem qualquer acordo (o “no deal”).
Nenhuma dessas medidas seria vinculante, ou seja, o governo não estaria obrigado a adotá-las. Mas ir contra tais votos indicativos poderia fragilizar ainda mais o governo May, não de todo recuperado do massacre sofrido no Parlamento em janeiro, quando o acordo foi rejeitado por uma diferença de 230 votos.
O principal nome da oposição, Jeremy Corbyn, disse que a primeira-ministra está manobrando para que o acordo proposto por ela seja a única opção a um ‘no deal’. Para o líder trabalhista, trata-se de chantagem.
Na semana passada, ele enviou a May uma carta em que listava as condições dos opositores para aprovar o documento. A principal delas é o estabelecimento de uma união aduaneira permanente entre Reino Unido e UE.
Todo o quiproquó atual no Parlamento se dá em torno justamente da cláusula do acordo que prevê a criação de uma união aduaneira temporária, caso as partes demorem a concluir um acordo comercial pós-brexit que permita manter aberta da fronteira entre Irlanda do Norte [parte do Reino Unido] e Irlanda [membro da UE].
O temor dos eurocéticos mais radicais é que os territórios britânicos fiquem ‘presos’ nessa zona tarifária comum indefinidamente. De seu lado, May diz que a proposta trabalhista impediria o Reino Unido de firmar seus próprios acordos comerciais com países terceiros, fora do guarda-chuva europeu, o que contraria a vontade de emancipação segundo ela expressa no plebiscito de 2016 que determinou a separação britânica da Europa.
A União Europeia já descartou inúmeras vezes a possibilidade de reabrir o acordo para editar o protocolo que trata do “backstop” -Londres quer fixar um período de vigência do dispositivo ou ter a prerrogativa de se retirar da união aduaneira quando bem entender.
Em meio ao impasse, o governo conservador recebeu ao menos uma boa notícia na terça. Uma pesquisa do instituto YouGov publicada no jornal Times mostra que, se houvesse eleições antecipadas hoje no Reino Unido, o partido governista ganharia quatro assentos no Parlamento, enquanto a bancada trabalhista encolheria, perdendo 12 vagas.
A configuração hipotética devolveria ao conservadorismo a maioria simples perdida na desastrosa eleição de 2017, convocada por May para se fortalecer no comando do país, mas que no fim a deixou refém de um micropartido da Irlanda do Norte. (LUCAS NEVES, PARIS, FRANÇA (FOLHAPRESS)