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Categorias: Política
| Em 11 anos atrás

Marconi e Paulo têm duelo positivo de obras na capital

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Texto disponível no Jornal Tribuna do Planalto, por Vassil Oliveira:

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Na semana do aniversário de 80 anos de Goiânia o assunto político dominante foi a disputa entre o governador Marconi Perillo (PSDB) e o prefeito Paulo Garcia (PT) para saber quem fez e faz mais pela cidade. Passado o 24 de outubro, é possível apontar quem ganhou a disputa? Não. Porque na prática o barulho é que importa – para eles.

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‘Vender’ a ideia de que fez e faz muito é mais re­levante, neste debate, do que apresentar resultados, porque os resultados são poucos: o goianiense precisa de mais. Ainda assim, diante do que há para ser co­memorado – ou justo por isso –, é preciso dizer: es­sa guerra não deixa de ser boa – para nós, cidadãos.

Em 1994, a hoje senadora Lúcia Vânia (PSDB) foi candidata a governadora pela chamada oposição – eram tempos de PMDB no poder em Goiás – e o seu mote era: “Lúcia Vânia fez, Lúcia Vânia faz.” Frase do jingle criado por Itamar Correia. Em 1998, candidato a governador, o marketing de Iris bradava: “Ele fez, ele faz e vai fazer muito mais.”

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Duda Mendonça, o marqueteiro por trás da primeira vitória de Lula (PT) à Presidência, esteve nas duas campanhas aqui, e daqui levou o ‘Ele fez, ele faz’ para todos os cantos do País onde fez campanha, e foram muitos. Por obra de Duda, e antes que este abraçasse o petista, até Paulo Maluf, em São Paulo, usou a frase bate-estaca.

Lembro disso porque a queda de braço entre Marconi e Paulo reedita, de forma indireta, esse mote. Mais por conta da estratégia do governador. Está claro que o tucano estabeleceu como meta apresentar-se como o maior tocador de obras que Goiás já viu, e que vê no ex-governador peemedebista Iris Rezende o único rival.

Não à toa, para se apresentar como quer, o governador puxa o tempo todo Iris para o comparativo. E tome lista de realizações… Como se os números carregassem a alma da importância de um metro de asfalto, uma tonelada de concreto, uma casa, um diploma, um sonho realizado.

Bom combate

O momento de Marconi é o do ‘ele fez, ele faz e, no ano que vem, se for reeleito, podem apostar, aliás, podem votar, vai fazer muito mais’. Este parece ser o raciocínio, a vontade e a luz de sua movimentação atual. Vaidade? Talvez. Mas talvez, também, ele cumpra com sagrada obediência o roteiro traçado por algum marqueteiro.

O comparativo com Paulo Garcia segue o fluxo, além de funcionar como apoio para dar visibilidade a ações e realizações, e promessas, que têm a ver com a Capital, onde a avaliação de sua imagem está no negativo. Reverter isso é a meta, essência de uma recuperação de imagem em curso. Não esqueçamos que habita na cidade o maior número de eleitores do Estado.

O governador Marconi Perillo tem, sim, obras para mostrar. E competência para capitalizar todas, inclusive as inacabadas. Assim como Paulo Garcia também tem trabalho realizado, e um bom mote: sustentabilidade. Peca apenas na outra ponta, a da capitalização. Questão de estilo.

Do ponto de vista eleitoral, o tucano tem razões para acreditar que sua estratégia produz os resultados que precisa porque foi dessa forma que chegou ao terceiro mandato.
Assim como Paulo Garcia não abre mão de seguir sua toada de insistir em princípios edificadores em lugar da poeira das palavras de ordem das obras iluminadas na mídia, ainda que eles possam significar urnas mais vazias.

Embora a disposição natural das pessoas seja avaliar como negativa uma disputa como esta, de Marconi X Paulo Garcia, porque governo não deve brigar com governo etc. etc., se olharmos bem ela não deixa de ser salutar, por se estabelecer no campo da competência: quem fez ou faz mais.

Com todos fazendo ‘mais’, a cidade lucra; nós, moradores, cidadãos, eleitores, aplaudimos e agradecemos, muito obrigado. Principalmente votando em novos mandatos para quem (nos) faz bem.

Você poderá até dizer: ah, mas há aí outro tipo de ‘competência’. A do uso de recursos públicos em propaganda. Sim. Um gasta menos, o outro, mais. Um tem menos para gastar, e o outro, bem mais. Um tem mais coragem de gastar, o outro prefere o discurso do comedimento. Estilos. E situações diferentes.

O povo sabe o que faz?

Com ou sem propaganda, a obra fala por si. Divulgar o que não existe ou não bate com a realidade é, no final das contas – a hora e vez do voto –, um tiro no pé. E não divulgar nada, divulgar mal ou divulgar de forma atabalhoada acabam sendo decisões tão questionáveis quanto gastar demais.

Em tudo, faz, fez e, pelo jeito, fará falta por muito tempo é o debate acerca da relevância das obras. Da sua alma. Que tem a ver com planejamento, gestão responsável, finalidade pública. Esse tipo de coisa que costuma frequentar os discursos dos políticos, mas não suas ações, porque têm justamente pouco resultado na atitude do voto.

Erguer uma ponte aqui, um viaduto ali, construir um hospital acolá, nada disso deveria ter como processo de decisão a vontade de querer mostrar quem fez e faz mais, ou a necessidade de atingir determinada classe social, bairro nevrálgico (para a política), público alvo. Mandato não é ato de vontade pessoal, é delegação popular.

Essa discussão, a bem da verdade, deve ser levada adiante, para os demais pré-candidatos a governador, condição na qual se encaixam igualmente Paulo Garcia e Marconi Perillo. Aliás, condição que fica reforçada com todo este debate do aniversário: como seria uma disputa entre os dois ano que vem?

Repare como é discurso fácil dizer “Meu programa de governo está sendo elaborado”, “Já tenho as melhores propostas para apresentar à sociedade”, “Sei exatamente o que o povo quer”, e, ao mesmo tempo, difícil ver isso materializado, no papel pelo menos, como um contrato, uma carta de compromissos.

Obras são decididas na cabeça de um ‘abençoado’, programas são lançados como insights de marqueteiros, projetos são elaborados por conta de uma ideia pescada de repente, numa conversa com aliados. Reputações acabam edificadas mais por habilidade politiqueira do que por atos de responsabilidade social que se sobreponham ao senso eleitoral.

Assim tem sido a crônica política de Goiás. Claro, nem sempre. O projeto Macambira-Anicuns, da prefeitura, é uma exceção. Assim como a criação da UEG (Universidade Estadual de Goiás), um rompante de prodigiosa proporção. Como merecem respeito, agora, a trincheira do Mutirama entregue por Paulo Garcia, e o hospital de urgências que Marconi constrói na região noroeste da Capital.

Fica uma última reflexão. Os políticos são assim porque os eleitores, sendo assim, os elegem, ou os eleitores os elegem porque são assim e assim os querem? Porque quem fez e faz os seus líderes é o povo – e ao povo o que é do povo.

A dúvida cruel na boca de urna: na relação povo e político, quem fez e quem faz mais, e melhor? Importante saber isso para ver quem leva a pior.

 

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