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| Em 2 anos atrás

Mário Sérgio Cortella diz que tensão não pode se transformar em ruptura democrática

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Em Goiânia para conceder uma palestra no 12º Encontro Regional do Tribunal de Contas dos Municípios do Estado de Goiás (TCM-GO), o professor, escritor e filósofo Mário Sérgio Cortella declarou, durante coletiva de imprensa, que a tensão pela qual o Brasil passa não pode se transformar em ruptura.

“Uma democracia vive tensões, como é a organização da vida coletiva, na qual se procura não excluir quem pensa diferente e tem um projeto diverso. O que não pode é a tensão se transformar em ruptura. Por isso, as lideranças políticas e econômicas têm a tarefa de ajudar a sustentar a harmonia da convivência. É a harmonia dentro do conflito, sem que o conflito se transforme em confronto”, disse.

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Em relação à intolerância, Cortella mencionou o filósofo Karl Popper. “É preciso não tolerar a intolerância. Ele dizia que, se a gente tolera os intolerantes, eles utilizam a intolerância para destruir a tolerância. É necessário recusá-la com todos os mecanismos institucionais que estão na nossa Constituição, e cabe a cada liderança não se omitir nessa tarefa. Afinal, como diz uma antiga frase, os ausentes nunca têm razão.”

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Cortella também comentou sobre a pandemia de Covid-19. “Não tinha a expectativa de que nós pudéssemos sair melhores. Uma parte das pessoas se tornou melhor, mais solidária, mais fraterna, mais empática, mas há uma série de pessoas que eram imbecis antes da pandemia, persistiram de modo imbecil dentro dela e seguirão essa trajetória”, afirmou.

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Sobre a fome no país, o filósofo pontuou que “não há o que dizer” às pessoas que estão nessa situação. “Só é possível fazer. Não há possibilidade de saciar a fome de alguém com palavras de consolo. Ninguém morre de fome, mas de abandono.”

“Enquanto houver um ser humano próximo que tem algum alimento, essa pessoa não perecerá. Se houver outras pessoas, ele será apoiado, ajudado”, complementou. Segundo ele, “temos que questionar aqueles que não estão [com fome] se vamos nos acovardar e abandonar no caminho outras pessoas”.

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As mídias digitais foram um outro assunto abordado por Cortella. Para ele, as redes sociais não são excludentes, mas convergentes, e “foi possível amplificar a capacidade de colocar a mensagem filosófica em outros lugares sem que ela fosse banalizada”.

“Para mim, é absolutamente encantador ter essa proximidade. Em uma sala de aula, são 50, 40 pessoas. Hoje, tenho 16 milhões de seguidores, somando todas as redes”, destacou o filósofo, que, por outro lado, fez um alerta.

“As redes sociais, que são uma capacidade imensa de aproximação, também são o território do horror. Você mantém um tribunal em funcionamento 24 horas, sem recurso e sem habeas corpus. Precisamos cautela para não fazer com que algo encantador sirva para nos escravizar ou destruir”, frisou.

Cortella, por fim, argumentou que “nunca nós estivemos tão conectados e tão distantes”. Na sua percepção, “o nível de solidão aumentou muito, e a filosofia se dá muito bem com o desespero”.

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