“Marconi não tem direito de não ser candidato”
Prefeito Jardel Sebba diz que só tem uma vaga na chapa de 2014 definida – a de governador para Marconi
Eduardo Sartorato, Filemon Pereira, Marcelo Tavares e Murillo Soares
Marconista de carterinha, como ele próprio se define, o prefeito de Catalão Jardel Sebba (PSDB) não trabalha com a possibilidade de o governador Marconi Perillo não se candidatar à reeleição no ano que vem. Como várias outras lideranças da base aliada, o prefeito acredita que o fato de o governador ter colocado um ponto de interrogação sobre o seu futuro político não passa de uma estratégia. Jardel acredita que Marconi foca 2013 em obras para se recuperar dos desgastes e alavancar o seu governo para 2014. “O Marconi político aparece no ano que vem”, defende. Em relação à administração em Catalão, Jardel Sebba garante que já cumpriu vários compromissos de campanha, principalmente na área de saúde e educação. O desafio, segundo ele, será melhorar o transporte coletivo. Para isso, a prefeitura se prepara para romper o contrato com a empresa atual. O prefeito Jardel Sebba visitou a sede da Tribuna na segunda, 23, onde concedeu a seguinte entrevista.
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Tribuna do Planalto – Em quase dez meses de administração, o que já deu para fazer e qual a radiografia do que é possível fazer na cidade?
Jardel Sebba – Em Catalão não existe eleição fácil porque é uma cidade polarizada. Foi uma eleição realizada em três turnos. Tive que ganhar a eleição, depois precisei ganhar monocraticamente no TRE e depois precisei ganhar por unanimidade no plenário do TSE. Só aí se conformaram que tinha ganhado a eleição. Já estava no quarto mês de mandato quando reconheceram a minha vitória. E foi uma transição traumática, porque lamentavelmente não houve transição. As secretarias não passaram informações. Na procuradoria jurídica os arquivos estavam todos apagados. Os quatro primeiros meses foram para tomar pé da situação. Levantamos as dívidas que somavam mais de R$ 5 milhões. Mas parei de olhar pelo retrovisor e comecei a olhar pelo para-brisa. Digo que com nove meses de governo já cumprimos boa parte dos nossos compromissos, principalmente na educação e saúde. Fizemos o compromisso de que o pediatra atenderia até às 22h. Temos farmácia popular funcionando até às 22h. No pronto socorro da Santa Casa, havia uma média de 40 a 45 reclamações por mês e em dois meses e meio depois da nossa gestão houve apenas três reclamações. Na educação, ainda no nosso primeiro mês de gestão, as creches passaram a funcionar até às 18h. Em julho funcionaram e em dezembro vão funcionar também.
Catalão tem gargalos com transporte coletivo. O sr. está rompendo um contrato de mais de 20 anos com a empresa atual?
O transporte coletivo é horroroso. Catalão tem cerca de 95 mil habitantes, mais de 100 bairros e apenas nove coletivos. Mais da metade não tem acessibilidade, são ônibus velhos e, às vezes, as pessoas ficam mais de uma hora e meia esperando o ônibus passar. Não tem horário ou periodicidade. Na campanha muita gente me alegou que ia para o trabalho a pé porque não tinha confiança no transporte. Prometi que ia resolver problema, mas existem amarras jurídicas. Tentei negociar, não tive reciprocidade, aí mandei comunicado que a partir de amanhã (terça, 24) nós vamos romper o contrato. Fizemos uma série de exigências que acho que não vão ser honradas e nós vamos publicar uma nova concorrência para o transporte coletivo de Catalão. Se for preciso, até vou subsidiar parte da passagem, mas quero honrar até o ano que vem o compromisso que mais me incomoda, porque aonde vou as pessoas me cobram isso e ainda não dei conta de cumprir. Se por acaso a justiça disser que estou agindo errado, pelo menos, vou dizer que fiz minha parte.
Há multa para o rompimento desse contrato?
Não há previsão, mas vou enfrentar esse problema jurídico. Tenho que dar essa satisfação para a sociedade, até porque a sociedade tem me avaliado positivamente. Uma pesquisa que fizemos, tive 79% de aprovação e 20,5% que desaprovam
Catalão tem se beneficiado do seu estreitamento com o governador?
