O ex-prefeito de Belo Horizonte Marcio Lacerda (PSB) anunciou nesta terça-feira (21) que retira sua candidatura ao governo de Minas Gerais. Ele havia registrado a candidatura junto à Justiça Eleitoral contrariando a determinação de seu partido para que concorresse a uma vaga ao Senado na chapa do governador e candidato à reeleição, Fernando Pimentel (PT).
“A velha política conseguiu me tirar dessa eleição”, afirmou Lacerda em carta. “Todos sabem que lutei e resisti. Minha indignação não aceitou essa negociata, essa imposição que agride não apenas a minha candidatura, mas a vontade soberana dos mineiros.”
Lacerda informou ainda que se desfiliará do PSB. “Este conchavo de sua direção nacional terá reflexos ainda mais profundos no PSB e, principalmente, nos olhos de quem enxergava neste partido alguma coisa diferente na vida partidária deste país.”
Caberá aos demais partidos da coligação (MDB, PDT, Pros, Podemos, PRB e PV) decidirem um substituto para Lacerda na chapa, que é composta ainda pelo candidato a vice, deputado estadual Adalclever Lopes (MDB), e por um candidato ao Senado, deputado federal Jaime Martins (Pros).
No último dia 1º, para seguir um acordo nacional com o PT, o presidente do PSB, Carlos Siqueira, determinou que Lacerda saísse da disputa e apoiasse Pimentel. O objetivo era evitar que Ciro Gomes (PDT), amigo de Lacerda, tivesse um palanque em Minas, além de retribuir o apoio petista à reeleição de Paulo Câmara (PSB) em Pernambuco -o que também tirou Marília Arraes (PT) da disputa ao governo pernambucano.
“Dois comandos partidários, de forma antidemocrática e arbitrária, fizeram, na calada da noite, nos porões sombrios dos gabinetes em Brasília, o mais podre dos conchavos políticos. A cúpula do PSB e do PT conspiraram para retirar a minha candidatura, impedindo a desvinculação definitiva do tradicional papel de braço do PT, desempenhado pelo PSB”, criticou Lacerda.
“Infelizmente essa é a política que ainda impera no Brasil. […] Não podemos mais deixar que acordos e conchavos de gabinete predominem sobre a vontade popular. […] A política continua sendo o grande instrumento de transformação social no Brasil, mas transformação mesmo precisa acontecer primeiro na forma de se fazer política”, completou.
Em resposta, Siqueira disse que a desistência é consequência natural da derrota que Lacerda sofreria na Justiça e criticou o ex-prefeito. “A atitude confere com o estilo: um político inseguro, vacilante, indeciso, que faz política sem qualquer consideração ao esteio de relações que ela implica, afirma não raro, com seu autoritarismo, uma tentativa de superar as fragilidades que promove, ao cultivar um personalismo, de natureza obviamente antidemocrática”, afirmou em carta.
Segundo Siqueira, não houve conchavo, mas uma construção coletiva. “Ou seja, diálogo não é conchavo; construir candidaturas viáveis não equivale a fazer má política; ouvir o conjunto de forças envolvidas não representa caudilhismo.”
Adversários de Lacerda na disputa também lamentaram sua saída. “Ele teria todo direito a se candidatar. Fico triste pela ausência do Marcio”, disse Antonio Anastasia (PSDB). “Perde a democracia, perde a qualidade da disputa e registro que é um enorme desrespeito a uma pessoa decente”, afirmou João Batista dos Mares Guia (Rede). “É revoltante, lamentável e inadmissível a atitude antidemocrática que guilhotinou uma candidatura legítima”, afirmou o candidato ao Senado Dinis Pinheiro (Solidariedade).
JUDICIALIZAÇÃO
Para manter sua candidatura, Lacerda recorreu a ações no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e no Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais (TRE-MG), mas obteve decisões contraditórias e não definitivas sobre o caso.
Apesar das ações anteriores, a validade da sua candidatura só seria decidida pela Justiça na ação relativa ao pedido de registro de candidatura e, na avaliação de Lacerda, o processo poderia se arrastar até as vésperas do primeiro turno, o que prejudicaria a campanha e sua coligação.
“Esse prazo alongado dificulta e muito a mobilização de apoiadores e, especialmente, tornará muito fragilizada a situação dos candidatos a deputado do PSB, que estão contra sua vontade, presentes em duas coligações”, afirmou Lacerda.
Os candidatos a deputado foram registrados na Justiça pela direção nacional do partido na coligação formada por PT, PR, PC do B e PSDC, enquanto a ala estadual ligada a Lacerda registrou coligação com MDB, PDT, Pros, Podemos, PRB e PV.
Caberá à Justiça decidir qual coligação é válida e poderá usufruir do tempo de TV do PSB. A tendência jurídica é que o partido fique na coligação petista, uma vez que Lacerda retirou sua candidatura. Líderes do PSB ligados a Lacerda dizem que ainda farão reunião para decidir a situação dos deputados.
Para barrar Lacerda, Siqueira chegou a trocar o comando do partido em Minas Gerais. O ex-prefeito, porém, resistiu à determinação do PSB e realizou uma convenção estadual, marcada por tumulto e agressões, que o escolheu como candidato. A convenção nacional do PSB, um dia depois, invalidou a reunião estadual.
Nesta terça, o TSE poderia decidir sobre a validade da mudança do comando do partido em Minas, o que ainda não resolveria a dúvida jurídica sobre a candidatura de Lacerda.
(FOLHA PRESS)