Manifestantes invadiram o Congresso do Paraguai nesta sexta-feira (31) horas depois que o Senado aprovou a emenda constitucional liberando a reeleição, três dias depois de uma manobra de aliados do presidente Horacio Cartes.
O aval à alteração da lei máxima foi dado enquanto milhares de pessoas protestavam do lado de fora da Câmara alta. Inicialmente, o grupo foi alvo da polícia, que disparou bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha.
O confronto se expandiu pelas ruas do centro de Assunção, enquanto outro grupo permaneceu em frente ao Congresso e conseguiu entrar. Os manifestantes atearam fogo em uma guarita, e as chamas atingiram parte do prédio.
Cerca de meia hora depois os bombeiros chegaram para conter as chamadas. Diante da violência dos protestos, a Câmara de Deputados -onde Cartes tem maioria- cancelou a sessão marcada para a manhã de sábado (1º) para avaliar o projeto.
A aprovação foi selada em sessão extraordinária presidida pelo segundo vice-presidente do Senado, o governista Julio César Velázquez. Acevedo se recusou a pôr a medida na pauta e o primeiro vice, Eduardo Petta, não estava lá.
Velázquez desacatou o presidente, e a medida recebeu o apoio de 25 dos 45 senadores. A manobra foi a mesma usada pelo governista na terça-feira (28) para mudar o regimento interno do Senado.
O grupo alterou a votação necessária para aprovar projetos de lei ou emendas constitucionais de maioria de dois terços para maioria simples e tirou o poder do presidente do Senado para acolher ou rejeitar projetos de lei.
As emendas no regimento asseguraram a aprovação da reeleição. Nesta sexta, Eduardo Petta voltou a afirmar que os governistas atropelam a mesa diretora e anunciam sessões em cima da hora para evitar o quórum máximo.
“Evidentemente estão monitorando todos os nossos colegas que não chegaram. Nem sequer dão a oportunidade a que eles saibam do que se trata. Estão fazendo a mesma coisa, obviamente vão atropelar [o presidente do Senado].”
REPRESSÃO
A repressão deixou dezenas de feridos, incluindo políticos. O presidente do Senado, Roberto Acevedo, foi atingido de raspão por uma bala de borracha, assim como o liberal Efraín Alegre e o deputado Édgar Costa.
O ministro do Interior, Tadeo Rojas, disse que os manifestantes provocaram os policiais e negou ter sido uma ordem do governo. Ele prometeu que a repressão não se repetiria, mas os agentes voltaram a agredir os ativistas.
Além dos governistas, também apoia a reeleição a esquerdista Frente Guasú, liderada por Fernando Lugo, senador e presidente derrubado em 2012 em um controvertido processo de impeachment que durou 36 horas.
Uma das justificativas para sua deposição no Senado foi justamente ter tentado aprovar a reeleição no Congresso. O mandato presidencial no Paraguai tem cinco anos e, oficialmente, Cartes deixa o governo em 2018.
(FOLHA PRESS)
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