A Justiça espanhola condenou o empresário Francisco Correa a 51 anos de prisão dentro das investigações do chamado Caso Gürtel, o mais extenso da história moderna do país.
A trama, comparada àquela investigada no Brasil pela Lava Jato, castiga em especial a sigla governista Partido Popular, de centro-direita, já afetada por outros escândalos, e com uma progressiva perda de apoio eleitoral.
Dos 37 acusados, 29 foram condenados a um total de 351 anos. Os crimes analisados foram realizados na primeira fase da trama, de 1999 a 2005. Segundo a corte, são delitos que incluem fraude, falsificação de documentos, mal uso de verbas e tráfico de influência.”
Empresas escolhidas com o apoio de funcionários públicos gozavam de um trato arbitrário na contratação pública, com a finalidade de obtenção ilícita de importantes benefícios às custas dos cofres públicos”, disse o tribunal. “Recebiam as quantias em espécie mas também em serviços e presentes, como eventos, viagens e festas. Em outros casos, beneficiaram-se os familiares.”
Correa é considerado o líder da rede, que negociava contratos públicos. Tão central foi seu papel no esquema que os investigadores traduziram seu sobrenome para o alemão e batizaram as operações com ele: Gürtel, ou Correa.
A condenação desta quinta-feira (24), no entanto, refere-se apenas a uma parcela das acusações. O próprio empresário já havia sido condenado a 13 anos por um caso paralelo dentro da trama Gürtel. Há outros processos à espera de julgamento, e o caso em si já é investigado há dez anos na Espanha.
O tribunal também condenou Luis Bárcenas, ex-tesoureiro do Partido Popular que igualmente deu nome a um escândalo de financiamento ilegal, a 33 anos de prisão e uma multa de 44 milhões de euros –ele sonegou impostos e cobrou comissões em contratos públicos, segundo a corte. O caso de Bárcenas é delicado devido a sua proximidade com o premiê espanhol, o conservador Mariano Rajoy.
A sentença considerou que o próprio Partido Popular se beneficiou diretamente da trama como pessoa jurídica, e terá de pagar 245 mil euros. É uma má notícia para a sigla, que tem visto seu apoio popular minguar diante do centrista Cidadãos, liderado por Albert Rivera. Sondagens já começam a sugerir que os conservadores perderiam as eleições caso fossem feitas agora.
O Partido Popular, ademais, acaba de passar por outro escândalo, com a obtenção irregular de mestrado por parte da governadora da comunidade de Madri (uma espécie de Estado), Cristina Cifuentes, que renunciou ao cargo –ela foi recentemente filmada, ainda, em um suposto furto de cremes de beleza. (Folhapress)