O governo italiano conta as horas, para o que acredita ser o ato final de um longo imbróglio diplomático, pela extradição de Cesare Battisti, que agora ganhou um novo protagonista: a Bolívia.
A captura do terrorista na boliviana Santa Cruz de la Sierra, após estar foragido do Brasil há quase um mês, foi exaltada pelo governo populista de direita, pela oposição e virou um dos assuntos do país neste domingo.
O temor expresso pelo governo italiano é que o caso, que se arrasta há mais de três décadas, tenha mais uma reviravolta –apesar dos sinais recebidos por Roma até agora irem em outra direção.
A possibilidade de que Battisti seja extraditado no curto prazo foi confirmada pelas autoridades do governo. O premiê Giuseppe Conte, em mensagem no Facebook, anunciou que um avião italiano aterrissa na tarde deste domingo na Bolívia. Ele e o presidente do país, Sérgio Mattarella, disseram esperar que a extradição seja confirmada o “mais rápido possível”.
A assessoria do Ministério do Interior, comandado por Matteo Salvini, líder do partido de extrema direita Liga e um dos homens fortes do governo, afirmou que, até o momento, o governo de esquerda de Evo Morales “mais ajudou do que atrapalhou”.
O temor da Itália era que a Bolívia determinasse a abertura de um processo de extradição de Battisti, o que retardaria o processo. Isso, até o momento, não aconteceu. O Ministério do Interior ressaltou a boa vontade das autoridades bolivianas, cuja polícia auxiliou agentes brasileiros e italianos na prisão do terrorista.
A outra hipótese, também aventada pela imprensa italiana, é que Battisti seja levado para o Brasil (onde há uma ordem de prisão contra ele) e de lá extraditado para a Itália. Esse, pelo menos, é o plano já anunciado por assessores do governo Bolsonaro.
Matteo Salvini louvou a captura de Battisti e exaltou o presidente Jair Bolsonaro em seus perfis nas redes sociais –aceno prontamente retribuído pelo presidente e por um de seus filhos, Eduardo Bolsonaro.
Usando um de seus bordões –”é finita la pacchia”, algo como a festa acabou–, o ministro italiano fez referência ainda ao fato de Battisti ser “mimado pela esquerda de meio mundo” e disse esperar que ele “termine seus dias na prisão”.
Para além dos acenos nas redes, Jair Bolsonaro e Salvini (eles se aproximaram em setembro, durante a campanha eleitoral, quando o italiano foi a primeira autoridade europeia a declarar apoio ao brasileiro) também se falaram em privado, mas a assessoria do Ministério do Interior disse que o desfecho caberá agora à diplomacia dos três países envolvidos.
Condenado na Itália à prisão perpétua por crimes de terrorismo ocorridos entre os anos 1970 e 80, quando o país europeu viveu os chamados “anos de chumbo” (período democrático em que o governo eleito enfrentou grupos armados de direita e esquerda), Cesare Battisti obteve refúgio no Brasil no governo Luiz Inácio Lula da Silva, em 2010.
Por decisão do Supremo Tribunal Federal naquele mesmo ano, caso a extradição de Battisti seja confirmada, ele deverá cumprir na Itália pena de no máximo 30 anos, seguindo o ordenamento jurídico brasileiro –ao contrário do país europeu, o Brasil não tem pena de prisão perpétua Cesare Battisti estava foragido do Brasil desde dezembro, quando sua prisão foi determinada por ordem do ministro Luiz Fux, do STF. Naquele mês, o então presidente Michel Temer autorizou a sua extradição. (LUCAS FERRAZ, ROMA, ITÁLIA (FOLHAPRESS)