Curitiba e São Paulo – A força-tarefa da Operação Lava Jato rastreia documentos sobre contas secretas que seriam mantidas no exterior pelo ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró e Fernando Falcão Soares, o Fernando Baiano – apontados como “braços” do PMDB no esquema de corrupção na estatal -, para tentar comprovar as informações prestadas pelo lobista Julio Camargo em depoimento no qual incriminou o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Na quinta-feira, Camargo, um dos delatores da Lava Jato, declarou à Justiça Federal que Cunha exigiu dele em 2011 US$ 5 milhões de propina para a manutenção de dois contratos de navios-sonda assinados pela coreana Samsung em parceria com a japonesa Mitsui.
Foi a primeira vez que Camargo, que fez colaboração premiada em outubro de 2014, citou Cunha como destinatário de propina. Como possui foro privilegiado, o presidente da Câmara é alvo de inquérito no Supremo Tribunal Federal que apura crimes de corrupção e lavagem de dinheiro.
Anteontem, o juiz federal Sérgio Moro, que conduz os processos da Lava Jato na primeira instância, em Curitiba, anexou extratos bancários com movimentações das contas aos autos da ação penal em que Cunha foi citado por Camargo. Os documentos foram enviados por autoridades da Suíça.
O lobista disse no depoimento que Fernando Baiano lhe relatou na época que estava sendo pressionado pelo deputado a pagar US$ 10 milhões “atrasados” de um total de US$ 30 milhões de propina – dos quais US$ 5 milhões seriam para o peemedebista. Camargo afirmou que depositou recursos em contas no exterior tendo como beneficiário Fernando Baiano após se encontrar pessoalmente com Cunha no Rio em 2011.
Os documentos anexados por Moro ao processo dizem respeito às contas Three Lions Energy Inc, Pentagram Energy Corp, Falcon Equity, Marbury Investment & Finance, Russel Advisors e Forbal – todas empresas offshores abertas por Baiano e Cerveró fora do Brasil para movimentar recursos em paraísos fiscais, conforme as investigações.
Na ação penal são réus Cerveró, Baiano e Camargo, entre outros, acusados de corrupção e lavagem de dinheiro. Nas próximas semanas, o juiz Sérgio Moro deverá decidir se condena ou não os acusados. Toda documentação arregimentada pela força-tarefa da Lava Jato na primeira instância é compartilhada com a Procuradoria-Geral da República, que conduz os inquéritos no âmbito do Supremo – entre eles o que investiga o presidente da Câmara. Caberá ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, a tarefa de oferecer ou não denúncia contra Cunha e as outras autoridades com prerrogativa de foro.
Para o Ministério Público Federal no Paraná, as movimentações já detectadas entre as contas das offshores Piamonte, atribuída a Camargo, para a Three Lions, atribuída a Fernando Baiano, e posteriormente para a Russel Advisors Inc, que seria mantida por Cerveró, comprovariam os pagamentos de propina no caso dos navios-sonda.
Fernando Baiano e Cerveró também foram ouvidos na quinta-feira passada por Moro em audiência da ação penal. Os dois permaneceram calados.
Procurado ontem pelo jornal O Estado de S. Paulo, Cunha disse por meio de sua assessoria que não tem qualquer envolvimento com o esquema de corrupção na Petrobras. “O presidente da Câmara não faz parte disso”, afirmou a assessoria.
Desde que o depoimento de Julio Camargo veio à tona,Cunha aponta “uma tentativa de constranger o Poder Legislativo”, tendo “por trás” o Executivo em articulação com Janot.
Anteontem, ele também atacou o juiz Sérgio Moro, afirmando que o magistrado “se acha o dono do mundo” e não poderia ter tomado depoimentos de investigados que citam autoridades com foro privilegiado. Moro reagiu e divulgou nota na qual afirma que “não cabe ao Juízo silenciar testemunhas ou acusados na condução do processo”.
A defesa de Fernando Baiano afirmou que desconhece os fatos relatados por Júlio Camargo na quinta-feira passada. De acordo com o advogado Nélio Machado, Fernando Baiano jamais admitiu possuir contas no exterior.
O advogado de Cerveró, Edson Ribeiro, negou que seu cliente tenha recebido propina referente aos contratos dos navios-sonda. “Não existe essa ligação. O Ministério Público vai ter de provar”, afirmou. Ribeiro não comentou as investigações envolvendo offshores mantidas fora do País e atribuídas ao ex-diretor da área Internacional da Petrobras. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
(Estadão Conteúdo)