Rio – O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, destacou nesta quarta-feira, 19, durante discurso no 34º Encontro Nacional de Comércio Exterior (Enaex), no Rio, que melhorar a competitividade do País passa por promover políticas horizontais, que não gerem benefícios pontuais a um ou outro setor. “Mais importante que uma desoneração aqui, outra ali, é ter uma política macroeconômica favorável ao crescimento, à exportação”, disse. “Temos compromisso de apoiar essas iniciativas que melhorem a competitividade do País. E o trabalho começa com políticas horizontais”, afirmou o ministro.
Aproveitar a oportunidade dada pelo câmbio mais desvalorizado também faz parte dessa nova agenda, sem “tentar segurar coisas que são da natureza”. Segundo Levy, a distorção de preços gera uma pior alocação de recursos. “A gente acaba gastando mais para fazer menos”, disse.
Outro ponto importante para melhorar a competitividade do País, reforçou o ministro, é a tranquilidade no aspecto fiscal. “Temos que ter condição e disposição de pagar o que é exigido pelo pacto social. Ao mesmo tempo, não podemos sair com novas despesas. Essa é a base de uma economia que trabalha de forma eficiente”, disse Levy.
Levy comentou que as políticas anticíclicas adotadas por diversos países para enfrentar o período pós-crise são temporárias, e agora o Brasil deve se voltar para seus problemas estruturais e trabalhar para ser competitivo. Segundo ele, um dos primeiros pontos desse novo momento da economia brasileira foi o ajuste do câmbio.
“Este é o momento de o Brasil olhar os problemas estruturais, fundamentais, acertar as coisas que precisam ser acertadas para ser realmente competitivo”, disse Levy. “O governo fez isso desde o dia 1º, com política monetária e câmbio realista. Na medida em que a gente teve os termos de troca ajustados, em parte por causa do fim da política anticíclica na China, que derrubou os preços de commodities, o câmbio se ajustou, e o governo fez o que deveria fazer, deixou o câmbio se ajustar.”
Levy lembrou que, entre 2002 e 2003, quando o País enfrentou uma crise de confiança, a “casa foi colocada em ordem porque havia perspectiva e otimismo com o futuro”. Além disso, por conta do trabalho de disciplina fiscal e de cuidado na gestão da economia, o governo pôde acompanhar os principais parceiros do G-20 em políticas anticíclicas quando a crise mundial chegou. Evidentemente, uma política anticíclica é temporária, e vimos nossos parceiros retirando isso. No fim do ano, a taxa de juros pode voltar a subir nos Estados Unidos. Ao mesmo tempo, há certo esgotamento na política anticíclica da China, o boom de investimentos se esgotou. A China está no momento de rebalanceamento da economia, e nosso momento não é diferente”, disse o ministro.
Após o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, fazer críticas às mudanças no Reintegra e no Proex, Levy afirmou que as linhas de crédito do Proex nunca estiveram em “bases tão sólidas como estão agora”. Levy destacou ainda a ampliação da alavancagem do Fundo Garantidor de Exportações (FGE), para “permitir maior número de negócios”, entre as boas medidas em prol do comércio exterior anunciadas pela equipe econômica.
Horas antes da chegada da chanceler da Alemanha ao País, Levy ainda destacou as ações do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic) na abertura de mercado, firmando acordos com México e iniciando negociações com Peru e Colômbia. “O encontro de Merkel com a presidente Dilma é importante para avançar no livre comércio com a União Europeia”, disse Levy, que deverá participar do jantar de recepção à comitiva alemã hoje à noite.
O ministro voltou também a defender o ajuste fiscal. Segundo Levy, o ajuste é indispensável, “não vai nos derrubar”, e é preciso encontrar soluções que reduzam os custos da economia. “Temos de encontrar soluções que reduzam os custos da economia, ter uma política fiscal que permita que o capital internacional venha aqui e ajude a enfrentar os gargalos. A orientação macroeconômica não pode ficar ao sabor de conveniências de um setor ou outro”, afirmou Levy.
Segundo Levy, a agenda de reformas sugerida pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), enfrenta alguns desses pontos, como o déficit da Previdência. Além disso, afirmou Levy, “precisamos pensar em como melhorar contratação e operação de contratos de infraestrutura”.
(Estadão Conteúdo)