A Justiça do Rio concedeu liberdade provisória ao tenente da Polícia Militar acusado de ter disparado o tiro que matou uma turista espanhola na Rocinha na manhã de segunda-feira (23).
O tenente Davi dos Santos Ribeiro, 30, havia tido prisão provisória pedida pela Polícia Civil pela morte de Maria Esperanza Jimenez, 67, morta durante um passeio de turismo na Rocinha.
Inicialmente, a PM alegou que o carro em que estavam os turistas havia rompido um bloqueio policial. O agente fez dois disparos de fuzil. Um dos tiros atravessou a janela traseira do carro e atingiu o pescoço da turista, que morreu antes de chegar ao hospital.
Testemunhas que estavam no carro, contudo, afirmaram em depoimento não terem recebido ordem de parar ou avistado qualquer bloqueio policial.
O agente foi indiciado por homicídio doloso qualificado, devido à impossibilidade de defesa da vítima. Cabe ao Ministério Público apresentar ou não denúncia contra o PM.
O tenente recebeu o direito à liberdade provisória após audiência de custódia no Tribunal de Justiça do Rio ocorrida na tarde desta terça-feira (24).
O juiz Juarez Costa de Andrade concedeu a liberdade com base no histórico funcional do policial. Segundo a PM, em sete anos de corporação o tenente nunca havia se envolvido em casos que terminassem em morte.
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O magistrado disse acreditar que solto o policial não irá comprometer as investigações e tampouco deverá voltar a cometer o mesmo crime pelo qual é investigado.
“Neste contexto, se de um lado, o trágico acontecimento repercutiu nesta capital e no mundo, fato é que o custodiado estava trabalhando, possui imaculada ficha funcional, não havendo indícios de que solto possa reiterar o comportamento criminoso ocorrido à luz do dia”, afirmou o juiz.
O juiz impôs, contudo, algumas restrições ao PM, como não atuar no policiamento ostensivo e manter contato com colegas que participam das operações na Rocinha ou possíveis testemunhas do processo.
Uma sucessão de erros levou à morte da turista espanhola. A PM do Rio divulgou que o manual de abordagem da corporação diz que não é para atirar em casos de carros que furem bloqueios ou blitze. O correto seria seguir o veículo e tentar interceptá-lo mais adiante.
Já a guia turística levou estrangeiros para uma zona conflagrada sem informar os riscos do passeio. A Rocinha vive há um mês disputa pelo controle da venda de drogas. A polícia tem feito operações diárias em busca de criminosos que entraram em guerra em 17 de setembro. As Forças Armadas chegaram a ocupar a favela por uma semana e voltaram por duas vezes ao local neste mês.
Os turistas subiram a favela a pé e depois foram buscados no alto do morro por um carro de passeio de luxo. O carro tinha os vidros escuros e o motorista era um italiano radicado no Brasil.
Segundo o delegado Fabio Barbosa, titular da Delegacia de Homicídios, que apura o caso, o carro dos turistas chegou a ser parado na entrada da favela e passou por uma revista pela polícia.
Depois disso, os turistas desembarcaram e iniciaram passeio a pé. Pouco depois, o carro subiu a favela para buscar os estrangeiros.
Nesse meio tempo, contudo, os três policiais envolvidos no episódio teriam recebido a informação de que um carro suspeito da mesma marca e com as mesmas características estaria subindo o morro. A versão foi dada por dois PMs que estavam com o tenente no momento dos disparos.
Um soldado do grupo chegou a disparar para o alto. Já o tenente Davi disparou duas vezes na direção do carro. O PM preferiu ficar calado em seu depoimento.
A versão foi informada à Polícia Civil pelos outros dois policiais que estavam no momento do ocorrido. O soldado será indiciado por disparo de arma de fogo, crime do código penal militar, mas que será apurado separadamente. Ele não é considerado envolvido na morte da turista. Já o tenente responderá por homicídio doloso, quando há intenção de matar. (Folhapress)