Por João Lemes, especial para o Diário de Goiás
O MDB de Goiânia vive o dilema de encontrar um líder capaz de manter vivo na capital o legado do ex-prefeito e ex-governador Iris Rezende. Maior referência política do partido em Goiás, Iris morreu no último dia 9, por consequência de um acidente vascular cerebral (AVC) sofrido no dia 6 de agosto. O ex-ministro da Justiça já havia se aposentado da política com o fim do mandato como prefeito de Goiânia. Seu último ato na vida pública foi em 1º de janeiro deste ano, com a transmissão do cargo para seu sucessor, cumprindo anúncio feito dia 25 de agosto de 2020.
Com Iris afastado da vida política e das campanhas, o MDB recorreu ao ex-prefeito de Aparecida de Goiânia, Maguito Vilela, para disputar a Prefeitura da capital no ano passado. Ele saiu vitorioso nas urnas, foi empossado, mas não assumiu o cargo de fato em função da sua morte por complicações da covid-19. Maguito contraiu a doença no meio da campanha, o quadro de saúde se agravou e ele não se recuperou.
Candidato a vice na chapa emedebista, Rogério Cruz (Republicanos), que já estava no comando da prefeitura desde o início da gestão, assumiu em definitivo o cargo. Por divergências com a gestão do prefeito no Paço, os emedebistas decidiram entregar seus cargos e desembarcar da administração municipal no início de abril, rompendo um ciclo de 16 anos que começou em 2005, com a primeira gestão de Iris na prefeitura após a redemocratização.
Dirigentes e militantes do MDB na capital reconhecem que o partido não tem um nome natural, com a mesma liderança de Iris e Maguito. Mas dizem que esse não é um fator de grandes preocupações, pois acreditam que a sigla está bem estruturada, com uma militância consolidada. Destacam também a liderança do presidente regional, Daniel Vilela, na condução do processo de transição.
Sobre o papel de liderança, Daniel acredita que seu nome está mais em evidência neste momento por conta das eleições de 2022 e também porque ocupa a presidência regional. “Mas hoje, sem qualquer tom demagógico, posso dizer que somos um partido de muitos e inúmeros líderes.”
O dirigente tem opinião de que o MDB não perderá seu protagonismo na capital com a morte de seu principal líder, ainda que neste momento não esteja à frente da administração. Para ele, o partido é crucial na decisão de eleições e por isso é sempre procurado por outras legendas para formar alianças.
“Temos força, garra e entusiasmo para irmos ainda mais longe.”
Daniel Vilela
Ao falar de legado, Daniel reconhece as atuações de Iris Rezende e seu pai Maguito Vilela na vida pública como influenciadoras de gerações emedebistas. Iris tendo como principal marca obras de infraestrutura e Maguito com foco no social. “Qualquer emedebista que administrar uma cidade ou até o Estado e tiver isso em mente se sairá muito bem como gestor”, conclui.
O presidente metropolitano do MDB, Carlos Antunes Júnior, observa que por muitos anos o partido teve um candidato natural a prefeito na capital. “Era só falar de uma eleição em Goiânia e o MDB tinha um nome, que era o Iris Rezende. O MDB hoje não tem um nome, tem vários potenciais nomes, mas nenhum natural, igual era Iris”, analisa.
Sobre o legado do ex-prefeito, Carlos Júnior destaca o carinho que ele, como político, tinha por Goiânia.
“O partido tem de discutir um nome que possa assumir esse projeto para o futuro. A população de Goiânia vai cobrar em 2024 um nome à altura de Iris e Maguito para disputar a prefeitura.”
Questão secundária
Ex-presidente da Câmara de Goiânia e ex-secretário municipal de Governo, Andrey Azeredo avalia que a questão de nome para liderar o partido na capital e manter vivo o irismo é secundária. “A população de Goiânia já está suficientemente madura para entender que o que precisamos são de ideias viáveis e exequíveis”, diz. Ele cita que o legado de Iris foi mostrado na campanha do ano passado, tanto que Maguito Vilela, mesmo internado, foi vitorioso, “o que demonstra a confiança do eleitorado no MDB e seus membros em Goiânia”.
Para Andrey, a morte de Maguito trouxe um baque, mas nada que impeça que em 2024 o partido possa ter nome próprio viável. “A chama que moveu Maguito e Iris também é a que nos impulsiona.” A opção hoje “é por um gestor eficiente, com capacidade de ação”, e não salvador da pátria.
Vice-prefeito na gestão do petista Paulo Garcia (2013-2016), Agenor Mariano reconhece em Iris um grande conselheiro, mas não vê a ausência de um líder de maior expressão em Goiânia como problema. “Vejo o Daniel como grande líder do partido”, diz, citando que a tese de aliança com o governador Ronaldo Caiado (DEM) foi vencedora pela liderança do presidente regional.
“A força de Goiânia do partido deve-se muito ao Iris pelas belas administrações que ele fez ao longo dos anos, mas acredito que o eleitor vai entender quando levarmos para as ruas a discussão sobre o legado do Iris, porque nosso partido tem militância original, não é contratada”, acrescenta.
Para o ex-deputado federal Euler Morais, o MDB vive um novo desafio em Goiânia por ter perdido o comando da prefeitura e pela ausência dos seus dois principais líderes. “A atuação de Iris Rezende como líder maior do partido nessas últimas décadas teve grande reflexo na capital e no Estado. Mas o Daniel, como líder do partido, também residindo na capital e com a experiência que já adquiriu, mostra que tem um legado, um capital político que pode canalizar para robustecer o partido também em Goiânia”, diz.
