Tendo quase ultrapassado a quantidade de pesquisas sobre a morte da rainha Elizabeth II na internet no Brasil (o acontecimento mais procurado dos últimos meses), o debate entre os presidenciáveis na Globo, realizado nesta quinta-feira (29), foi marcado por acusações e ataques pessoais. De acordo com os trending topics do Twitter e do Google, foram milhões de pesquisas e citações sobre o assunto antes, durante e depois do programa, que durou cerca de 3 horas e reuniu Ciro Gomes (PDT), Felipe d’Avila (Novo), Jair Bolsonaro (PL), Lula (PT), Padre Kelmon (PTB), Simone Tebet (MDB) e Soraya Thronicke (União Brasil).
O debate contou com quatro blocos, destes, o primeiro e o terceiro com temas livres. Já o segundo e o quarto trazia temas sorteados pelo mediador Willina Bonner. Em todos os blocos, candidatos fizeram perguntas entre si, escolhendo para quem iria perguntar, entre aqueles que ainda não tivessem respondido no bloco. Como sempre, as interações envolveram pergunta, resposta, réplica e tréplica, mas com uma novidade: desta vez, os candidatos puderam dividir como quisessem três minutos entre resposta e tréplica. Ao final do quarto bloco, cada candidato pôde fazer as considerações finais.
Na ocasião, as propostas foram ofuscadas por outros assuntos que envolviam polêmicas. Já no primeiro bloco, com os candidatos enérgicos, Ciro Gomes, reforçando a estratégia de “impedir votos úteis” ao PT, abriu o debate perguntando para Lula e atacando seu antigo governo. Na internet, o pededista, foi amplamente criticado por escolher Lula e não Bolsonaro. Após isso, o candidato Padre Kelmon, escolhe Bolsonaro, e de certa forma o ajuda, reforçando a política do dos “500 milhões de doses de vacina e R$ 600 de auxílio”.
Bolsonaro reforça as falas de Kelmon sem deixar de criticar novamente o ex-presidente petista: “Não podemos voltar à cleptocracia que saqueava o Brasil. Não podemos continuar no país da roubalheira.”
Lula também foi alvo de todos os outros candidatos, que mencionaram casos de corrupção na era PT como o mensalão e o petrolão, situações econômicas do governo Dilma Rousseff. Assim como Bolsonaro, que também recebeu ataques de Ciro, Tebet e Soraya, mas teve apoio de Padre Kelmon e D’Avila.
Uma das situações peculiares, porém, foi Bolsonaro não fazer perguntas diretamente a Lula, seu principal oponente, assim, ambos ficaram apenas nos ataques. O presidente, inclusive, precisou ser repreendido por William Bonner algumas vezes por tentar falar quando não era seu momento.
Entre as trocas de acusações e ataques, Bolsonaro e Lula pediram direitos de resposta para rebater um ao outro para, no fim, continuarem se atacando entre si. O petista teve um pedido concedido após Bolsonaro citar acusações de corrupção contra o ex-presidente que, por sua vez, teve mais tempo de fala para responder sobre a suposta compra superfaturada de vacinas em seu governo revelada pela CPI da Covid no Senado.
O segundo bloco, porém, foi mais ameno, Bolsonaro, ficou mais apagado ao lado de D’ávila, que também não teve grandes momentos. Ciro e Lula protagonizaram situações onde falaram do passado, quando foram aliados e da campanha atual, em que o pedetista critica o ex-parceiro. Lula disse que nunca escondeu que teve a ajuda do ex-ministro para governar e retrucou críticas que ele tem feito ao PT. Ciro afirmou ter deixado o governo “justamente por conta das contradições de economia e, o mais grave, as morais”. Mas Ciro não recuou e novamente falou sobre corrupção.
Ainda no segundo bloco, Simone Tebet trouxe à tona, em pergunta para Jair Bolsonaro, sobre mudanças climáticas, o Padre Kelmon perguntou para Ciro Gomes sobre educação e Lula pergunta a Tebet, também, sobre meio ambiente.
Já no terceiro bloco, Bolsonaro continuou a dobradinha com padre Kelmon e Soraya, entre suas falas que acabam viralizando nas redes adotou um novo meme, a do candidato padre, após errar o nome de Kelmon. “Candidato Kelson”, diz ela, sendo corrigido por ele, “Kelmon”, ela replica “Kelvin?”, “Candidato padre”.
Ainda no terceiro bloco, com temas livres, Lula e Kelmon entraram em uma discussão ríspida e acalorada que levou Bonner a interromper o debate. O petista se irritou e não lidou bem com as provocações de Kelmon sobre corrupção chamando-o de “candidato laranja”, já que o religioso assumiu a candidatura do PTB após o ex-deputado Roberto Jefferson ser impedido pela Justiça Eleitoral. Os microfones foram cortados, e as câmeras não mostraram a cena por completo.
Por fim, no último bloco, já era nítido o cansaço dos candidatos, a discussão ficou menos fervorosa e houve espaço para exposição de ideias, entre elas sobre habitação, agricultura, saúde, educação e até sobre a Lei Rouanet. Esta última em pergunta relacionada a Cultura, com pergunta de Bolsonaro para Kelmon, onde protagonizaram falas incorretas e erráticas sobre o tema. Kelmon chegou a dar um exemplo de uma intervenção onde haviam pessoas peladas com o dedo “a gente sabe aonde”, segundo ele.
Ao todo, foram dados dez direitos de resposta nos quatro blocos, quatro a Lula, quatro a Bolsonaro, um a Kelmon e um a Soraya. Além de popular na internet, o último debate entre os candidatos antes do 1º turno também fez com que a Globo alcançasse ótima audiência, registrando média de 24,3 entre 22h30 e 1h49. No melhor momento, o programa alcançou 34,7 pontos.