SÃO PAULO, SP, e CURITIBA, PR (FOLHAPRESS) – Manifestantes e integrantes do MBL (Movimento Brasil Livre) contrários às ocupações de escolas tentaram retirar estudantes do Colégio Estadual Lysímaco Ferreira da Costa, em Curitiba (PR), na noite desta quinta-feira (27). A ação durou cerca de duas horas.
Os estudantes são contra a reforma da educação anunciada no último dia 22 pelo governo federal. O novo modelo será focado em especialização, com a flexibilização de disciplinas e o incentivo à expansão do ensino em tempo integral.
Por volta das 21h, ao menos cem pessoas forçaram a entrada no colégio, no bairro Água Verde, de acordo com o advogado Paulo Lenzi, de um grupo de defensores das ocupações. Ele disse que parte do grupo arrombou um portão e o restante entrou no local com ajuda do diretor da escola.
O advogado disse que integrantes do MBL tentaram depredar o colégio e arrombaram o portão que dá acesso à escola, onde estacionaram um carro com equipamento de som. A Polícia Militar forçou a retirada do grupo e do carro do estacionamento da escola. “Foi bem violento, a gente teve sorte que a Polícia Militar chegou”, disse Lenzi. Para evitar nova tentativa de invasão do colégio, os policiais fizeram um cordão de isolamento dentro e fora da escola. Por volta da 1h desta sexta (28), os PMs ainda permaneciam no local.
TENSÃO
Na última terça (25), a reportagem acompanhou um protesto contrário às ocupações. Cerca de 40 pais e alunos seguravam faixas, apitavam e gritavam “O colégio é nosso” em frente ao Colégio Estadual Lysímaco Ferreira da Costa. Motoristas buzinavam em apoio.
“A ocupação não deveria acontecer nessa hora. Não foi uma decisão democrática”, diz a aluna Fernanda Stall, 16, no terceiro ano do ensino médio. “Eu também sou contra a reforma, mas a gente quer aula”, afirma a jovem.
“Eu tenho medo do abandono a que os estudantes estão relegados”, comenta o empresário Jesiel Santos, pai de dois alunos de 11 anos.
Eles se queixam de que a decisão da ocupação foi tomada às pressas, e só quem é favorável a ela pode entrar na escola. “Eles até se dispõem ao diálogo, mas dizem que a decisão agora é do grupo”, diz o diretor Jailson da Silva Neco.
Do lado de dentro, cerca de 20 estudantes ocupavam o colégio. Reclamavam de xingamentos, ameaças e agressões. Fios elétricos foram cortados na tentativa de apagar a luz.
Em alguns minutos, ouviu-se um barulho no portão: com chutes, um aluno tentava forçar a entrada. “Prepara a barricada”, disse uma estudante. Um deles reforçou o portão com um pedaço de pau. Outra colocou um engradado como apoio.
No lado de fora, parte dos manifestantes começou a espalmar o portão, fazendo barulho. Uma mãe gritou: “Estão com medo, vagabundos?”. Os outros pediam: “Desocupa! Queremos aula!”.
Dois policiais militares olhavam de longe. À reportagem disseram que eram orientados a só interferir em caso de depredação do patrimônio público. O tumulto parou em alguns minutos, por intervenção de parte dos manifestantes.
A Secretaria da Segurança informou que tem desestimulado o confronto e que o governo está, desde o início, aberto ao diálogo. “Não podemos fazer valer nossas convicções com o uso da força”, disse o secretário Wagner Mesquita, para quem a reintegração de posse dos colégios é “a última alternativa”.
Para o movimento Ocupa Paraná, há uma tentativa de criminalizar as ocupações, inclusive a partir da morte do estudante Lucas Mota, na segunda (24). “A resolução deste conflito não está na violência e na truculência, e sim no diálogo”, disse o grupo, em nota.
Os estudantes dizem que só saem dos colégios se o governo federal retirar a medida provisória que trata da reforma do ensino médio.