Ajoelhada na calçada e com olhar fixo em direção à Cadeia Pública Desembargador Raimundo Vidal Pessoa, no centro de Manaus, a faxineira Luciana Monteiro da Silva, 40, rezava na manhã deste domingo (8).
As preces eram em favor de seu filho, preso na unidade prisional que, nesta madrugada, foi palco de uma rebelião que matou cinco presos -três deles, decapitados.
“”Ele tá vivo. Meu filho! Deus é maior”, gritava a faxineira. À Folha de S.Paulo, Da Silva disse que o filho dela estava preso por envolvimento em roubos de sandálias e roupas.
“Ele estava no CDP [Centro de Detenção Provisória havia seis meses. Aí transferiram ele aqui para a Vidal”, disse ela.
Assim como Da Silva, outras cem pessoas, entre mães, mulheres e filhos dos detentos, fazem uma vigília na calçada da cadeia pública, após a ocorrência da rebelião.
Sem informações oficiais, os familiares têm feito de tudo para identificar os mortos deste domingo. E até trocam supostas imagens de corpos das vítimas do motim que têm circulado via aplicativo Whatsapp.
O alívio, para alguns, veio quando uma fotografia dos presos nus em processo de recontagem foi divulgada. Muitos parentes puderam confirmar que o familiar preso estava vivo.
Foi a inexistência de informação sobre os mortos, que gerou um tumulto entre os familiares e homens da Polícia Militar em frente a cadeia.
Mulheres dos presos tentaram bloquear com lixo as avenidas Duque de Caxias e 7 de Setembro, que dão acesso à unidade. Elas gritavam: “eles não são animais.” A polícia também chegou a atirar spray de pimenta contra as manifestantes para desfazer a manifestação.
REBELIÃO
Segundo o governo do Estado, os presos “iniciaram uma briga por motivo desconhecido” e todas as quatro vítimas foram mortas pelos próprios internos.
Em péssimas condições, a cadeia, que estava desativada, foi reaberta às pressas pelo governo do Amazonas nesta semana para abrigar 283 detentos após a matança de 56 presos no maior presídio do Amazonas. Utilizada pelo governo por mais de cem anos, a cadeia Desembargador Raimundo Vidal Pessoa foi desativada em outubro passado após pressões do CNJ (Conselho Nacional de Justiça).
Foram levados para lá, sem nenhum tipo de separação por alas, presos ligados à facção criminosa PCC, que são minoria no Estado, e outros sem facção que estavam no chamado “seguro”, como se chamam nos presídios as celas destinadas aos presos ameaçados pelo restante dos detentos.
Para o secretário estadual da Segurança Pública, Sergio Fontes, a rebelião não foi motivada por briga entre facções. “Todos [presos] eram ameaçados e não tinham convivência em outros presídios.” No início da semana, após a transferência, a unidade chegou a registrar um princípio de tumulto nesta última quinta-feira (5).
Neste domingo, a rebelião teve início por volta da 1h (3h, pelo horário de Brasília). No momento das mortes, só havia dois agentes penitenciários no local, segundo informou Rocinaldo Silva, presidente do sindicato dos servidores penitenciários do Estado. A reportagem solicitou e aguarda um posicionamento do governo do Amazonas.
Por volta das 6h, o motim já estava “totalmente sob controle”, informou Pedro Florêncio, secretário de Administração Penitenciária, do Amazonas.
Os quatro novos assassinatos de detentos no Amazonas neste domingo aprofunda ainda mais a crise penitenciária em que o país enfrenta desde o dia 1º deste ano. Até o momento, já são 99 presos mortos dentro do sistema prisional : AM (68), RR (33) e PB (2).
(FOLHA PRESS)
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