Fugindo da crise venezuelana e das condições ruins em Boa Vista (RR), cerca de 450 índios da etnia warao chegaram nas últimas semanas a Manaus, levando a prefeitura a decretar estado de emergência.
Parte dos waraos está acampada ao lado da rodoviária, em sob barracas doadas e lonas. Outros grupos se alojaram em prédios precários no centro -na sexta-feira (5), um deles pegou fogo, desalojando cerca de 60 pessoas.
Por causa das condições insalubres, os waraos enfrentam um grande surto de catapora, que já matou uma criança de cinco meses que estava na rodoviária, além de tuberculose e pneumonia.
Outro warao, de 36 anos, morreu no centro, mas a causa da morte ainda não foi determinada. Amigos suspeitam que o motivo tenha sido o forte calor que fazia no prédio sem ventilação onde ele estava abrigado.
Naturais do nordeste da Venezuela (a cerca de 1.800 quilômetros de Manaus), os waraos começaram a chegar em dezembro e sobrevivem sobretudo de doações, da ajuda estatal, do artesanato que vendem pelas ruas e de alguns trabalhos ocasionais.
Nos locais onde se concentram, chama a atenção quantidade de crianças -são 180, segundo a Secretaria Estadual de Justiça. Muitas passam o dia pedindo esmola nas ruas.
Segundo o gerente da população em situação da Secretaria Estadual de Justiça, Gilmar Camabeth, o decreto de emergência foi discutido em um grupo intersetorial sobre o assunto que inclui a prefeitura, o governo estadual, o Ministério Público Federal e a Pastoral do Migrante, da Igreja Católica. O objetivo declarado da medida é acelerar a ajuda aos waraos.
“A prioridade agora é retirar todo mundo da rua”, disse Camabeth, durante visita ao acampamento na rodoviária.
À reportagem, waraos explicaram que, antes de chegar a Manaus, eles passaram um período em Boa Vista, a 780 quilômetros ao norte e mais próximo da Venezuela, mas que encontraram dificuldades em conseguir comida lá.
“Em Boa Vista, estávamos mais protegidos. Aqui, não tem teto e as crianças ficam perto dos carros, mas o bom é que aqui chega variedade de comida. Lá era só arroz com osso”, diz Anibal Perez, 29, que veio acompanhado da mulher e dos filhos de três e um ano.
A família está há três semanas em Manaus, depois de ter passado três meses em Boa Vista. Por enquanto, não pensam em voltar para a Venezuela: “Sabemos que está uma crise no Brasil, mas ao menos se consegue comida.” (Folhapress)