Apesar da desistência do governo em aprovar a reforma da Previdência antes das eleições de outubro, eleitores apontam que o tema não deve sair do radar no debate eleitoral.
Pesquisa encomendada pela FenaPrevi (Federação Nacional de Previdência Privada) ao Instituto Ipsos aponta que 43% dos brasileiros dizem que será necessário fazer uma reforma da Previdência no futuro e 49% acreditam que o assunto deve ser tratado pelo novo presidente.
A maioria (51%), no entanto, avalia que o sistema previdenciário brasileiro é sustentável -apenas 28% consideram que o modelo vigente não se sustenta ao longo do tempo; 21% não têm opinião formada sobre o assunto.
Segundo Edson Franco, presidente da FenaPrevi, há uma aparente incoerência entre a porcentagem de quem acredita que a reforma é necessária e o número de pessoas que entendem que o INSS é sustentável.
“Parece haver um problema de comunicação. O que as pessoas entendem por sustentabilidade? Ao mesmo tempo, falou-se tanto sobre o tema que uma parcela se convenceu de que é preciso fazer algo. Pesquisas anteriores mostravam que poucas pessoas tinham ouvido falar sobre a reforma. Esse quadro mudou”, afirma.
Franco ressalta, no entanto, que os brasileiros continuam divididos sobre o assunto. “Temos a maioria das pessoas [43%] acreditando que a reforma é necessária, mas não é uma diferença esmagadora para os 38% que consideram que ela não é, além dos 19% que ainda não têm opinião”, diz.
A percepção de que há equilíbrio no INSS é maior entre os mais escolarizados: 52% dos entrevistados com ensino superior têm essa opinião. Entre pessoas sem nenhum grau de instrução, a porcentagem cai para 30%.
“Há um alto nível de desinformação na sociedade. Falhamos em passar a mensagem adequada ao público. Para 53%, o sistema de previdência pública deve se manter com os próprios recursos. Isso demonstra que as pessoas não entendem o tamanho e a importância do déficit que existe hoje na Previdência e que deve chegar a R$ 200 bilhões só neste ano”, afirma Franco.
Outros 31% dos entrevistados afirmaram que o INSS deve ser mantido com verbas reservadas para outras áreas do orçamento do governo. “Dadas as questões demográficas de envelhecimento da população e projeções atuariais futuras, esse gasto da Previdência vai tirar dinheiro da saúde, educação, infraestrutura”, diz Franco.
Apenas 15% dos entrevistados apontaram que a origem dos rombos na Previdência está no modelo atual das aposentadorias e no envelhecimento da população. Para 75%, o maior problema do INSS é a corrupção e o desvio de verbas. “Acabar com a corrupção vai resolver muitos problemas do país, mas não necessariamente este da Previdência, porque a questão é sobre equilíbrio estrutural”, afirma Franco.
Mais da metade dos entrevistados (51%) afirmaram que querem se aposentar até 64 anos. A proposta do governo para a reforma, no entanto, elevava a ideia mínima para 65 anos (homens) e 62 (mulheres). Só 20% aceitam se aposentar com mais de 65 anos.
E quanto maior o grau de instrução dos entrevistados, maior a resistência: 19% dos indivíduos com apenas ensino fundamental I aceitariam se aposentar com 65 anos, enquanto esse valor cai para 9% das pessoas com ensino superior.
“A reforma é em favor da população, mas é impopular, porque efetivamente mexe nos direitos das pessoas” diz Franco.
Apesar de quererem se apontar mais cedo, 43% dos entrevistados disseram que planejam seguir trabalhando após a aposentadoria para garantir o sustento. “As pessoas querem se aposentar cedo, talvez para receber o benefício o quanto antes, mesmo sabendo que terão que continuar trabalhando”, avalia Franco.
O INSS foi apontado como principal fonte de renda na fase de aposentadoria por 76% dos brasileiros –80% das pessoas da classe C (renda média familiar de R$ 2.268,46) declararam que dependem muito ou totalmente da aposentadoria pública.
A pesquisa mostrou ainda que 60% dos brasileiros acham necessário ter um plano de previdência complementar, e essa preocupação é maior entre os jovens adultos –entre pessoas com 25 e 34 anos, 63% declararam ser totalmente necessário ou necessário ter esse tipo de plano.
“Isso é um sinal positivo, porque quanto antes se começa a formar uma poupança previdenciária, menor será o esforço mensal para formar um fundo suficiente para complementar a renda de aposentadoria futura”, diz Franco.
O estudou do Instituto Ipsos ouviu 1.200 indivíduos, com idades entre 16 e 60 anos, de 72 municípios durante o mês de abril. A margem de erro é de três pontos percentuais. (Folhapress)
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