O Bradesco, segundo maior banco privado do país, registrou lucro quase 10% maior no segundo trimestre deste ano, a partir da melhora no segmento de seguros e avanços do crédito, com redução nas reservas em caso de calote.
A instituição financeira reportou nesta quinta-feira (26) lucro líquido ajustado de R$ 5,161 bilhões de abril a junho, alta de 9,7% ante mesmo período de 2017 -e igual avanço acumulado no primeiro semestre. Em relação ao primeiro trimestre de 2018, a alta foi de 1,2%.
“Crescemos no crédito para as famílias e empresas, reduzimos inadimplência e construímos um balanço bastante saudável. Pode até parecer surpreendente, mas para nós não é”, disse Octavio de Lazari Junior, presidente do Bradesco, em teleconferência com jornalistas.
A margem financeira total encolheu 5,1% na comparação anual, para R$ 15,1 bilhões. Outras receitas, no entanto, avançaram. As receitas com tarifas atingiram R$ 8,12, alta de 8,3% em 12 meses. Já o resultado das operações de seguros, previdência e capitalização subiu 23,8%, para R$ 2,2 bilhões.
“No que se refere às despesas, precisamos destacar o forte controle de custos com despesas de pessoal involuindo 0,3% e despesas administrativas crescendo somente 0,5%”, disse Lazari.
Após abrir em alta, porém, as ações do Bradesco recuavam cerca de 2% às 13h (horário de Brasília).
Em relatório, o BTG Pactual disse que, no geral, avalia os resultados como positivos. “No entanto, os números não foram fáceis de ler e acreditamos que muitos investidores verão o segundo trimestre com sentimentos contraditórios”, completou.
Segundo o banco de investimentos, o lucro reportado decepcionou ligeiramente e despesas operacionais também tiveram desempenho um pouco pior do que o esperado. O avanço no crédito, por outro lado, foi considerado “decente” e o maior destaque positivo segundo o banco foi, “sem sombra de dúvidas”, a melhora na qualidade os ativos, perceptível na queda da inadimplência.
A carteira de crédito expandida do banco no trimestre foi de R$ 515,6 bilhões, um crescimento de 6% na comparação trimestral e de 4,5% na base anual.
A alta foi impulsionada pelo surpreendente desempenho no financiamento para empresas, que subiu 7,8% de um trimestre para o outro, somando R$ 332,8 bilhões. Só em grandes empresas o aumento foi de 9,7% (R$ 21 bilhões). Na comparação com o segundo trimestre de 2017, a carteira para empresas avançou 3,5%.
Modalidades como capital de giro, financiamento imobiliário e repasses do BNDES ainda registraram retração. Mas operações no exterior e financiamento à exportação apresentaram melhora, influenciados pela desvalorização do real no período.
“A variação cambial tem um efeito na carteira, mas também tivemos originações mais fortes. O segmento, porém, ainda é afetado por um ritmo lento de investimentos. E as eleições podem ter impacto nisso, porque os investimentos das empresas ficam em compasso de espera”, explicou Carlos Firetti, diretor de relações com o mercado do Bradesco.
Na pessoa física, cuja carteira de crédito somou R$ 182,8 bilhões, a alta foi menor na sequência dos trimestres (2,8%), mas maior em relação ao ano passado (6,3%).
Segundo Lazari, o movimento de caminhoneiros que paralisou o país no fim de maio e atingiu todos os setores da economia teve um impacto marginal nas operações de crédito do banco. “As pessoas puderam continuar fazendo suas operações via internet ou mobile”, afirmou.
Os destaques do segmento foram os empréstimos para veículos (+13,9% em relação a 2017), consignado (+13,1%) e imóveis (+8,2%).
“Vale ressaltar que esta sequência de bons resultados está relacionada aos ganhos de sinergia advindos da aquisição do HSBC Brasil e ao aumento do volume de operações, refletindo a maior oferta de produtos e serviços aos clientes”, escreveu o banco no relatório.
Lazari disse que o banco tem apetite, capital e capacidade para acessar clientes e que o Bradesco está bem posicionado para expandir o volume de operações de crédito.
A despesa reservada para cobrir crédito duvidoso em caso de calote (PDD) foi de R$ 3,44 bilhões, o que representa uma queda de 36,1% em relação ao segundo trimestre de 2017 e 11,7% ante os três primeiros meses de 2018.
O índice de inadimplência total apresentou melhora pelo quinto trimestre consecutivo, a 3,92%, refletindo ajustes nos processos de concessão e recuperação de crédito, segundo o banco. Subindo há três trimestres, mesmo a inadimplência de grandes empresas caiu agora: de 2% no primeiro trimestre para 1,68%.
A expectativa é de que os indicadores de inadimplência voltem aos patamares anteriores à crise no fim do segundo semestre deste ano, disse Denise Pavarina, diretora de relações com investidores do banco.
“Ainda falta normalizar um pouco a inadimplência de pequenas e médias empresas”, completou Firetti.
Com o perfil da carteira dando sinais de melhora, o Bradesco reduziu sua faixa de previsão de PDD para 2018 de R$ 16 bilhões a R$ 19 bilhões para R$ 13 bilhões a R$ 16 bilhões. No primeiro semestre, já realizou R$ 7,3 bilhões.
“Nossa qualidade de crédito continuou melhorando, acompanhada da redução da PDD expandida. O que nos deixou confortáveis para a revisão do guidance [previsão] da PDD para baixo”, disse Lazari.
O banco reduziu também, porém, a previsão de alta dos prêmios de seguros no ano, de 4% a 8% para 2% a 6%.
As demais projeções não foram alteradas. “O mercado de seguros ainda sente os reflexos da conjuntura econômica”, observou Vinicius Albernaz, presidente do Grupo Bradesco Seguros.
Segundo Lazari, a capacidade de crescimento brasileira está preservada e o banco já vê sinais modestos de normalização da economia e da confiança.
“Obviamente que não estamos falando de uma volta eufórica, mas de um retorno consistente a uma base solida de recuperação das condições de crescimento da economia: juros baixos, inflação baixa e controlada, câmbio competitivo, excedentes de mão de obra e capacidade ociosa”, afirmou.
“Apesar de a economia crescer menos em 2018 do que projetávamos anteriormente, acreditamos que devemos retomar uma trajetória mais positiva em 2019”, completou. (Folhapress)