Muito. Acho que a grande obra que fiz até agora em Catalão foi a pacificação da cidade. Catalão vivia como uma ilha. Era uma cidade isolada. Os ex-prefeitos de lá não recebiam o governador. Tinha o governador como adversário, como inimigo. Eu não. Sou do PSDB, a presidente Dilma Rousseff é do PT, e eu quero fazer convênio. Quero que a cidade se beneficie da minha administração. Catalão, apesar da pujança, só tem 50% de esgoto. Nós estamos fazendo mais 25%. Quero terminar minha administração com 100% de esgoto na cidade. Não quero deixar uma rua de Catalão sem asfalto. Fiz um convênio com o Estado de R$ 9 milhões para a recuperação do asfalto. Vamos recapear cem quilômetros lineares. Serão 700 mil metros quadrados de asfalto. Hoje nós estendemos a mão para todos os convênios e para todos os governos, independente da bandeira partidária. Este ganho a sociedade está sentido. O governador me deu uma prova de companheirismo que vou levar para o meu túmulo. A única cidade que ele foi depois do resultado da eleição e também na posse foi Catalão. Agora ele está liberando R$ 3,3 milhões para reformularmos o Ginásio Internacional, que cabe cinco mil pessoas. Não estou a cumprir um compromisso dele por culpa minha. Achei que com 30 mil metros quadrados nós faríamos um Centro de Referência e Excelência em Dependência Química (Credeq), mas é preciso de 70 mil metros. Vamos arrumar uma área para fazermos um Credeq em Catalão. Com isso, o Marconi honraria todos os compromisso que ele fez com nossa cidade.
Esgoto só se faz com parceria junto ao governo federal?
Não tem jeito de não ser. Se você faz 25% de esgoto, mais ou menos seis mil ligações, fica em R$ 30 milhões. A prefeitura de Catalão arrecada cerca de R$ 15 milhões, mais o Fundeb (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação). Então não tem como fazer uma obra de R$ 30 milhões a custo da prefeitura. Pelo convênio que fizemos, a prefeitura vai dar R$ 3 milhões em um ano e meio e o governo federal e a Caixa Econômica Federal vai investir R$ 27 milhões. Se a prefeitura fechar as portas para os convênios ou parcerias com o Governo Federal, você vai ser um prefeito que vai administrar folha e ficar fazendo pequenas obras.
O sr. falou que os prefeitos anteriores não queriam parcerias com o Estado, mas não havia também uma barreira por parte do governo estadual?
Não. O governo nunca se negou a ajudar. O ex-prefeito Adib (Elias) não foi nem na porta receber o Marconi e disse que o receberia como outro qualquer. Quando fui governador interino, o Marconi me autorizou uma obra para Catalão e pedi ao João Eneias Bretas para intermediar uma audiência minha com o Adib, mas ele se recusou. Propus na época de fazermos quase 400 casas, eu levava o cheque moradia do governo e ele dava a mão de obra e o terreno. Ele recusou. Nunca aceitou um convênio com o Estado. Ele falava que Catalão caminhava com as próprias pernas e realmente caminhou. Mas se tivesse aceitado os convênios, tinha caminhado muito melhor. Aí veio o Velomar, por quem tenho muito respeito e ganhou a eleição de mim. No final de novembro de 2010, quando o Marconi ganhou a eleição, procurei o Velomar e expliquei que tínhamos que trabalhar em sintonia para levar benefícios para Catalão. Ele ficou muito entusiasmado. Quando fui governador interino de novo, Marconi me autorizou fazer obras de R$ 1 milhão. Chamei o Velomar. Sei que ele queria vim, mas eles não deixaram ele vir. O Velomar é um homem de bem, um cara de boa índole. Só não veio e não fez o convênio porque as forças políticas que o ajudaram a ganhar a eleição o impediram. Isso é uma política que está muito ultrapassada, não tenho coragem de fazer esse tipo de política. Se tivesse um governador, mesmo sendo um adversário, ia com a maior tranquilidade do mundo, porque acho que Catalão não pode sofrer as consequências de divergência políticas pessoais.
Em Catalão a gente percebe uma cidade organizada. Os gestores do PMDB têm méritos?
Não tiro o mérito de ninguém. Só faço uma crítica e faço com contundência: se tá bom poderia estar melhor. Ninguém tem o direito de abrir mão de levar benefícios para quem realmente precisa por questões políticas. Porque quem precisa da prefeitura é o pessoal de classe média para baixo. Classe média, classe média alta não precisam de prefeitura. Você deixar de levar benefícios para as pessoas mais carentes por birra, isso me incomodava muito.
Como está essa situação do Clube Recreativo Atlético Catalano (Crac) em relação à prefeitura?
Da parte da prefeitura está tudo bem. Ajudei muito o Crac. Segundo (ex-jogador do Santos) Serginho Chulapa, não tem uma cidade do Brasil que a prefeitura dá R$ 1, 55 milhão para um time de futebol. Apanhei muito, porque eles queriam mais. Dei aquele valor e me pediram mais R$ 2 milhões. Evidente que neguei. Depois fiz uma enquete com a sociedade e dei mais R$ 300 mil. Tomo certo distanciamento da diretoria do Crac, de modo geral, e vou ajudar o Crac, mas não bancá-lo. Ano que vem darei R$ 500 mil e farei uma creche com R$ 1 milhão. A partir de 2015, serei um dos patrocinadores do Crac, enquanto for prefeito, dando R$ 300 mil por ano, se eles quiserem. E acho que time deve ter uma diretoria que tenha credibilidade e planejamento para arrumar patrocínio. Catalão tem várias empresas multinacionais, mas eles acreditam que o único lugar que há para se conseguir dinheiro é a prefeitura.
