O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ao juiz federal Sergio Moro que candidatos a delator citam seu nome como condição para fechar um acordo com o Ministério Público Federal.
“Ele vai fazer delação premiada e na delação a condicionante – já faz alguns meses que eu vejo pela imprensa, no caso do Leo há alguns anos – é citar o nome do Lula”, disse o ex-presidente.
“Aí, doutor, eu me desculpo com todo o respeito que eu tenho pelo seu trabalho. Esse último mês foi o mês Lula, em que a senha era Lula. Vamos chamar todo mundo. Se pudesse ressuscitar o Conde de Monte Cristo, ele viria aqui falar: foi o Lula o culpado”, disse.
Lula citou especificamente os casos de Léo Pinheiro e Renato Duque, que depuseram ao Moro e citaram o ex-presidente.
“Eu vi o depoimento do Leo. Eu conheço o Leo antes e conheço o Leo naquele depoimento. Depois um cidadão condenado a 23 anos de cadeia ser chamado para a coisa mais importante que ele tem pra falar é que o Lula sabia”, disse. “Depois de condenarem e execrarem a imagem de um pai de família que por mais errado que tenha merece respeito, como o Duque a 40 anos de cadeia e depois prometer para ele liberdade se a senha for falar: “o Lula sabia”.
Moro não gostou e rebateu o ex-presidente. “Quem prometeu liberdade ao senhor Renato Duque?, perguntou Moro. O juiz também disse que Lula estava se baseando em informações da imprensa.
“Mas eu estou vendo. Como é que não prometeu. Eu estou vendo. Isso acontece, eu estou vendo.” Em uma crítica a Moro, Lula citou uma reportagem do ‘Fantástico’, da TV Globo, que mostrou como vivem os delatores Fernando Baiano, Pedro Barusco e Paulo Roberto Costa. “Um cidadão passou outro dia na televisão. Um mora numa praia não sei aonde, o outro mora não sei aonde num condomínio que só tem desembargador, o outro mora num apartamento não sei da onde fumando charuto cubano com o dinheiro roubado”, disse Lula.
Moro disse que “essas pessoas foram presas por ordem do juízo”. Lula rebateu. “Foram presas, delataram e saíram para gastar parte do dinheiro. E os que estão presos agora, que estão condenados a tantos anos, se sentem no direito de falar: bom, o problema é falar o nome do Lula? Se fosse minha filha, vá lá, se fosse minha mulher… Mas do Lula? Ele nem é mais presidente. Deixa eu citar ele aqui.”, disse o ex-presidente.
Moro afirmou que as considerações são equivocadas. “Ninguém dirige essas informações com esse intuito específico (de incriminar o ex-presidente)”, diz.
O procurador Carlos Fernando dos Santos Lima classificou a declaração de Lula como uma fantasia. “Em nenhum momento o Ministério Público prometeu qualquer benefício para qualquer pessoa que não tem acordo vir falar no processo”, disse Lima.
No final, o advogado de Lula, Cristiano Zanin, citou duas reportagens do jornal ‘Folha de S.Paulo’ para defender a tese de que candidatos a delatores são incentivados a falar de Lula.
“A defesa gostaria de fazer um registro de que o mesmo jornal Folha de S.Paulo, que foi objeto de perguntas formuladas por vossa excelência, só este jornal Folha de S.Paulo fez duas matérias com afirmação de que haveria a condicionante de que o senhor Leo Pinheiro só teria sua delação aceita se citasse o nome do ex-presidente Lula”, disse Zanin.
“Essas matérias, inclusive, serviram de base para um pedido de investigação que foi formalmente protocolado perante a Procuradoria-Geral da República. Então isso que está sendo dito, está sendo dito com base em matéria, como eu disse, de um veículo de imprensa que vossa excelência inclusive utilizou para formular suas perguntas.
Moro respondeu que citou o jornal apenas para formular perguntas específicas e de fatos concretos. “São especulações porque a investigação nem terminou e sequer o senhor Leo Pinheiro tem acordo de colaboração.” (Folhapress)