Morreu nesta quinta-feira (16), no Rio, o jornalista Villas-Bôas Corrêa. Ele tinha 93 anos e era considerado um mestre da reportagem política. Em mais de seis décadas de carreira, cultivou um estilo elegante que unia análise e informação de bastidores.
Carioca, formado em direito, Villas começou em 1948 no jornal “A Notícia”. Depois passou por veículos como “Tribuna da Imprensa”, “O Dia”, “O Estado de S. Paulo” e “Jornal do Brasil”. Também atuou no rádio e na televisão. Foi comentarista da Bandeirantes e das extintas TV Rio, TV Tupi, e Rede Manchete.
O batismo no jornalismo político foi na cobertura do que ele definia como “fase de ouro do Congresso”, no fim da década de 1940. Villas acompanhava os debates inflamados no Rio, capital do país até a inauguração de Brasília, em abril de 1960.
“Foi o último período da grande eloquência, dos grandes oradores, em que a tribuna era um show”, lembrou, em 1997, em depoimento ao CPDoc da Fundação Getúlio Vargas reproduzido no livro “Crônica Política do Rio de Janeiro”.
Num período em que os jornais começavam a se separar da militância política, Villas ajudou a firmar um estilo independente e apartidário. “Nunca declarei voto, nem em casa. Nunca assinei manifesto; nunca entrei em partido, nunca declarei apoio a ninguém”, contou, em 2008, ao site da Associação Brasileira de Imprensa.
Na entrevista, ele se definiu como “último sobrevivente da geração que cunhou o modelo de reportagem política que ainda hoje se pratica”.
Villas era considerado uma grife do “Jornal do Brasil”, onde inaugurou em 1956 a coluna “Coisas da Política” e trabalhou por mais de três décadas, em duas passagens.
No fim da carreira, fazia questão de assinar os artigos como “repórter político do JB”. Escreveu a última coluna em agosto de 2011, quando o jornal já havia deixado de ser publicado em papel.
Na entrevista ao CPDoc, o veterano contou que entrou no jornalismo para pagar as dívidas com o parto do segundo filho. Chegou à redação de “A Notícia” com um bilhete de recomendação para o diretor, Silva Ramos.
“Ele me recebeu com esta frase que eu nunca esqueci: ‘Seu sogro está dizendo que você é bacharel, mas isso não quer dizer necessariamente que você seja analfabeto. Tira o paletó, senta aí!’. Foi assim que eu comecei. Com seis meses de jornal, caí por acaso na política e nunca mais deixei este batente”, contou.
Em 2003, quando completou 80 anos, ele brincou com a idade ao ser homenageado pelo “JB”. “Oitenta anos é a última casa decorosa que o sujeito pode ter. Depois disso vira ancião, e em seguida, saudoso companheiro”, disse.
Villas morreu de falência múltipla de órgãos no Hospital São Lucas, em Copacabana, onde estava internado com problemas respiratórios havia uma semana. Seu corpo será cremado. Viúvo, o jornalista deixa dois filhos, três netos e três bisnetos.
O presidente Michel Temer lamentou a morte em nota oficial. “A morte do jornalista Villas-Bôas Corrêa é grande perda para o jornalismo brasileiro. Profissional arguto, ético e correto, ele fará falta no noticiário nacional, pois sempre enxergou os fatos acima dos pré-conceitos e da visão superficial. Villas-Bôas Corrêa é uma referência de seriedade que deixa um vazio imenso”, afirmou.