Psicólogo explica quais as doenças mais recorrentes e como ter mais qualidade de vida para evitá-las.
O primeiro mês do ano trouxe consigo um convite muito importante, o de levar as pessoas a refletirem sobre suas vidas, emoções, pensamentos e sobre si mesmas. Você se conhece? Essa é uma das perguntas centrais que circundam a Campanha Janeiro Branco, criada para proporcionar semanas dedicadas à saúde mental e mostrar que os seres humanos são dotados de conteúdos psicológicos e subjetivos e que constroem suas vidas em torno de questões mentais, existenciais, sentimentais, emocionais, relacionais e comportamentais.
Idealizado por Leonardo Abrahão, a campanha é realizada desde 2014, o mesmo ano em que a Organização Mundial de Saúde (OMS) lançou o Plano de Ação Compreensivo para a Saúde Mental, para o período 2013-2020. A OMS alertava que uma a cada quatro pessoas no planeta possui algum problema de saúde mental e que em 2030 estas serão as principais doenças no mundo. Além disso, a organização também chamava a atenção para a segunda principal causa de morte no mundo: o suicídio.
Para entender melhor ao que se propõe a Campanha Janeiro Branco, conversamos com o professor e coordenador da pós-graduação em Logoterapia & Análise Existencial do IPOG, Sam Cyrous. Ele explica que a iniciativa surge com o propósito de estimular a criação de uma “cultura da saúde mental”, que compreenda a existência do corpo e de uma mente que necessitam de cuidados e atenção.
“Para isso, precisamos fortalecer de forma efetiva as instituições de governo no tocante a este tema, ajudar as comunidades a compreenderem e implementarem serviços e estratégias de promoção e prevenção de saúde mental e, sobretudo, ajudar cada ser humano a se fortalecer nessa caminhada rica em stress, desafios, dificuldades – para assim poder, com tratamentos bio-psico-sócio-noéticos, seguir a sua vida da forma mais saudável e equilibrada possível”, diz.
Ações principais
Com o grande acesso à internet e às redes sociais, é possível encontrar muitas informações sobre a campanha e suas ações pelo Brasil. Existem sites voltados à temática da psicologia que exploram o tema e seus desdobramentos. Em todo o país, em mais de duas dezenas de cidades, milhares de profissionais de saúde e de assistência social organizam ações como palestras, artigos e sessões de esclarecimentos em hospitais, escolas, organizações laborais ou religiosas.
Além disso, muitas atividades também são realizadas em espaços abertos e públicos como praças e parques, de forma que o público se conscientize sobre a importância dos cuidados com a saúde mental pessoal e também coletiva.
Quais são as doenças mais recorrentes?
Segundo informações divulgadas pelo INSS em 2015, cerca de 4 bilhões de reais foram gastos com trabalhadores afastados de suas funções. Neste mesmo período, 220 mil trabalhadores receberam o diagnóstico de depressão; 80 mil pessoas afastaram-se do cargo por transtornos mentais e comportamentais e a estimativa da OMS é que até 2020, a depressão será uma das doenças que mais causarão afastamento das atividades laborais.
Impedimentos
Sam afirma que o Brasil é o recordista latino-americano em casos de depressão e o campeão mundial em relação à ansiedade, o problema é que uma grande maioria demora e até se recusa a procurar ajuda adequada. Isto porque ainda existe um estigma de que psicólogo e psiquiatra é para loucos. “Pergunto ao leitor, é vergonhoso procurar um ortopedista quando estamos com alguma dor óssea? Por que então a vergonha de se procurar um psicólogo quando percebemos que as nossas emoções estão ‘fora de controle’?”
Além disso, segundo Sam, existem também estigmas familiares que prejudicam a aceitação de algum problema. Nesse sentido, é comum ouvir “sempre foi assim”, “é o stress”, desculpas corriqueiras que buscam abafar o problema real, mesmo que inconscientemente. “Por fim, o impedimento mais triste de todos, a ignorância social que se dissemina no mundo: ‘sai da cama’ e ‘larga de frescura’ são duas frases que pacientes com depressão profunda ouvem muitas vezes, como se ela ou qualquer outro transtorno mental fosse uma escolha pessoal”, afirma Sam.