Como o sr. tem avaliado o momento do governador Marconi?
Marconi está fazendo o que sempre gostou de fazer. Ele sempre foi um tocador de obras, uma pessoa hiperativa. Ele teve um momento muito difícil no seu primeiro ano de gestão, pagando contas e administrando um passivo que, a partir do segundo turno, foi estrategicamente armado para ele não governar. Veio o segundo ano, quando achamos que a situação melhoraria e apareceu a história da CPMI que, ninguém esconde, foi de extremo desgaste para todos nós do governo. E agora vem o terceiro ano, quando ele vai fazer tudo. Falam em reeleição e, lógico, ele pulou fora. Ele fez muito bem falando que não é candidato, porque, falando isso, as pessoas vão começar a focar no que ele faz de produtivo, que são as viagens, as obras e inaugurações. Se você perguntar para mim, marconista de carteirinha, eu digo que é claro que ele será candidato, até por uma exigência nossa. Mas agora ele não tem que falar nisso, porque senão ninguém vai lembrar, admirar e reverenciar o que ele está fazendo de produtivo agora. Ele quer fazer uma administração. O Marconi político aparece no ano que vem. Ele não tem o direito de não ser candidato e isso vamos cobrar dele no momento certo.
Após 16 anos, ainda há um mote forte para esse grupo?
Um governo que se moderniza, procura se atualizar e não envelhece. Esse pique que o Marconi tem, com uma reformulação de malha viária do Estado, ainda há as OSs. Há ainda muito óleo para queimar e tenho plena convicção de que o povo que Goiás reconhecerá isso. Não tenho dúvidas. Ele ainda tem um planejamento muito bom. O governo Marconi não envelheceu. A prova disso é o sentimento da sociedade de continuar com algo que dá certo e está modernizando cada dia mais.
O desgaste do governador com a Operação Monte Carlo pode ter efeito na disputa do ano que vem?
Se a disputa fosse esse ano, teria. Mas como ele ainda tem todo esse ano para recuperar sua imagem, que foi arranhada, ele recuou de ser candidato para resgatar o Marconi administrador. E ele resgata com as obras, as realizações, a humildade e a onipresença dele.
O Marconi gestor resgata o Marconi político?
Com certeza absoluta. Se tem uma coisa que o Marconi sabe fazer melhor que todos nós juntos é política. Se ele resgatar a credibilidade dele como gestor, não tenho dúvida alguma de que ano que vem ele estará bem. Sou marconista, mas também sou realista. Repito, se as eleições fossem neste ano, teríamos muita dificuldade em ganhar, principalmente se tivéssemos uma oposição unida. Não quero criticar, mas percebe-se o quadro que está formado em Goiás. Então, tudo está conspirando para Marconi ganhar no ano que vem.
O fato de a oposição estar desunida não tem a ver com o desgaste do Marconi, a ideia de que qualquer um pode ser governador?
Tem muita gente achando que pode? Eu vejo uma briga entre dois grupos querendo disputar a eleição com o Marconi.
Quando o senhor fala dois grupos, diz Iris e Júnior?
É o que eu vejo ultimamente. O PT diz que apoiará quem o PMDB indicar. Vejo falar muito em uma Terceira Via, na qual, particularmente, não acredito.
O sr. fez um comentário no Twitter há algumas semanas e o deputado Ronaldo Caiado (DEM) o contra-atacou.
Fiz um comentário elogioso ao deputado Ronaldo Caiado. Comentei no Twitter que achava um desespero da oposição o PT cortejar Ronaldo Caiado. E ele me agrediu desnecessariamente. Depois o próprio PT disse que não está mais negociando com ele, e vice-versa.
O sr. acha possível a base aliada resgatar essa aliança com o Ronaldo?
Eu gostaria que sim. Tenho muita admiração pela contundência do deputado Ronaldo e vejo um problema pessoal com o Marconi, e não administrativo. E ele tenta levar um partido inteiro fazer algo que apenas ele quer. O resultado disso vemos com o José Eliton, que começou a conviver com Marconi, se apaixonou pela causa, saiu do DEM e foi para outro partido
E o Caiado pode ser um nome na chapa majoritária?
Acredito que sim, desde que ele tenha vontade e desprendimento para isso. Do nosso lado, vontade é o que nunca faltou. E nunca vi ninguém do nosso lado agredir o Caiado.