Integrante da velha guarda emedebista, o ex-deputado federal constituinte Mauro Miranda adota tom conciliador e de cautela quando se trata de buscar um líder que dê continuidade ao legado de Iris Rezende em Goiânia. Diz que o partido vive um momento de angústia com a perda de dois líderes, mas cita os jovens que surgem com capacidade para manter as conquistas, entre eles Daniel Vilela.
Alianças
Entre os dirigentes emedebistas a conclusão é de que as alianças que estão sendo construídas para 2022 terão grandes reflexos nas eleições municipais de 2024. Além de indicar nomes na chapa majoritária, a aposta é no fortalecimento das bancadas na Assembleia e Câmara dos Deputados, e com isso capitanear novas lideranças. O entendimento é de que um partido robustecido também facilita a atração de nomes que hoje integram outras siglas.
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Euler Morais, por exemplo, tem opinião de que a aliança com o governador Caiado nas próximas eleições vai dar um norte de como o partido deve se organizar em nível municipal. “Nosso desafio é buscar a melhor estratégia para podermos avançar neste sentido. A perspectiva é de que a aliança com o governador abra um novo cenário para o partido também a partir de Goiânia. Temos condições de preparar nomes e conseguir uma grande performance aqui na cidade”, conclui. Agenor Mariano também defende a tese de que primeiro é preciso pensar em 2022, pois a eleição estadual terá influência na disputa municipal futura.
O presidente metropolitano Carlos Júnior lembra que a hora é de pensar 2022, mas o MDB tem de começar a discutir 2024. Ele faz a ressalva de que isso não significa ser irredutível e achar que o nome tenha de ser obrigatoriamente da sigla. A discussão envolve muitos partidos, o momento é outro e isso pode significar que surjam nomes mais viáveis que sejam de fora dos quadros emedebistas.
Sem Iris Rezende e Maguito, analistas avaliam que partido terá de se reoxigenar
O caminho para o MDB retomar o protagonismo na política goiana passa por uma reoxigenação do partido. É o que aponta análises dos cientistas políticos Pedro Célio, professor da Universidade Federal de Goiás (UFG), e Guilherme Carvalho, da UniAraguaia.
Pedro observa que, além da ausência dos dois principais líderes (os ex-prefeitos de Goiânia, Iris Rezende, e de Aparecida, Maguito Vilela), houve uma debandada de muitas lideranças, principalmente no interior, devido especialmente à aproximação de muitos iristas do governador Ronaldo Caiado (DEM).
“Para o MDB vir a ser protagonista em 2024 muito há de ocorrer, sendo que os fatores principais não dependem mais das estratégias do partido, mas passa por 2022”, diz Pedro Célio. Além disso, ele vê a necessidade de surgir um ou mais nomes no partido que consiga firmar-se perante as demais forças políticas e o eleitorado.
Sobre a gestão do MDB no Paço, Pedro tem opinião de que não se pode falar em irismo sem a presença de Iris Rezende. O que houve foi um ciclo na política regional marcado pela força impressionante da liderança do emedebista, avalia. “Se falarmos que a morte de Iris (ele já tinha se aposentado da política desde o início do ano) deixa um vácuo eleitoral, acho mais apropriado”, observa. Para o cientista político, na hipótese de se falar de legado, o que já é possível registrar é que Caiado hoje reúne muito mais os ex-iristas do que qualquer outra figura do próprio MDB o faz.
Partido atrativo
Guilherme Carvalho entende que o MDB, neste momento, precisa voltar a ser um partido mais atrativo para quadros políticos de grande expressão, até que ele possa novamente se reprojetar. “Acredito que o principal foco do MDB neste momento tem de ser a eleição de deputados federais, porque é isso que acaba por projetar a estrutura do partido em todos os sentidos e o torna mais atrativo para a vinda de novos quadros.”
Carvalho observa que a ciência política classifica o MDB como um partido que sobrevive basicamente de cargos. Sem isso ela acaba se amiudando, perdendo espaço. Assim, necessita de fazer alianças com quem está no poder. Desde quando o Maguito morreu eu achava que a única saída nesse momento era realmente o MDB aderir ao governo estadual. Vi como um caminho natural, já que o pacto com a prefeitura foi rompido, então é buscar o aliado mais forte e mais próximo.”
Guilherme defendeu dissertação de mestrado sobre a participação do MDB na Câmara dos Deputados. Uma das evidências a que chegou é de que o MDB sempre teve como estratégia principal disputar cargos no Legislativo. Isso facilita o acesso do partido tanto a cargos como a verbas como emendas orçamentárias e fundo partidário, por exemplo. Por consequência, torna o partido mais atrativo para novos quadros.O professor afirma que com as ausências de Iris e Maguito o MDB foi conduzido a um vácuo de lideranças. Para ele, embora o presidente regional Daniel Vilela e o prefeito de Aparecida de Goiânia, Gustavo Mendanha (que deixou o partido), sejam lideranças importantes, ainda estão em construção. Com isso a sigla, que era a principal reorganizadora das forças políticas, agora passa por uma reorganização e terá de dar um passo atrás, se tornando uma força auxiliar. (João Lemes, especial para o Diário de Goiás)