Foi marcada para 12 de setembro a audiência de instrução e julgamento da dupla que tatuou a testa de um adolescente de 17 anos flagrado numa suposta tentativa de roubo a uma bicicleta em São Bernardo do Campo, na região metropolitana de São Paulo.
O tatuador Maycon Wesley Carvalho dos Reis, 27, e o pedreiro Ronildo Moreira de Araújo, 29, foram denunciados pelos crimes de lesão corporal gravíssima por ofender a integridade física e a saúde do adolescente em razão da deformidade permanente causada, por constrangimento à mediante violência e ameaça.
A audiência foi marcada pela juíza Daniela de Carvalho Duarte, da 5ª Vara Criminal de São Bernardo. Ela também negou o pedido para revogar a prisão da dupla, detidos desde o dia 9 de junho. A Secretaria da Segurança Pública disse na ocasião que eles confessaram o crime.
A pena máxima por lesão corporal gravíssima chega a oito anos de prisão. O crime de constrangimento ilegal, de três meses a um ano, e ameaça, de um a três meses. A acusação de tortura, que constava no inquérito policial, não foi incluída na denúncia. O crime prevê pena de até oito anos.
Na audiência de instrução, o juiz poderá dar a sentença no mesmo dia ou estabelecer um prazo para as duas partes -acusação e defesa- se manifestarem, o que adiaria a decisão.
O Tribunal de Justiça não informou o nome dos advogados dos dois acusados, já que o caso segue em segredo de Justiça.
O caso do adolescente ficou conhecido após a divulgação na internet de imagens dele sendo tatuado à força. Segundo a investigação, o garoto entrou em uma pensão de São Bernardo e mexeu em uma bicicleta, o que foi interpretado por dois moradores do local como uma tentativa de roubo.
O adolescente, que admitiu à reportagem ser usuário de drogas, contou que estava “muito bêbado” quando entrou no condomínio. “Eu coloquei a mão em uma bicicleta, mas não estava roubando. Nem sabia o que eu estava fazendo”.
O rapaz foi encontrado um dia depois por um tio próximo da casa em que mora. Ele prestou depoimento na delegacia e voltou para a casa da avó. “Quando o vi, comecei a chorar”, contou na ocasião Vando Aparecido Rocha, 33, que tem o nome do sobrinho tatuado no pulso esquerdo. “Ele é um filho para mim. Quero justiça”.
O adolescente está internado em uma clínica de reabilitação, em Mairiporã (na Grande SP), desde 13 de junho, onde também começou a passar por um tratamento para remoção da tatuagem. Tanto o tratamento antidrogas quanto o estético foram oferecidos gratuitamente ao adolescente após a repercussão do caso.
Dependente de crack, o rapaz está atualmente em um tratamento de abstinência e deve permanecer na reabilitação por pelo menos seis meses, segundo expectativa da própria clínica Grand House.
Já o processo para remoção da tatuagem, feito por um estabelecimento de São Bernardo do Campo, deve durar até março de 2018, já que são esperadas dez sessões, uma por mês. Representantes da clínica foram até a reabilitação para iniciar o procedimento. “O laser faz com que o corpo absorva a tinta”, explicou um funcionário. (Folhapress)