A contagem regressiva já começou. Restam apenas três dias para a realização da primeira etapa do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio).
Neste domingo (5), os 6,7 milhões de inscritos terão que resolver 90 questões nas áreas de linguagens, geografia, história e redação.
A duração da prova será de até 5h30. No domingo seguinte, dia 12, será a vez da segunda parte do exame, com mais 90 questões de matemática, química, física e biologia.
A dúvida de quem vai participar do teste, que seleciona vagas para a graduação das universidades federais do país, é: ainda dá para estudar há poucos dias da prova?
Para professores ouvidos pela reportagem, o ideal agora é fechar o livro. “Quem estudou, estudou. Agora é preciso conhecer o estilo da prova e, no máximo, fazer pequenas revisões de conteúdo, mas sem perder noites de sono”, diz Luis Valle, professor de geografia do Oficina do Estudante, de Campinas (SP).
Na primeira etapa, o candidato terá que dominar o texto. Seja lendo, interpretando e fazendo correlações de enunciados de questões com outras áreas do conhecimento, como também escrevendo. Todos terão que entregar uma redação, no formato dissertativo-argumentativo.
A reportagem entrevistou experts nas áreas de língua portuguesa, geografia, história e redação. Eles listaram possíveis temas que poderão cair nas provas e o que é preciso fazer na reta final.
1ª ETAPA: HUMANIDADES
LINGUAGENS: NADA DE REGRA
Para além de regras gramaticais, a prova de linguagens busca testar a proficiência do candidato enquanto leitor.
Então prepare-se para uma enxurrada de textos nas questões da área, diz Márcia Pelachin, professora de língua portuguesa do colégio Stockler, de São Paulo.
Para a especialista, a área de linguagens é ampla e aborda textos verbais e não-verbais (obras de arte, charge só com imagens e gráficos, por exemplo).
“É uma prova não pautada em regras, mas em relações com as diferentes linguagens”, diz.
Ainda segundo Pelachin, o candidato precisa encarar os textos de apoio -geralmente grandes -como um aliado. “Eles não estão ali para preencher um espaço.
Precisam ser lidos de forma atenta porque a resposta está neles”, afirma.
DICA DE ÚLTIMA HORA
Refaça provas anteriores e cronometre o tempo gasto. O tempo ideal para resolver uma questão não pode passar de três minutos.
O QUE PODE CAIR
Gêneros discursivos, literatura (escolas literárias), questões ligadas a artes plásticas (reproduções de telas, esculturas e obras mais contemporâneas) e gramática atrelada a interpretação de textos
HISTÓRIA: ESTABELEÇA RELAÇÕES
Em história, o candidato não precisará se preocupar com detalhes, do tipo: o ano exato em que ocorreu a Revolução Francesa.
Para Daniel Perry, especialista da área e coordenador do Anglo em São Paulo, “será exigida a compreensão do processo histórico dos fatos.”
Quem tiver um repertório amplo e conseguir fazer uma leitura atenta do enunciado das questões vai se sair na frente. O candidato poderá se deparar, segundo Perry, com muitos textos correlacionados, figuras e gráficos.
“O Enem gosta de abordar movimentos sociais ao longo da história. Uma questão pode falar de um conflito do Brasil colônia e relacioná-lo com os problemas de hoje. A prova é mais por aí.”
DICA DE ÚLTIMA HORA
Revisite as provas anteriores de história e fique de olho em dois acontecimentos: o centenário da Revolução Russa e os 500 anos da Reforma Protestante.
O QUE PODE CAIR
Grécia e Roma (princípios da democracia); minorias sociais (mulher, negro e índio ); descolonização de África e Ásia; revoltas populares do Brasil colônia e da República e fatos contemporâneos (crise imigratória, xenofobia, atentados terroristas, nacionalismo e questões de gênero).
GEOGRAFIA: SEJA MAIS DO QUE UM CARTÓGRAFO
Para se sair bem na prova de geografia, o candidato terá que dominar conhecimentos que vão além da interpretação cartográfica -a leitura de mapas.
Para Luis Felipe Valle, professor da área no cursinho Oficina do Estudante, de Campinas (SP), a prova de geografia do Enem vai contextualizar acontecimentos recentes com conteúdos clássicos da disciplina.
“Aí não tem jeito: o candidato terá que saber o conteúdo e prestar muita atenção no enunciado das questões para marcar a alternativa certa”, diz.
“Muitas vezes, a prova traz afirmações corretas que não respondem a pergunta proposta. É preciso muita concentração.”
DICA DE ÚLTIMA HORA
Pegue as provas anteriores apenas para se familiarizar com o estilo. “Não adianta mais passar horas a fio resolvendo exercícios. A estafa pode causar um ‘apagão’ no dia da prova”, afirma.
O QUE PODE CAIR
Segundo Valle, os temas mais recorrentes são conflitos agrários; vegetação (ecossistemas do Brasil); assuntos ligados à globalização (modo de produção, meios de comunicação e desenvolvimento social); clima (sequência de furacões no Atlântico e aquecimento global); meio ambiente (desastre ambiental de Mariana (MG) ainda tem força) e noções de mapas, tabelas e gráficos.
REDAÇÃO: E OS DIREITOS HUMANOS?
Temida e, agora, polêmica. O formato ideal da redação do Enem entrou na berlinda há poucos dias da realização da prova após uma decisão judicial derrubar uma das regras balizares do exame: o respeito aos direitos humanos.
A ação, proposta pela Associação Escola Sem Partido, argumentou que a norma fere outro princípio constitucional: a liberdade de expressão.
O Inep (órgão do governo responsável pelo Enem) diz que vai recorrer da decisão assim que for notificado. No meio da guerra judicial estão os 6,7 milhões de candidatos que se perguntam: e agora?
Para Gabriela Carvalho, coordenadora de redação do Poliedro, na capital paulista, os estudantes precisam seguir a regra anterior.
“Até porque a decisão é liminar e pode cair a qualquer momento. De forma técnica, a dissertação nasce de um problema que fere os direitos humanos. Acho muito difícil um texto sair bem articulado fora desse parâmetro”, explica.
Carvalho explica que uma dissertação-argumentativa segue um formato muito rígido. Primeiro, é preciso redigir uma tese a partir do tema proposto no primeiro parágrafo. Nos seguintes, escrever argumentos factíveis que convençam a banca de que o problema tem causas e consequências e concluir com ao menos uma proposta de intervenção social que possa resolver a questão.
“Os alunos erram nessa continuidade. Começam num assunto e terminam noutro”, afirma.
A dificuldade em escrever uma dissertação, diz a especialista, está na falta de familiaridade com o formato. “Você não encontra uma dissertação nos jornais, nas revistas e nem na internet. É um texto forjado e inventado de caráter sociológico em que o autor precisa expressar o que acha e pensa de um assunto. A dissertação é a filha mais nova de um texto acadêmico”, explica.
DICAS DE ÚLTIMA HORA
Leia redações nota mil obtidas em exames anteriores. Isso vai ajudá-lo a entender o formato da redação. Se você tem problemas em formular uma tese, selecione um tema e escreva pequenos trechos, mas não faça várias redações. Sem correção, você pode levar erros para o exame oficial
O QUE PODE CAIR
Temas ligados à democracia, participação política, questões de gênero, inclusão social de pessoas com alguma deficiência e feminismo