Os dois presos mais emblemáticos da oposição venezuelana, Leopoldo López e Antonio Ledezma, que estavam em prisão domiciliar, foram detidos na madrugada desta terça-feira (1º) após seus apelos contra a Assembleia Constituinte do presidente Nicolás Maduro, que será instalada na quarta-feira (2) para escrever uma nova Carta para o país.
“Acabam de levar Leopoldo de casa. Não sabemos onde está nem para onde o levam”, denunciou no Twitter a esposa de López, Lilian Tintori.
Os filhos de Ledezma, ex-prefeito de Caracas, Víctor, Vanessa e Antonietta, também informaram no Twitter que o Sebin levou seu pai.
As famílias indicaram que não sabem para qual prisão os dois foram levados e afirmaram que o presidente Nicolás Maduro é responsável pela vida de ambos.
O Tribunal Supremo de Justiça da Venezuela disse que revogou a prisão domiciliar e os mandou de volta para uma penitenciária porque ambos planejavam fugir.
Os advogados de López e Ledezma negam que os líderes tinham a intenção de escapar.
“Essa possibilidade é absolutamente inexistente”, disse o advogado de López, Juan Carlos Gutiérrez, que acrescentou que pelo menos seis agentes do Sebin com armamentos pesados participaram da operação.
As residências de López e Ledezma ficam na zona leste de Caracas, principal cenário dos protestos dos últimos quatro meses contra Maduro que deixaram mais de 120 mortos.
Tintori divulgou um vídeo da câmera de segurança da casa da família, que mostra quatro agentes e três homens com trajes civis no momento em que colocam López em uma viatura com identificação do Sebin (Serviço Bolivariano de Inteligência) e o levam, escoltado por outros veículos.
Líderes opositores e a imprensa divulgaram imagens gravadas com um telefone celular do momento em que Ledezma foi retirado, de pijama, com violência de sua casa. “Auxílio”, gritou o ex-prefeito. Depois é possível ouvir os gritos com pedidos de ajuda dos vizinhos.
López, de 46 anos, estava em prisão domiciliar desde 8 de julho, depois de passar três anos e cinco meses na prisão militar de Ramo Verde, nas proximidades de Caracas, onde cumpria uma pena de quase 14 anos, condenado pela acusação de instigar a violência nos protestos de 2014 contra Maduro, que deixaram 43 mortos.
Ledezma, de 62 anos, foi detido em fevereiro 2015, acusado de conspiração e associação para delinquir. Três meses depois obteve o benefício da prisão domiciliar por motivos de saúde, depois de ser operado de uma hérnia.
Os dois líderes opositores fizeram apelos na última semana para que as pessoas não votassem no domingo na eleição da polêmica Assembleia Constituinte, convocada por Maduro e rejeitada pela oposição e por vários países.
“Levam Leopoldo López e o prefeito Ledezma para provocar medo e nos desmoralizar (…) A ditadura tem seu tempo contado. Prisão e perseguição aos líderes não vai deter a rebelião”, disse o deputado Freddy Guevara.
A ONG Foro Penal afirma que a Venezuela tem 490 “presos políticos”, após a onda de detenções nos protestos iniciados em abril para exigir a saída de Maduro.
REAÇÕES
Para o presidente da Assembleia Nacional venezuelana, Julio Borges, “o governo está provando ser um governo ferido, que não tem razão, mas sim a força bruta para tentar assustar a sociedade”.
Em nota, o Itamaraty repudiou a detenção de López e Ledezma, bem como solidarizou-se com o sofrimento de seus familiares.
“A prisão de dois dos mais importantes opositores ao governo do presidente Nicolás Maduro é mais uma demonstração da falta de respeito às liberdades individuais e ao devido processo legal, pilares essenciais do regime democrático. O Brasil insta o governo venezuelano a libertar imediatamente López e Ledezma”, conclui a nota da chancelaria brasileira.
O Departamento de Estado dos EUA afirmou, em comunicado, que as prisões apresentam novas evidências de que Maduro “é um autoritário que não está disposto a respeitar os direitos humanos fundamentais”.
A ONU também condenou as detenções dos dois líderes opositores. “Estou profundamente preocupado que os líderes de oposição Leopoldo López e Antonio Ledezma tenham sido novamente levados sob custódia por autoridades venezuelanas após a prisão domiciliar deles ter sido revogada”, disse o alto comissário da ONU para os direitos humanos, Zeid Ra’ad al-Hussein.
“Faço um apelo às autoridades para que não tornem a situação já extremamente volátil ainda pior com o uso da força excessiva, incluindo por meio de invasões violentas de residências por forças de segurança que têm ocorrido em várias partes do país”, afirmou Hussein. (Folhapress)