A Livraria Cultura anunciou, nesta quarta-feira (19), a compra da operação brasileira da Fnac. A notícia encerra por ora os boatos, que circulam há anos no mercado, de que a Cultura e a Saraiva preparavam uma fusão.
A multinacional francesa tem 12 lojas em sete Estados. A rede brasileira, por sua vez, tem 18 livrarias no país.
No comunicado da Fnac, empresa de capital aberto, a seus investidores no exterior, a rede afirma que sua marca será licenciada para a Cultura -o que sinaliza que as lojas manterão o mesmo nome.
Em nota, a Livraria Cultura diz que a “união entre os dois grupos criará valores e sinergias, compartilhando culturas similares e o comprometimento com a promoção da cultura no Brasil e permitirá que a Livraria Cultura diversifique seus negócios adicionando novas linhas dos produtos e serviços.”
A notícia surpreende em razão da situação financeira da Cultura, a terceira no segmento livreiro. O mercado editorial faturou R$ 5,2 bilhões em 2016.
A Saraiva, líder desse setor, se destaca por vender produtos diversos, como computadores e videogames. Sexta no ranking, a Fnac passou a privilegiar eletroeletrônicos em detrimento dos livros e pode preencher essa lacuna nas prateleiras da Cultura.
Considerada por anos a melhor pagadora do mercado, desde 2016 a Cultura tem atrasado pagamentos aos editores –ou “renegociado”, termo usado por sócios ao comentar o assunto em entrevistas.
Recentemente, por exemplo, a livraria propôs a editores que as vendas feitas no primeiro semestre deste ano sejam pagas, parceladas, entre janeiro e dezembro de 2018.
Como o mercado editorial trabalha com consignação, pagamentos em até 180 dias são comuns, além dos atrasos. A diferença é que não aconteciam antes com a Cultura.
Ano passado, o fundo de investimentos NEO deixou a sociedade com a livraria, que comprou os 25% de participação que os investidores tinham desde 2009, quando começou a expansão da rede com novas lojas.
Procurada, a Livraria Cultura diz não comentar rumores de mercado.
A Cultura pretende, com a compra, diversificar seus negócios “adicionando novas linhas dos produtos e serviços”.
Esse ponto do comunicado da empresa também chama a atenção. Nos últimos anos, os livros perderam cada vez mais espaço nas lojas da Fnac.
A rede francesa, porém, continuava importante fonte de receitas para editoras de quadrinhos e obras no segmento infantojuvenil, em especial livros do mundo nerd.
A compra da Fnac deve ser fechada nas próximas semanas. As cifras e os detalhes do negócio não foram divulgados.
Outro sinal da mudança de estratégia é o fato de a Cultura ter passado a cuidar da operação de e-commerce da CNOVA, rede que reúne Casas Bahia, Ponto Frio e Extra.
As três lojas sempre venderam livros mais populares, como os de padres e autoajuda. (Folhapress)