Um dia após vencerem o primeiro turno das eleições francesas, o centrista Emmanuel Macron e a ultra direitista Marine Le Pen voltaram nesta segunda-feira (24) à campanha, preparados para um calendário eleitoral apertado.
Macron teve 24,01% dos votos, enquanto Le Pen recebeu 21,3%, cifras bastante próximas daquelas previstas pelas pesquisas de opinião da véspera. O instituto Ipsos previu 24% contra 22%.
O segundo turno será realizado em 7 de maio. Será a primeira vez na história moderna da França que os dois principais partidos não irão concorrer à Presidência.
A disputa será travada entre o movimento independente Em Frente!, de Macron, e a sigla nacionalista Frente Nacional, de Le Pen.
Ambos tentarão retratar o rival como um representante do sistema, apesar de nenhum deles ser de fato um completo estranho à política.
Mesmo nunca eleito a um cargo público, Macron foi ministro da Economia do atual governo socialista e já recebeu o apoio de diversas figuras tradicionais, como o candidato conservador François Fillon e o ex-premiê socialista Manuel Valls.
Nesta segunda-feira (24) foi a vez do presidente da França, François Hollande, apoiar Macron. Ele disse que a presença da extrema direita no segundo turno “é um risco para o país”. “O que está em jogo é a composição francesa, sua unidade”, afirmou.
Le Pen, por sua vez, vinculou Macron ao governo e aos partidos tradicionais. “Ele é parte da velha guarda da política francesa, que é de uma maneira ou outra responsável por onde estamos hoje”, disse na segunda.
Le Pen tampouco está totalmente fora do sistema. Ela é membro do Parlamento Europeu e representa a Frente Nacional -que herdou de seu pai, Jean-Marie Le Pen. A família está há décadas na política, apesar de nunca ter chegado até a Presidência.
A campanha terá um ápice em 1º de maio, com manifestações previstas. Sindicatos marcham ao redor do país. Macron e Le Pen devem ir às ruas angariar o apoio dos trabalhadores.
No dia 3 de maio os candidatos comparecerão a um debate televisivo. É improvável que, dias antes do segundo turno, o debate transforme o resultado. Mas essa transmissão será seguida com ansiedade, e não apenas na França.
As eleições vão ser disputadas em torno da integração na União Europeia, defendida por Macron, ou de um plebiscito pela saída do bloco econômico, sugerido por Le Pen. A candidata também quer deixar a Otan, a aliança militar ocidental posturas que levaram líderes europeus a comemorar a liderança de Macron nas pesquisas.
No que foi visto como uma quebra de protocolo, o presidente da Comissão Europeia (braço Executivo do bloco), Jean-Claude Juncker congratulou o centrista por seu desempenho nas eleições.
A chanceler alemã, Angela Merkel, não havia se pronunciado pessoalmente, mas membros de seu governo repassaram seu entusiasmo pela campanha de Macron.
O instituto Ipsos prevê que o centrista vença a disputa no segundo turno com 62% dos votos contra 38%.
A campanha será interrompida por lei no dia 5, uma sexta-feira. Dois dias depois, no domingo, eleitores voltam às urnas para decidir quem será seu próximo presidente o resultado final será divulgado naquela mesma noite.
O vencedor não terá tempo para comemorar sua chegada à Presidência. Ambos Macron e Le Pen não têm presença no Parlamento e precisarão conquistar assentos para poder implementar as medidas que propõem.
Le Pen, por exemplo, necessita de apoio parlamentar se quiser convocar um referendo para modificar a Constituição e retirar a França da União Europeia. Macron planeja implementar reformas econômicas caso vença.
Em 2012 o presidente francês, François Hollande, e seu Partido Socialista conquistaram 280 assentos entre os 577 da Assembleia Nacional.
Passado o teste legislativo, o próximo presidente terá que lidar com um cenário bastante desfavorável. Eleitores estão descontentes com a maneira com que os partidos tradicionais lidaram com dois dos grandes temas do debate público nestes anos: a segurança e a economia.
A França foi recentemente alvo de diversos atentados terroristas, como os atentados que deixaram 130 mortos em Paris em novembro de 2015. Essa crise se sobrepõe às discussões sobre a migração -extremamente criticada por Le Pen, que gostaria de expulsar refugiados.
Ela disse na segunda-feira que Macron é “fraco” para lidar com a segurança da França. O programa dele pede a contratação de 10 mil policiais -e ele diz que a rival é que não tem experiência de governo para a tarefa.
Em termos econômicos, a França enfrenta um desemprego de cerca de 10% e um crescimento insatisfatório -resultados do início de 2017 devem ser divulgados antes do segundo turno, sem apontar nenhuma melhora. (Folhapress)