Como cuidar melhor da saúde mental e ter mais qualidade de vida?
Grande parcela da população enfrenta diariamente uma rotina rápida e estressante, com muitas atividades a serem cumpridas e pouco tempo para respirar fundo. Nesta sociedade fica fácil esquecer do corpo, a dimensão física que precisamos conhecer e aceitar. O professor Sam alerta para a importância de uma alimentação saudável, de uma ingestão adequada de água e da prática de exercícios físicos. Além disso, dormir bem e evitar álcool, cigarros e outros tipos de drogas são ações que colaboram para manter a relação entre corpo e mente equilibrada.
“Somos também seres sociais. Por isso, precisamos nos conectar a outras pessoas e nos preocupar com elas, ter uma vida de relacionamentos positivos”. Para Sam, é nessas relações que as pessoas podem encontrar espaços de confianças, nos quais seja possível falar dos sentimentos, pedir ajuda e desabafar. E não se trata apenas de procurar por um “ombro amigo”, mas também auxiliar aqueles que falam de suas dores a encontrar ajuda adequada.
Conviver com alguém que possui algum transtorno mental também não é uma tarefa fácil. Muitos não compreendem o que o amigo ou familiar passa e isso pode gerar alguns conflitos. Por isso, é importante saber lidar com a situação e ajudar a pessoa a viver melhor. Mas como fazer isso? Sam explica que a primeira coisa que se precisa saber é que todas as pessoas são diferentes, com ou sem saúde mental comprometida.
“Ao aceitarmos isso e termos pessoas próximas com esse comprometimento, precisamos ter o que chamo de firme paciência: sermos pacientes quando necessário e sermos firmes quando importa”. É certo que existirão situações mais difíceis de lidar e mais graves também, o que pode gerar maiores dificuldades e levar o próprio cuidador a necessitar de ajuda profissional para garantir uma plena saúde mental.
O papel da Psicoeducação
Pelo nome já é possível imaginar o que dá significado a este conceito. Sam explica que a Psicoeducação é a articulação entre elementos da psicologia e da educação com o propósito de facilitar a pacientes e cuidadores subsídios que permitam reconhecer e trabalhar elementos da respectiva saúde. “Mais do que isso, acreditamos que necessitamos de uma “LogoPsicoEducação, não apenas no aprendizado de instrumentos e técnicas para lidar com o sofrimento, mas a reflexão sobre esses processos”, informa.
Mas de que forma a LogoPsicoEducação auxiliaria nestes processos? Bom, segundo Sam, poderia contribuir, desde a trajetória escolar e por toda a vida, no sentido de as pessoas aprenderem a olhar e experimentar as condicionantes físicas, mentais e sociais e, além disso, a adotar uma atitude consciente perante cada uma.
A LogoPsicoEducação seria um processo que concilie a educação e a psicologia com o Logos, que pode ser entendia como “a capacidade de olhar para frente e, em toda e qualquer circunstância, ter a sabedoria de que precisamos nos compreender, nos relacionar com os outros, fazer o nosso melhor e viver o nosso melhor, apesar de tudo”.
Por tudo isso, busque se conhecer e conhecer aqueles que estão a sua volta. Invista em uma vida mais saudável e esteja atento aos sinais das pessoas que convivem com você. Mais do que oferecer ajuda é procurar profissionais capacitados. Não é vergonha alguma se enxergar com um ser complexo, de emoções, razões e comportamentos distintos e, acima de tudo, aceitar que é importante buscar apoio.
Quer conhecer mais sobre a Campanha Janeiro Branco? Não deixe de acessar os links disponíveis no texto. E se você deseja compreender um pouco mais sobre o que é a Logoterapia, sugerimos a leitura do artigo “Qual a importância de descobrir o sentido da vida?”