Em 2015, a Marfrig, segunda maior empresa do setor de carnes no país, fez um plano: iria encolher para voltar a crescer apenas lá por 2018.
Mas a Operação Carne Fraca, da Polícia Federal, que abalou seus concorrentes, e a crise na JBS anteciparam seu projeto. Enquanto outras empresas encolheram, a Marfrig acaba de reabrir cinco frigoríficos para praticamente dobrar sua produção.
A Marfrig, que é dona de marcas de carnes como Bassi e Montana, voltou a operar nos municípios de Nova Xavantina (MT), Pirenópolis (GO), Paranaíba (MS), Alegrete (RS) e Ji-Paraná (RO).
A companhia começou 2017 com capacidade de abate de 170 mil cabeças de gado por mês. Com a expansão, calcula que terminará o ano com capacidade de 300 mil cabeças por mês. A estimativa de geração de empregos é de 4.500 vagas.
Além das novas unidades, a empresa decidiu abrir um segundo turno de operação da unidade de Mineiros (GO) e concluiu na quinta-feira (19) o arrendamento de um frigorífico em Pontes e Lacerda (MT), ainda sem prazo de abertura definido.
O presidente da companhia, Martin Secco, diz que o atual projeto de expansão é anterior aos eventos que abalaram seus principais concorrentes neste ano.
Parte da ampliação de capacidade corresponde a um resgate de cinco fábricas que haviam sido fechadas em 2015, num momento de baixa oferta de gado.
A reabertura era projetada inicialmente para o fim deste ano ou para 2018. Mas, com o cenário que surpreendeu o mercado em 2017, os planos se anteciparam, permitindo uma reabertura em 90 dias, tempo considerado recorde.
Em março, com a Operação Carne Fraca, os frigoríficos BRF e JBS estavam na mira, mas a Marfrig não foi citada.
O novelo em que se enrolou a JBS depois que veio à tona a delação dos irmãos Wesley e Joesley Batista, em maio, deixou sequelas ainda imensuráveis na gigante do setor. Na última terça (17) a JBS anunciou a paralisação das atividades de compra e abate de carne bovina em suas sete unidades em Mato Grosso do Sul -a decisão foi revertida na sexta (20), mas sinaliza a instabilidade a que estão submetidos os negócios da empresa.
Questionado, Secco evita fazer associação direta entre o crescimento da Marfrig e as dificuldades da JBS, mas seus cálculos sinalizam uma correlação. “Nós crescemos 25%, mas o volume de abate nacional não mudou”, diz.
Segundo o executivo, o mercado como um todo mudou em abril, após a Carne Fraca. “Veio uma indefinição, com fortes dificuldades durante duas ou três semanas.”
Em junho, o setor sofreu mais um golpe, quando os EUA anunciaram a suspensão das importações de carne bovina “in natura” do Brasil devido aos abcessos provocados pela vacinação dos animais contra febre aftosa.
A Carne Fraca foi vista no início como uma avalanche para todo o setor, influenciando preços internos e o volume exportado, com o fechamento de alguns mercados externos. Meses depois, porém, o aumento da oferta de gado se transformou num acelerador para as reinaugurações da Marfrig.
O retorno dessas unidades deve vir em cerca de 12 meses, pelas expectativas da companhia, que conta com a recuperação econômica e aguarda a reabertura do mercado americano de carne ainda neste ano. (Folhapress)