A chapa hoje está pré-montada, com Vilmar Rocha para o Senado e José Eliton para a vice?
Se tem algo que o Marconi tem de sobra é sabedoria. Você acha que a chapa está pré-montada, menos o cargo de governador. E eu te digo que apenas o posto de candidato a governador está definido. O resto vai ser montado com as forças e composições que forem aparecendo.
O sr. acha que pode haver uma disputa por essas outras vagas?
Não, porque se tem uma coisa que todos nós respeitamos é um pedido do Marconi. Tanto é que já apoiamos o Dr. Alcides, com tanta gente querendo concorrer ao governo. Ele nos chamou em uma sala e disse que seu candidato era o Alcides e nos pediu para apoiá-lo. O resultado todo mundo sabe. Agarramos com unhas e dentes a campanha, que foi uma campanha difícil, e conseguimos elegê-lo. Foi uma imposição do Marconi. Tenho certeza de que se o Marconi disser uma chapa, que ele julga ser a melhor para as eleições, todos apoiaremos. Só não podemos aceitar que ele não seja o candidato a governador.
Qual a melhor época para se definir essa chapa?
Acho que em maio, depois do Carnaval e da Semana Santa. Será um período de reclusão, articulação, pesquisa, consulta, conversa… Como sempre foi.
O secretário Vilmar Rocha já se antecipou dizendo ser pré-candidato ao Senado, e o governador, publicamente, disse que o apoiaria. Foge à normalidade?
Acho que não tem nada de mais em o Vilmar ser nosso candidato a senador. Assim como também acho que, pela grandeza do Vilmar, se ele ver, lá na frente, que alguém pode agregar mais para a nossa vitória, ele recuaria. Ele é um homem que só tem feito gestos de nobreza e grandeza. Tomara que ele emplaque, mas, se acontecer alguma coisa, sua grandeza ainda será muito grande.
Quem seria o melhor adversário para o Marconi: Iris ou Friboi?
Quem vier, é “três palitos”. (risos)
Como está a questão dos apoios em Catalão para deputado?
A deputado estadual, estamos estudando um bom candidato, que possa ganhar a eleição. Meu próprio vice-prefeito é um deles. Temos nossas divergências administrativas, mas, se ele estiver bem, terá o apoio. Tenho que apoiar um candidato a deputado estadual que esteja bem com a sociedade, porque, normalmente, conseguimos eleger um candidato da nossa região. Para deputado federal, fui eu que apresentei o Thiago Peixoto ao Marconi, quando estava disputando a presidência da Assembleia. Gosto e o admiro muito. O único defeito que ele tinha – não tem mais – era ser do PMDB. É um candidato que tenho prazer em anunciar que apoiarei e buscarei todos os esforços da região para fazer com que ele tenha uma excelente votação.
E o secretário de Ciência e Tecnologia, Mauro Fayad?
Mauro é meu primo irmão. Seu pai era irmão da minha mãe. Só que o Mauro não quer ser candidato. Ele já declarou que ficará no Estado até o fim do governo Marconi.
Como está esta divergência com o seu vice Rodrigo Curvelo, o Rodrigão?
Estamos tendo algumas divergências, as quais pretendo contornar. Gosto muito da pessoa do meu vice. Briguei muito para que ele, que é dirigente sindical, fosse meu vice. Ele é meu amigo pessoal e havia algumas forças que não concordavam que ele fosse meu vice, mas provei para todo mundo que ele agregava valor. Ganhamos as eleições, ele é meu secretário de Infraestrutura, tem amplos poderes, mas começamos a ter algumas divergências administrativas. Tivemos um começo muito bom, mas, de uns tempos pra cá, eu queria de um jeito e ele de outro. E acho que sempre tem que prevalecer a maneira do prefeito. Espero convencê-lo disso, porque é uma pessoa que tem um potencial político muito grande, carismática e que tenho um sentimento de amizade muito forte.
O sr. tem saudades da Assembleia Legislativa?
Muita. Brinco que na Assembleia a gente era feliz e não sabia. (Risos) Mentira, sabia sim, porque é um trabalho prazeroso, principalmente pra mim, que gosto de sempre estar nas cidades que eu represento. Acho que o presidente, deputado Helder Valin, é extremamente competente, qualificado e jeitoso, só que ele pegou a Assembleia e, logo depois, estamos passando por uma turbulência. Eu acompanho isso mais de longe, porque vou levar pro meu túmulo o fato de ter tido 41 votos entre 41 deputados para presidir a Assembleia. Isso meu deu uma responsabilidade muito grande. Não tem como não sentir falta, principalmente na hora dos meus apertos na prefeitura de Catalão, quando tenho que tomar uma grande decisão. (Risos)