O juiz da 10ª Vara Federal em Brasília, Vallisney Oliveira, decidiu nesta quinta (6) manter a prisão do ex-ministro Geddel Vieira Lima, preso preventivamente desde segunda-feira (3) por suspeita de tentar atrapalhar investigações.
A prisão foi decretada no âmbito de uma ação em que são réus o ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o corretor de valores Lucio Funaro e o ex-vice-presidente da Caixa Fábio Cleto, entre outros, sob acusação de desvios no FI-FGTS, um fundo de investimentos da Caixa.
O processo derivou da Operação Sépsis, deflagrada em julho do ano passado. Geddel também é investigado pela Operação Cui Bono? por supostos desvios na Caixa entre 2011 e 2013, época em que ele ocupou uma das vice-presidências do banco estatal.
O principal motivo para a prisão de Geddel, um dos ex-ministros mais próximos de Michel Temer, foi o depoimento de Funaro em um dos inquéritos no STF (Supremo Tribunal Federal) que investiga o presidente da República.
Funaro entregou registros de ligações telefônicas feitas em maio por Geddel à sua mulher, Raquel. O corretor disse em depoimento que “estranhou” as ligações, pois Geddel “sondou” qual era a disposição dele, Funaro, de fazer uma delação premiada.
O juiz Oliveira reiterou que há indícios de autoria e materialidade de crime que justificam a prisão preventiva, além do pressuposto de preservação da ordem pública. “O argumento mais forte que levou a decretar a prisão foram esses telefonemas. Isso me pareceu grave. Pode haver uma certa influência, algo que possa prejudicar o resultado do processo”, afirmou o magistrado.
CONVERSAS TRIVIAIS
Na audiência de custódia, realizada na manhã desta quinta, Geddel disse ter “crença inabalável, convicção” de que não tomou nenhuma atitude que pudesse ser considerada obstrução da Justiça.
Questionado pelo procurador da República Anselmo Lopes, Geddel admitiu que conversou com a mulher de Funaro, por telefone, cerca de dez vezes de um ano para cá, mas disse que nunca tratou de assuntos ilícitos nem perguntou sobre a situação financeira dela.
O ex-ministro disse que geralmente retornava ligações feitas por Raquel, e que as conversas, rápidas, eram triviais. “Como vai? Tudo bem? Como é que está a família?”, disse Geddel.
Em resposta ao procurador, Geddel afirmou também que, no último ano, não teve qualquer contato com Eduardo Cunha, preso pela Lava Jato no Paraná.
O advogado de Geddel, Gamil Föppel, pediu ao juiz a revogação da prisão preventiva e a conversão dela em medidas cautelares alternativas, como uso de tornozeleira.
O defensor argumentou que, nos últimos dias, o Supremo soltou pessoas investigadas em outros processos -como o ex-assessor Rodrigo Rocha Loures, acusado de receber uma mala com R$ 500 mil da JBS para o presidente Temer, e parentes do senador Aécio Neves (PSDB-MG), também acusado de corrupção- e pediu tratamento semelhante para seu cliente.
Föppel sustentou ainda que os registros de ligações entregues por Funaro -“prints” da tela do celular de Raquel- não passaram por perícia e não podem usados como prova, e que a mulher do corretor de valores não foi ouvida pela Polícia Federal.
Além de decidir manter a prisão, o juiz Oliveira determinou que a PF ouça, com urgência, a mulher de Funaro sobre os telefonemas e realize uma perícia no telefone dela para analisar a autenticidade das ligações.