“Se alguma investigação estiver madura até 15 de setembro [quando encerra o mandato e Raquel Dodge assume], eu ofereço a denúncia”, disse o procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Ele negou ter pressa para apresentar uma nova denúncia contra o presidente Michel Temer e disse que vai aceitar “com a maior naturalidade” a possível rejeição pela Câmara da ação já encaminhada. Janot participa de evento promovido pelo Brazil Institute, do Wilson Center, em Washington, nesta segunda-feira (19).
O procurador-geral, que está nos EUA também para encontro com autoridades norte-americanas, disse que seu trabalho está feito no que diz respeito à denúncia por corrupção passiva apresentada contra Temer com base na delação premiada do empresário Joesley Batista, da JBS. “Não vou insistir nessa denúncia, porque não tenho como insistir tecnicamente”. Caso a Câmara rejeite, o processo contra Temer seguirá apenas quando ele deixar o cargo de presidente.
Sem mencionar o nome de Joesley ou da JBS, Janot apresentou a colaboração que livrou os donos da empresa da cadeia como “a grande polêmica que se tem hoje no Brasil”, e garantiu que, mesmo depois de toda a polêmica, faria tudo de novo “sem o menor drama de consciência”.
“Essas pessoas procuraram agentes do Ministério Público para oferecer a possibilidade de um acordo penal. E envolviam altíssimas autoridades da República. A primeira reação nossa foi dizer ‘isso é mentira, não acredito que isso esteja acontecendo, é inacreditável que a prática continue de maneira aberta'”, contou.
“Ninguém se sente feliz concedendo imunidade a criminoso”, disse o procurador-geral, destacando que a imunidade foi concedida “a pessoas ricas que moram aqui, em Nova York”. Janot disse que os delatores apresentaram “takezinhos de algumas gravações” com uma diferença em relação às outras colaborações: denunciavam um crime em curso.
A gravação apresentada por Joesley Batista sugeria que o presidente Michel Temer estava agindo para atrapalhar as investigações da Operação Lava jato. A Câmara dos Deputados decidirá se o processo segue enquanto Temer for presidente, após a Comissão de Constituição de Justiça da Casa rejeitar o relatório favorável à denúncia apresentada pela PGR.
“Em toda a negociação, esses sujeitos diziam à gente que não abriam mão de imunidade”, disse Janot ao justificar sua decisão. O procurador-geral ressaltou que os colaboradores denunciavam um presidente da República, um senador que tinha recebido 50 milhões de votos como candidato à Presidência [o tucano Aécio Neves] e “um colega meu recebendo dinheiro, infiltrado [o procurador eleitoral Ângelo Goulart Villela].”
Além disso, os colaboradores concordaram em participar de ações controladas, ainda sem a garantia do acordo, para conseguir mais provas. “Eles se grampearam com áudio e vídeo e foram efetuar pagamentos de propina a essas pessoas que cometeram crime.”
“A escolha de Sofia que eu tive de fazer foi: eu, que tenho o monopólio da investigação e sou o titular exclusivo da ação penal, aceito prosseguir no acordo ou vou ter de fechar os olhos para crimes que estavam sendo praticados. Aí, eu sopesei os dois interesses e a concessão da imunidade”, disse o procurador-geral.
Janot foi o oitavo convidado de uma série de palestras do Brazil Institute sobre as investigações que agitam a política brasileira desde 2014. Entre os palestrantes já estiveram o juiz Sérgio Moro e o ex-relator da operação no Supremo Tribunal Federal Teori Zavascki, morto em acidente de avião no ano passado. Na quarta-feira, é a vez do ministro da Justiça, Torquato Jardim. (Folhapress)